O Estado de São Paulo, n. 45332, 28/11/2017. Política, p.A4

 

 

 

 

 

 

Por unidade, Alckmin aceita presidir o PSDB

Partido. Tasso e Perillo desistem de disputar comando da legenda e fortalecem nome de governador para o Planalto em 2018; gestão Temer vê brecha para uma aliança eleitoral

Por: Pedro Venceslau

 

Pedro Venceslau

 

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, aceitou ontem comandar o PSDB. O novo presidente da legenda será oficialmente definido na convenção nacional do partido, marcada para o próximo dia 9, em Brasília. O senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Goiás, Marconi Perillo, desistiram da disputa e, com o gesto, abriram caminho para Alckmin assumir a legenda, buscar a unificação da sigla e fortalecer seu nome como eventual candidato à Presidência da República em 2018.

“Ambos (Tasso e Perillo) disseram que abririam mão se eu tivesse disposição de participar do processo de escolha. Eu agradeci a generosidade e o desprendimento. Se meu nome puder unir o partido, como vigoroso instrumento de mudança para o Brasil, é o nosso dever”, disse Alckmin após jantar no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, com Tasso, Perillo e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A articulação para evitar uma disputa interna entre a ala dos “cabeças pretas” – representada por Tasso e crítica ao presidente Michel Temer – e a dos “cabeças brancas” – de Perillo, que defende o peemedebista – foi coordenada por FHC.

A movimentação pró-Alckmin busca uma solução para o impasse que quase levou o PSDB à implosão após o presidente licenciado, Aécio Neves (MG), destituir Tasso do comando interino da legenda e substituí-lo pelo ex-governador Alberto Goldman.

Diante da insistência dos jornalistas sobre se sua declaração significava a aceitação do cargo, o governador respondeu: “Topo”. “Se for esse o caminho para unir o partido, nosso nome está à disposição”, afirmou Alckmin. O governador foi questionado também sobre sua posição em relação ao desembarque do PSDB da gestão Temer. “Minha posição nunca mudou. Sempre achei que não devia ter entrado, mas a decisão majoritária na época foi outra”, afirmou.

Entre os tucanos uma aliança com o PMDB não está descartada, mas uma eventual defesa do governo na campanha é uma questão que ainda divide o partido. Apesar do posicionamento de Alckmin, o Palácio do Planalto, com o acordo que vai evitar um confronto pelo comando do PSDB, vê agora brecha para uma possível composição eleitoral no próximo ano .

Conforme mostrou o Estado no sábado, Temer articula uma frente de centro-direita para defender sua gestão e tentar isolar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A aliança seria formada pelo PMDB e mais seis partidos, incluindo o PSDB – mas Alckmin, à frente do partido, terá de se reaproximar do partido de Temer.

 

Realinhamento. No momento, porém, o PSDB busca um realinhamento interno. “Minha decisão foi uma maneira de pacificar o partido”, disse Tasso ontem, pouco antes do encontro nos Bandeirantes. Questionado sobre o espaço que o grupo de Aécio deve ter na composição da Executiva tucana, ele criticou a ala do senador mineiro. “Espero que alguns setores do partido não tenham participação nenhuma, porque foram os responsáveis pela falta de credibilidade do PSDB”, afirmou.

Perillo já havia indicado que aceitaria uma candidatura de consenso e bateu o martelo anteontem em um encontro com Alckmin. “Vou abrir mão para preservar a unidade do partido”, disse Perillo ao Estado. O governador goiano afirmou que “não vê problema” de a legenda defender o “legado de coisas que estão sendo bem feitas” no governo Temer.

Segundo dirigentes tucanos, uma das possibilidades é Perillo assumir a primeira-vice-presidência nacional e ter papel de destaque na montagem dos palanques estaduais do PSDB em 2018. Tasso negou ter interesse em participar da Executiva.

Mais cedo, o prefeito de São Paulo, João Doria, também disse que “Geraldo é um nome pacificador”. Questionado durante fórum promovido pela revista Veja sobre as eleições de 2018, disse que “tem muita água pela frente ainda”. “Quem tem de dizer é a população (sobre uma eventual candidatura sua ao Planalto), o eleitor é quem decidirá se um candidato pode disputar”, afirmou. “O Brasil precisa de uma candidatura de centro.”

Assim como ocorreu com Aécio em 2014, Alckmin poderá disputar o Planalto em 2018 na condição de presidente do partido./ COLABORARAM EDUARDO LAGUNA, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS e ADRIANA FERRAZ

 

 

 

 

 

Tucano dá passos importantes para unificar o Centro

Por: Vera Magalhães

 

ANÁLISE: Vera Magalhães

 

No domingo, escrevi que a desarticulação do PSDB, aliada à busca de parte do eleitorado por um “novo” difuso, eram fatores que jogavam a favor da pulverização eleitoral em 2018 e dificultavam que um tucano, no caso Geraldo Alckmin, de novo polarizasse com o PT a disputa pelo voto.

Ontem, dois movimentos da política acabaram por reordenar o tabuleiro a favor do governador de São Paulo. Um deles, a renúncia dos dois pré-candidatos ao comando do PSDB em seu favor, teve sua participação direta, na articulação. O outro, o anúncio de Luciano Huck de que não disputará as eleições, decorreu da análise do cenário por parte do apresentador de TV e do balanço de perdas e danos que teria ao se lançar no mar bastante turvo da política.

Tirados do caminho os dois candidatos mais evidentes a encarnar essa “novidade” presente no imaginário do eleitorado – Huck e o prefeito de São Paulo, João Doria – fica mais fácil para o paulista pavimentar o caminho para uma aliança ampla que inclua, além do PSDB, PMDB, DEM, PSD, PPS e os partidos do Centrão.

O próximo passo para isso será Alckmin, depois de assumir o comando do PSDB, conduzir o partido para um desembarque ordenado do governo Michel Temer. O partido esteve, ainda que em constante motim, no barco de Temer nos momentos de mar revolto das duas denúncias de Rodrigo Janot. Decide (decide?) sair agora que o presidente se segurou no cargo e a economia começa a dar sinais mais consistentes de recuperação.

Não vai colar o discurso de intolerância ética ao PMDB, uma vez que foram parceiros até aqui. A redução de danos que Alckmin poderá fazer será arrancar das bancadas tucanas o compromisso (e não “firme recomendação”) de aprovar a reforma da Previdência.

Isso dará aos tucanos, depois de muito tempo, um discurso programático claro. E fará com que Alckmin tenha musculatura para pleitear o apoio do PMDB, que já vinha falando em buscar um candidato para defender o “legado” de Temer – que, se hoje é o de uma impopularidade recorde, pode ser, na campanha, o de uma economia crescendo na casa de 2% e recuperação do emprego, o maior chamariz para as urnas.

O fato é que a reorganização do tabuleiro confere à pré-campanha um grau maior de previsibilidade e isola os dois polos que, justamente pelos erros de estratégia das legendas maiores, vinham se destacando nas pesquisas: Lula e Jair Bolsonaro.

 

 

 

 

 

DUAS PERGUNTAS PARA... - Carlos Melo

 

Carlos Melo, cientista político e professor do Insper

 

1. A desistência de Tasso Jereissati e Marconi Perillo da disputa pelo comando do PSDB será suficiente para a unidade do partido?

Não. Temos de discutir a natureza da divisão no PSDB. O que acontece no PSDB é um racha entre o centro democrático e o centro fisiológico, esse último afetado pelas investigações da Lava Jato. Como Geraldo Alckmin fará para superar essa divergência e conflito no PSDB? Divergência que é profunda e de concepção política. Será que só um projeto de poder será capaz de superar isso? Não sei.

 

2.Com Alckmin à frente do partido, o PSDB vai desembarcar definitivamente do governo Michel Temer?

A base do partido, mais do que suas lideranças, tende a exigir essa ruptura. A questão é: não dá para ter o apoio da máquina do PMDB sendo crítico ao PMDB. A conta não fecha. A polarização da eleição será entre quem adere ao sistema e os críticos ao sistema. Se Alckmin se deixar associar ao governo, por causa do poder da máquina do PMDB ou por uma percepção de melhoria econômica, poderá pagar o preço dessa contaminação.