MANOEL VENTURA
DAIANE COSTA
Após a polêmica sobre as regras de fiscalização, o Ministério do Trabalho divulgou ontem, por determinação da Justiça, a lista suja do trabalho escravo, com 131 empregadores. O Ministério do Trabalho divulgou ontem a lista suja do trabalho escravo, relação de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão. O documento foi divulgado no mesmo dia em que duas denúncias desse crime vieram à tona. Em São Paulo, a polícia resgatou um grupo de peruanos que trabalhava em condições de escravidão em uma confecção. E a fabricante alemã de balas de gelatina Haribo anunciou que vai investigar as condições de trabalho em lavouras de seu fornecedor de carnaúba, localizadas no Nordeste brasileiro, após um documentário da rede de TV alemã WDR denunciar a existência de condições análogas à escravidão.
A lista do Ministério do Trabalho divulgada ontem tem 131 empregadores e está disponível no site da pasta. Nesta semana, uma decisão da Justiça do Trabalho do Distrito Federal, que havia determinado a publicação da relação, transitou em julgado, não cabendo mais recursos. A lista atualizada não era publicada pelo governo desde março.
JORNADA DAS 3H ÀS 22H
Este mês, o governo baixou uma portaria que muda os critérios para caracterizra o trabalho análogo à escravidão, além de dificultar a fiscalização. A portaria também definiu que a inclusão de empresas na lista suja só seria divulgada após autorização do ministro do Trabalho. Após forte reação, as medidas foram suspensas por liminar do Supremo Tribunal Federal.
Em São Paulo, as irregularidades na confecção em São Paulo foram denunciadas por um dos homens que trabalhava no local. O grupo atuava na confecção de bolsas e mochilas. A jornada dos trabalhadores começava às 3h da madrugada e se estendia até as 22h.
A denúncia levou a polícia a um apartamento, na região central de São Paulo. Entre os trabalhadores encontrados no apartamento, cujos donos também são peruanos, havia também uma mulher grávida. De acordo com reportagem da Rede Globo, reproduzida no portal G1, a polícia ainda realizará perícia no local para colher mais detalhes sobre as condições de trabalho.
O caso envolvendo a produção das balas de gelatina em formato de ursinho da Haribo veio à tona a partir de documentário de 44 minutos exibido pela emissora alemã WDR.
A cera da carnaúba palmeira é usada para dar brilho a essas balas e impedi-las de grudarem umas nas outras. Desde o ano passado, quando a Haribo abriu uma fábrica em Bauru (SP), as balas deixaram de ser importadas. É a primeira unidade da marca fora da Europa.
ÁGUA DO RIO PARA BEBER
Segundo o documentário, nas fazendas de onde se extrai a cera de carnaúba, os trabalhadores não têm salário fixo e recebem até R$ 40 por dia para cortar as folhas, com longas e pesadas foices, sob sol escaldante e sem roupas adequadas. A planta tem espinhos cortantes, que podem feri-los. Em muitos casos, eles são forçados a dormir ao relento ou em contêineres, sem banheiros e bebem água de rio sem filtrar. Alguns são menores de idade.
Juliana Furini, gerente de Produto e Marketing da Haribo Brasil, disse que exige de todos os fornecedores certificados de programas éticos mas que, mesmo assim, está investigando se as lavouras do documentário têm relação com a empresa:
— Tomamos conhecimento desses problemas por meio do filme. Se comprovado que são nossos fornecedores, vamos agir. Na Haribo não se discutem os valores éticos e sociais. Essa é a nossa maior crença.
O auditor fiscal do trabalho lotado no Ceará, Sérgio Carvalho, foi um dos entrevistados no documentário. Segundo ele, a equipe esteve em fazendas no Piauí e Ceará. Neste último, desde 2013, o Ministério do Trabalho já resgatou 167 pessoas que trabalhavam em condições de escravidão em plantações de carnaúba:
— Existe grave descumprimento das normas trabalhistas, e essas irregularidades são graves e podem ser consideradas trabalho análogo à escravidão.