O globo, n. 30763, 28/10/2017. PAÍS, p.7

Bretas cita Jesus e mantém transferência de Cabral

 JULIANA CASTRO

 

 

Juiz da Lava-Jato no Rio usa trecho da Bíblia sobre perdão e diz que decisão não é baseada em questões pessoais

O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, manteve ontem a ordem de transferir o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para um presídio federal. O advogado Rodrigo Roca, que defende Cabral, havia ajuizado um pedido para o juiz reconsiderar a decisão.

Bretas citou trecho da Bíblia: “Não obstante as considerações anteriores, considerando que o peticionário externa pedidos de escusas, e para que não paire nenhuma dúvida sobre o ânimo deste magistrado quanto às demais observações, esclareço que adoto como princípio de conduta o Princípio Cristão enunciado no Livro de Mateus, capítulo 18 versículos 21 e 22, que rezam: ‘... Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete’”.

Também ontem, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou a liminar apresentada pela defesa de Cabral e também manteve a transferência do exgovernador para o presídio federal de Campo Grande (MS). A decisão é da ministra Maria Thereza de Assis Moura. Ainda não há data determinada para que a mudança aconteça.

BIJUTERIAS

As duas negativas, de Bretas e do STJ, acontecem porque a defesa de Cabral ingressou com habeas corpus no tribunal superior com o pedido liminar de suspensão da transferência. Os advogados do ex-governador voltaram ao juiz da LavaJato no Rio pedindo desculpas.

Bretas não mudou de ideia: “Aproveito para reafirmar que a determinação de transferência não foi respaldada em questões pessoais, e sim em circunstâncias fáticas anteriormente expostas, todas no interesse das investigações criminais em curso, tanto que confirmadas pela instância superior”.

A saída de Cabral da penitenciária em Benfica para um presídio federal foi determinada por Bretas na segunda-feira depois de depoimento no qual Cabral citou a loja de bijuterias da família do juiz. Na quartafeira, a decisão foi ratificada pelo desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região.