O Estado de São Paulo, n. 45329, 25/11/2017. Política, p.A6

 

 

 

 

 

Corra, Alckmin , corra

A situação do PSDB hoje é tão confusa, e a divisão é tão grande, que não é possível afirmar que o governador Geraldo Alckmin se tornará um candidato competitivo na eleição presidencial. Também não dá para anunciar um desastre semelhante ao de Ulysses Guimarães, que em 1989 amargou o sétimo lugar e apenas 4,73% dos votos, mesmo sendo o político mais conhecido do País, tanto pela presidência da Assembleia Constituinte, encerrada um ano antes da eleição, quanto pela luta contra a ditadura.

Alckmin tem muitos votos em São Paulo e isso conta. Mas seu partido não ajuda. Hoje, por todas as aferições já feitas, a situação do PSDB é ruim em Minas Gerais, o segundo colégio eleitoral do País. E pode piorar por causa do escândalo da conversa entre o senador Aécio Neves e o empresário Joesley Batista. Em boa parte dos Estados de grande densidade eleitoral a situação dos tucanos também não é boa, a exemplo de Bahia, Ceará, Goiás, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco.

Um sinal de que a confiança numa vitória de Alckmin está abalada pode ser extraído de um levantamento feito pela XP Investimentos com 211 investidores institucionais que representam mais de 50% dos recursos sobre gestão no Brasil. Na consulta feita entre os dias 21 e 23, divulgada ontem, 46% dos investidores disseram acreditar que Alckmin será o próximo presidente. Se a confiança do investidor fosse grande, no mínimo o índice de aposta em Alckmin teria de ultrapassar os 50%, porque aqui se trata de uma torcida a favor de alguém que o mercado considera benéfico para o setor. O ex-presidente Lula, por exemplo, apareceu com 2% das indicações, embora todo mundo saiba que ele está na frente em todas as pesquisas sobre a sucessão presidencial. O mercado, é sabido de todos, não quer Lula de jeito nenhum na Presidência de novo. Nesse caso, a torcida foi contra.

Falta pouco menos de um ano para a eleição. Ainda dá tempo de Alckmin trabalhar para reverter o quadro hoje complicado para ele. Principalmente depois que o nome do apresentador Luciano Huck apareceu com o maior índice de aprovação entre as personalidades do País, com 60%, em pesquisa do Barômetro Político Estadão-Ipsos. Na consulta da XP com os investidores, Huck ficou em segundo lugar, com 19%.

Na situação em que se encontra, a primeira atitude de Alckmin deveria ser a costura de um acordo com o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Goiás, Marconi Perillo, para que abram mão da disputa pela presidência do PSDB em seu favor. Alckmin é o único que tem condição de unificar o partido, pois as duas alas já deixaram claro que vão apoiá-lo. Caso o quadro não mude, nem Jereissati nem Perillo vão conseguir acabar com a divisão. E ela, por certo, terá reflexos na candidatura presidencial. Portanto, mesmo que não queira, como tem dito, Alckmin não terá outra alternativa a não ser se tornar presidente da legenda. Até porque, no cargo de presidente, pode circular pelo Brasil sem ser acusado de estar fazendo campanha antecipada. E caberá a ele mesmo negociar apoios à sua candidatura. Deixar essa função para outros, com o PSDB desgastado, com seus ministros praticamente escorraçados do governo pelo PMDB e pelos partidos do Centrão, é um risco sem fim.

As brigas internas do PSDB na proximidade das eleições e o rompimento de parte do partido com o governo de Temer serviram de deixa para que o PMDB e o PT se reaproximassem, principalmente no Nordeste e no Norte. O DEM e alguns partidos do Centrão caminham na direção do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Até mesmo o PSB, com o qual Alckmin contava, não é mais uma parceria certa.

O governador Geraldo Alckmin está meio que como aquele filme alemão cujo título é Corra, Lola, corra.

 

 

 

 

 

Candidaturas de ‘outsiders’ ficam sob suspense

Nomes considerados com maior potencial eleitoral na disputa do ano que vem, Joaquim Barbosa e Luciano Huck vivem impasses

 

Pedro Venceslau

Ricardo Galhardo

 

Enquanto os partidos tradicionais avançam nas articulações eleitorais para 2018, os presidenciáveis de fora do mundo político mantêm o suspense sobre suas pretensões. Impasses marcam as eventuais candidaturas do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e do apresentador Luciano Huck, considerados os “outsiders” com maior potencial na disputa do ano que vem.

Sondado pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, para a disputa pelo Palácio do Planalto, Barbosa ainda não tem o apoio garantido da legenda caso decida entrar no pleito.

Já Huck tem as portas do PPS abertas, mas enfrenta o dilema de abandonar a carreira de sucesso na TV para entrar na política. Ele não recebeu, pelo menos até agora, garantias da TV Globo de que poderá voltar à emissora em caso de derrota nas urnas . O apresentador, em suas manifestações públicas, costuma afirmar que, “no momento”, não é candidato.

As movimentações políticas de Huck são feitas em conjunto com o grupo Agora!.

“Não sei nada de novo”, disse ao Estado o presidente do PPS, Roberto Freire. “Há muita especulação sobre a decisão dele. Não quero pressioná-lo. Ele tem consciência de que, se decidir participar, sua vida vai mudar muito”, disse o dirigente.

No caso de Barbosa o obstáculo é mais complexo. As conversas com o ex-ministro do Supremo geraram reações na ala do PSB que defende o apoio ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) na campanha presidencial do ano que vem.

“O ministro Joaquim é um nome famoso e respeitado. Seria uma honra recebê-lo no partido, mas dizer que a vaga dele é precoce”, disse o vice-governador de São Paulo, Márcio França, que integra a Executiva Nacional do PSB. “Se ele vier e quiser ser candidato, outras pessoas terão a mesma pretensão. Aldo Rebelo é um deles.” O vice-governador paulista destaca que não há no PSB uma tradição de realizar prévias.

O prazo final para a decisão sobre candidatura presidencial, portanto, será março, quando será realizado o congresso nacional da legenda. A expectativa é reunir 600 delegados no evento. Se não houver consenso, o ex-presidente do Supremo teria de se submeter a uma disputa interna acirrada.

Barbosa já admitiu que recebeu “sondagens” e manteve conversas com a Rede – da exministra do Meio Ambiente Marina Silva – e com o PSB, mas se diz “hesitante ainda” em decidir sobre uma eventual candidatura. O PSB seria a melhor opção porque o ex-ministro considera que o partido não tem dono. Ele costuma ser um crítico do que chama de “caciquia” das legendas.

O maior entusiasta da opção Barbosa no PSB é Siqueira. “A eleição de 2018 está mais para um outsider”, disse o presidente do partido.

O dirigente reconhece, porém, que ainda não há consenso em torno do nome do ex-ministro. “Nenhuma candidatura está garantida. Não podemos tomar essa decisão por hipótese. Não há preferência ou veto prévio.”

Procurado, o ex-ministro Aldo Rebelo não quis comentar o assunto, mas seus aliados também consideram “precoce” falar agora em lançar Barbosa.

 

Esquerda. O PSOL também precisa superar dificuldades para viabilizar a filiação e posterior candidatura do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, o principal “outsider” da esquerda nas sondagens para a disputa eleitoral de 2018.

Boulos tem argumentado que precisa avaliar a conveniência da candidatura para o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, do qual é coordenador. O MTST negocia programas de moradia com administrações municipais e estaduais de diversos partidos e existe o temor de que uma candidatura atrapalhe o objetivo principal do movimento.

A opção pelo novo na disputa eleitoral, porém, é admitida pelos principais líderes políticos do País. Questionado sobre eventual candidatura de Huck à Presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que é “muito bom” que pessoas de fora dos partidos queiram participar “mais ativamente” da política.

Para ele, a presença de Huck não “desidrataria” a candidatura do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). /COLABORARAM J.F. e GILBERTO AMENDOLA

 

 

 

 

 

 

 

Outros nomes podem surgir, avalia empresário

Por: José Fucs

O empresário Eduardo Mufarej, idealizador do movimento RenovaBR, que apoia a formação de novas lideranças políticas, afirmou ontem que, se o apresentador Luciano Huck não confirmar a sua candidatura à Presidência em 2018, outros nomes poderão ocupar o mesmo espaço.

“Hoje, a sociedade está pedindo um candidato de fora da política, porque existe uma fadiga com a política tradicional e o Luciano é um personagem nacional, conhecido em todos os lugares, que tem uma empatia gigantesca com a população. Isso é que traz essa reação positiva em relação ao nome dele”, disse, em referência à pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos, divulgada anteontem, na qual o apresentador da TV Globo aparece com 60% de aprovação, a maior do levantamento. “Mas, se não for o Luciano, há outras pessoas, como o João Dionísio Amoêdo, pré-candidato do Novo, que teve a coragem e a disposição de criar um partido com o objetivo de renovar a política no País.”

Embora deseje ser candidato, Huck está reticente porque não deseja comprometer sua carreira na mídia caso não seja o vencedor no pleito. A TV Globo já teria definido que ele deve decidir se vai ou não concorrer até o fim de dezembro – e, em caso de resposta positiva, ele não poderia voltar a trabalhar na emissora.

“O Luciano é uma pessoa que sabe ouvir muito bem, aberta, moderna, com uma visão contemporânea do papel do Estado na sociedade, e acredito que ele ou outras pessoas que tenham uma visão análoga, dariam ao Brasil uma importante vantagem no novo ciclo que se inicia em 2018”, disse Mufarej. /  JOSÉ FUCS

 

 

 

 

 

 

 

Marina diz que decide ‘em breve’ sobre eleição

Por: Célia Bretas Tahan

 

Célia Bretas Tahan

ESPECIAL PARA O ESTADO / PALMAS

 

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), candidata à Presidência da República em 2010 e 2014, afirmou ontem, em Palmas, que ainda analisa se vale a pena disputar a eleição em 2018, sabendo que os prováveis concorrentes terão mais tempo, dinheiro e estrutura para a campanha. “Nosso tempo é de 12 segundos”, disse Marina, afirmando que decidirá “em breve” sobre o assunto.

Marina esteve em Palmas para participar do lançamento da candidatura ao governo do Tocantins do ex-juiz Márlon Reis, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, pela Rede.

Em coletiva, tanto Marina quanto Reis deixaram aberta a possibilidade de firmarem alianças com outros partidos, com a ressalva de que as composições não seriam “fisiológicas”. O exjuiz ressaltou que descarta qualquer acordo com envolvidos em casos de corrupção. “Mesmo porque seria incoerente.”

Ao comentar a pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos, que mostrou 60% de aprovação ao apresentador de TV Luciano Huck, Marina disse que haverá muitas mudanças até a definição final sobre quem será ou não candidato. “O mais importante é que não aconteça o mesmo que em 2014, quando quem ganhou foi a fraude, com dinheiro roubado da Petrobrás, Caixa Econômica e Banco do Brasil.”