O Estado de São Paulo, n. 45332, 28/11/2017. Política, p.A6

 

 

 

 

 

Alckmin por W.O.

Eliane Cantanhêde

O governador Geraldo Alckmin ganhou dois presentes ontem para a sua corrida para a Presidência da República. Primeiro, Luciano Huck fingiu que ia, mas não foi. Depois, os tucanos Tasso Jereissati e Marconi Perillo abriram mão da presidência do PSDB para ele. Sem João Doria, sem Huck e com o partido na mão, o caminho de Alckmin para 2018 fica bem mais fácil.

Agora, falta combinar com outro tipo de adversário: os eleitores. Alckmin tem deixado clara desde o início a intenção de concorrer e tem trunfos nada desprezíveis: o recall de 2006, o governo do principal Estado, o fato de São Paulo ter sobrevivido à crise um tanto melhor do que os outros e uma preferência no PSDB que Doria nunca chegou a de fato ameaçar. Mas, apesar de todas essas vitrines, ele não deslancha nas pesquisas. Equivale a dizer que não convence?

Afoito, audacioso, Doria chegou a ultrapassar os índices de Alckmin ao se apresentar como “o novo” e sair viajando pelo País, mas foi com muita sede ao pote. Acabou perdendo fôlego e ressaltando qualidades do governador e padrinho, como a prudência.

 

Como mostrou claramente a pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos, Doria murchou, mas a ansiedade da sociedade pelo “novo” continuou e Huck ocupou o espaço. Não se tratava de pesquisa de intenção de votos, mas de aprovação e desaprovação, e Huck disparou depois de dar claros sinais de ter sido mordido pela mosca azul. Suas conversas políticas, sua opção pelo PPS, sua adesão a movimentos como o Agora! e o RenovaBR, tudo isso animou não apenas agentes políticos, mas a opinião pública.

Nessa fase, valiam o “se colar, colou” e o “falem mal, mas falem de mim”. Muitos falaram mal e Huck não resistiu à pressão – ou à tensão. Quando escrevi que sua eventual candidatura estava deixando de ser brincadeira e virando coisa séria, não negou, mas ressalvou que “não estava na hora de assoprar a brasa”. E quando o PPS parecia criar um fato consumado, avisou: “De fato, tenho me mexido para entender o tamanho da encrenca, mas daí a mudar os rumos da minha vida vai uma boa distância”.

Ao saber da pesquisa Estadão-Ipsos, Huck deixou uma fresta: “Tenho responsabilidade, não vou ficar impassível diante do retrocesso, dos dois extremos (Lula e Bolsonaro)”. Mas, no mesmo dia, começou a redigir o artigo que acabou divulgando ontem e que termina com uma outra disposição de luta: “Contem comigo, mas não como candidato a presidente”.

Pesaram na decisão o fator família, o fator salário e o fator zona de conforto. Celebridades são retratadas pela mídia alegres e felizes. Políticos têm suas vidas devassadas. Convenhamos, não é, ou não seria, uma troca atrativa.

É assim que o roteiro da eleição de 1989 vai se reproduzindo na de 2018. Uma foi a primeira eleição direta após um longo e tenebroso inverno. Deu em Collor. A outra está refletindo a descrença com a política tradicional e a busca por novas formas e novos nomes. Mas o risco é dar justamente numa das principais estrelas da Lava Jato ou num novo aventureiro.

Listam-se Marina e Ciro, ora Joaquim Barbosa, ora Doria, ora Huck, mas, assim como em 1989, as pesquisas vão cristalizando Lula, uma candidatura incerta e não sabida, e Bolsonaro, que enfrenta fortes e mais do que compreensíveis resistências. Alckmin pode não ser um salvador da Pátria, mas vai se consolidando menos pelas qualidades, mais pelos defeitos e ameaças dos rivais.

 

Outra visão. Sem querer responder à ministra Cármen Lúcia, mas já respondendo, o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto tomou partido contra a decisão das medidas cautelares para parlamentares: “A separação entre os Poderes precede a harmonia, que é justamente resultado da separação”.

 

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Planalto vê chance de aliança com tucano

Movimento para levar Alckmin à presidência do PSDB teve apoio de governistas; gestão Temer espera que governador não ‘queime pontes’

Por: Vera Rosa / Tânia Monteiro

 

 

Vera Rosa

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

 

O movimento para fazer o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ser eleito presidente do PSDB por aclamação, no congresso do próximo dia 9, recebeu a ajuda da ala governista do partido e indica uma brecha para possível composição eleitoral em 2018. Na avaliação do Palácio do Planalto, Alckmin vai precisar do apoio do PMDB para tentar “levantar” sua candidatura à Presidência e não poderá exigir o desembarque imediato dos tucanos.

Em conversas reservadas, auxiliares do presidente Michel Temer diziam ontem duvidar que o governador queira “queimar pontes” com o Planalto. Na semana passada, Alckmin participou do almoço de governadores com Temer, no Alvorada, e defendeu a reforma da Previdência, sob o argumento de que a mudança, de difícil aprovação, ajudará na criação de empregos.

Até agora, Alckmin vinha pregando a saída do PSDB da equipe de Temer. Além disso, lavou as mãos e não pediu votos para ele na bancada, quando o plenário da Câmara analisou – e acabou derrubando – as duas denúncias criminais apresentadas pelo exprocurador-geral Rodrigo Janot.

A falta de respaldo do governador, na ocasião, causou perplexidade no Planalto. Nos bastidores, porém, o núcleo político do governo avalia que o tucano é um homem “de diálogo” e pode fazer “um gesto” de reaproximação com Temer, para não ficar isolado em 2018. O presidente tenta reunificar a base aliada para construir uma frente de “centro-direita” na disputa, mas não esconde a mágoa com Alckmin.

O governo trabalhava contra a eleição do senador Tasso Jereissati (CE) para o comando do PSDB porque ele sempre defendeu o rompimento do partido com o Executivo. Para interlocutores de Temer, Tasso queria que o PSDB saísse “atirando” porque preparava sua própria candidatura presidencial e buscava um contraponto.

Em sintonia com o senador Aécio Neves (MG), alvo da Lava Jato, o Planalto apoiava o governador Marconi Perillo (GO) para a direção do PSDB. Tudo mudou quando Temer percebeu que Perillo – defensor da permanência dos tucanos no primeiro escalão – não unificaria o partido.

 

Argumento. A operação política para convencer Alckmin a aceitar a empreitada foi capitaneada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e acompanhada pela ala governista do PSDB. O argumento foi o de que ou ele encarava o desafio ou o racha tucano tornaria o partido coadjuvante na disputa de 2018. “A casa dividida contra si mesmo será destruída”, dizia o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, citando um versículo de Mateus.

Nesse cenário, o desembarque do PSDB está, agora, em banho-maria. Dos quatro ministros da sigla, só Bruno Araújo – que ocupava a pasta das Cidades – entregou o cargo. Foi substituído por Alexandre Baldy, indicado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no ajuste feito por Temer para angariar votos no Congresso a favor da reforma da Previdência.

Aloysio atua como uma espécie de articulador político e não deixará a equipe. O destino do ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, ainda é incerto. Depois da “trapalhada” da semana passada, quando o Planalto chegou a confirmar no Twitter a nomeação do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) para a cadeira de Imbassahy, e em seguida voltou atrás, não se sabe por quanto tempo ele permanecerá no posto. Luislinda Valois (Direitos Humanos), no entanto, deve sair em breve.

 

Em Brasília. Michel Temer chega ao Palácio do Jaburu, vindo de São Paulo, onde passou por procedimento cirúrgico

 

Divisão

“A casa dividida contra si mesmo será destruída.”

Aloysio Nunes Ferreira

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

 

PONTOS-CHAVE

Os impasses do PSDB com o governo Temer

Gravação

Em maio, é divulgada gravação em que o senador Aécio Neves pede R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS. O tucano se licencia da presidência do partido.

 

Prazo

Após idas e vindas sobre o desembarque, líderes do PSDB indicam que o partido deve deixar a gestão Temer após convenção nacional, em dezembro.

 

Favorável

O senador Tasso Jereissati foi um dos tucanos que mais se posicionaram a favor do desembarque do partido do governo – posição contrária à de Aécio.

 

 

 

 

 

Parente descarta deixar governo por causa do PSDB

Por: Carla Araújo / Idiana Tomazelli

 

O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, afirmou ontem, após reunião com o presidente Michel Temer, que não vê a necessidade de considerar sua permanência ou saída do comando da estatal caso o PSDB decida deixar o governo.

“Uma característica da minha carreira é que nunca me vinculei a nenhum partido. Tenho uma visão da maneira de governar o País muito próxima da social-democracia, mas nunca tive vinculação partidária”, disse Parente, que negou que seu nome tenha sido indicado pelo partido.

O presidente da Petrobrás disse também que Temer está muito bem disposto, após o presidente ter sido submetido a uma angioplastia em três artérias coronárias com implante de stent – uma prótese para desobstruir vasos sanguíneos. “Ele está bem, normal, trabalhando, como eu o vi na semana passada”, afirmou Parente.

Temer recebeu alta ontem pela manhã em São Paulo e à tarde chegou a Brasília. /CARLA ARAÚJO e IDIANA TOMAZELLI