O Estado de São Paulo, n. 45332, 28/11/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

Bolsonaro diz que nomearia Paulo Guedes para a Fazenda

Deputado afirma que está de ‘namoro’ com economista, fundador do Banco Pactual, e que pediu a ele um ‘milagre’

Por: José Fucs

 

José Fucs

 

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República, disse ontem que, se eleito, vai convidar o economista Paulo Guedes, sócio da BR Investimentos e fundador do Banco Pactual, para comandar o Ministério da Fazenda. Os dois já tiveram duas conversas que duraram ao todo oito horas. Segundo Bolsonaro, o estágio da aproximação é de “namoro”.

“A ordem se encontrou com o progresso”, disse Guedes ao Estado, em referência à preocupação do deputado federal com a segurança pública e à sua própria filosofia pró-mercado para a economia.

Com a aproximação, a guinada liberal ensaiada por Bolsonaro – cuja trajetória política até agora foi marcada pelo nacional-desenvolvimentismo e a defesa de uma forte presença do Estado na economia – deixa de ser apenas um discurso e ganha mais consistência.

 

‘Milagre’. O economista confirmou a informação do deputado de que ele poderá ser ministro da Fazenda caso Bolsonaro vença a eleição presidencial de 2018. “O que o Bolsonaro informou é verdade. Conversamos duas vezes”, disse Guedes.

O deputado afirmou, durante fórum promovido pela revista Veja, que recomendou um “milagre” ao economista – que consiste em manter o tripé econômico, aumentar a arrecadação sem subir impostos, implementar uma reforma da Previdência que não penalize os militares e desburocratizar a economia.

“Ele disse que é possível”, afirmou Bolsonaro. “Eu comprei os ingredientes e quem vai fazer o bolo seria Paulo Guedes”, completou.

Segundo o deputado, foi dele a iniciativa de ir atrás de Guedes. “Fizemos um levantamento de com quem a gente poderia conversar e aceitasse conversar comigo porque tem gente que não aceita. Pedi para ele um milagre, estamos namorando. Estamos apenas mão na mão”, disse Bolsonaro.

O presidenciável recentemente foi alvo de controvérsia ao admitir em uma entrevista que não entende de economia.

 

Perfil. Conhecido por ser um defensor aguerrido do livre mercado, Guedes obteve o doutorado em economia na Universidade de Chicago, templo do pensamento liberal nos Estados Unidos, e foi o responsável pela elaboração do programa de governo do empresário Guilherme Afif Domingos, candidato à Presidência pelo Partido Liberal (PL), nas eleições de 1989.

“O Brasil é o paraíso dos rentistas e dos empresários escolhidos e o inferno dos trabalhadores, dos empreendedores e dos empresários que acreditam numa economia de mercado”, afirmou, em entrevista exclusiva ao Estado, no ano passado. “É uma associação entre criaturas do pântano político e de piratas privados.”

Presidente do Conselho de Administração da Bozano Investimentos, ligada ao empresário Júlio Bozano, ele foi um dos fundadores do Banco Pactual (hoje BTG Pactual) no início dos anos 1980.

Foi também o controlador do Ibmec, pioneiro na oferta de cursos de MBA em finanças no Brasil, com atuação no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. No início dos anos 2000, o financista Cláudio Haddad, ex-diretor executivo do Banco Garantia, fundado pelo empresário Jorge Paulo Lemann e comprado pelo Credit Suisse em 1998, tornou-se o controlador do Ibmec de São Paulo, posteriormente rebatizado de Insper.

 

‘Caneladas’. Durante o fórum, Bolsonaro tentou arrefecer o discurso agressivo e falou várias vezes em “caneladas” que teria dado no passado – “questões de momento”, segundo ele. / COLABORARAM A.F., R.G. e DOUGLAS GRAVAS

 

Diálogo

“A ordem se encontrou com o progresso.”

 

“O que o Bolsonaro informou é verdade. Conversamos duas vezes.”

Paulo Guedes

ECONOMISTA