Título: Mais um incêndio para apagar
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Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2012, Política, p. 7

Com o cacife de ter liderado o governo na Câmara durante o auge do mensalão, Chinaglia volta ao cargo para debelar uma nova crise

O deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) voltou agora a um cargo — líder do governo na Câmara — que já ocupou nos difíceis anos de 2005 a 2007, auge da crise do mensalão no governo do ex-presidente Lula. Embora mais amenos, os tempos também não são fáceis para quem exerce o cargo de líder.

Chinaglia assume a função às portas de uma nova rebelião da base aliada, desta vez no governo Dilma Rousseff. Entre um período e outro, foi presidente da Câmara, com o apoio do PMDB, mesma legenda com a qual volta e meia troca farpas, e lutou com afinco para indicar nomes para cargos de destaque. Voltou a mostrar influência ao articular a eleição do atual presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e a eleição do atual líder do PT na Casa, Jilmar Tatto (SP). Mas sua volta ao cargo de líder não foi unanimidade no Planalto. "Chinaglia é ambicioso e vaidoso, isso pode atrapalhar na tarefa de líder do governo", admitiu um interlocutor palaciano.

Chinaglia reúne, segundo admiradores e desafetos, duas características marcantes na política: é duro na hora da negociação e, não raras vezes, é acusado de truculência. Por outro lado, é conhecido por cumprir os acordos que fecha. Quebra o pau, estica a corda ao extremo, mas, uma vez encerrada a negociação, cumpre o acertado.

Médico, Chinaglia destacou-se como presidente do sindicato da categoria em São Paulo durante a ditadura militar. Na época, rivalizou com outro petista, Eduardo Jorge, hoje no PV. Embora tenha sobressaído nas discussões sobre saúde pública no partido, foi Eduardo Jorge quem herdou a marca de ter sido o político que implantou o SUS.

Quando é derrotado, Chinaglia também sabe dar o troco. Em 2004, acabara de deixar a liderança do PT na Câmara e disputou, sem sucesso, a pré-candidatura à presidência da Câmara. Foi atropelado por Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), mas confidenciou a um amigo que "faria de tudo para continuar em evidência". Vingou-se de Lula em 2007, quando fez o ex-presidente retirar o apoio incondicional à reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a presidência da Câmara e costurou, com o auxílio do então ministro da Justiça, Tarso Genro, um acordo político com o PMDB para que as duas legendas se revezassem no comando da Casa. Acordo que, agora, sonha que se dilua pelos corredores do Congresso.

Para ter mais facilidade de trânsito interno no partido, Chinaglia integra uma corrente pequena na legenda, o Movimento PT. É amigo de José Dirceu, mas não o segue de maneira cega. Dialoga bem com setores da Construindo um Novo Brasil, corrente majoritária no partido. E já foi muito próximo da senadora e ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.

Quando deixou a presidência da Câmara, lutou para ser ministro de Lula ou de Dilma. Por ser médico, queria o Ministério da Saúde, mas o convite nunca veio. "Ele é esquizofrênico e tem mania de perseguição, nunca vi nada igual", disse um dos seus vários desafetos. "Isso é inveja. Quero ver se quem falou isso foi, alguma vez, o primeiro aluno da classe", rebate Chinaglia.

Ao ver minguarem as chances de chegar ao ministério, candidatou-se novamente para disputar a pré-candidatura da presidência da Câmara, mas, quando viu que não teria votos suficientes para vencer, articulou o apoio a Marco Maia (PT-RS), frustrando os planos de Cândido Vaccarezza de presidir a Casa. Depois, nova articulação interna garantiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça para o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) e a eleição de Jilmar Tatto (PT-SP) para a liderança do PT.

No fim do ano passado, Chinaglia foi indicado pelo partido para ser o relator da Comissão Mista de Orçamento. Comprou a briga do Planalto e não deu reajuste para os servidores públicos federais nem para os do Judiciário. Celebrou a sanção do Orçamento pela presidente Dilma sem cortes. "Os jornais disseram que eu poderia causar problemas porque era "independente" demais. Dilma não fez uma restrição ao meu relatório. Tá bom para você?", provocou. O corintiano, dono de uma Belina 73 herdada do pai — que pretende deixar para o filho — voltou a ser líder do governo em mais um momento crítico para o Planalto. E terá que controlar não só os insatisfeitos com Dilma, como também os ressentidos que perderam espaço para ele. (Paulo de Tarso Lyra)

Os jornais disseram que eu poderia causar problemas porque era "independente" demais. Dilma não fez uma restrição ao meu relatório. Tá bom para você?"

Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara