Título: Filme escancara a crueldade da milícia
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2012, Mundo, p. 22

Na tentativa de chamar a atenção do mundo para o problema, a organização Invisible Children, baseada em São Diego, produziu um vídeo que virou febre na internet: foram 80 milhões de exibições no site YouTube em duas semanas. Em 30 minutos de uma produção benfeita, a organização escancara as atrocidades comedidas pelo exército de Joseph Kony contra crianças africanas. O filme, intitulado Kony 2012, pretende mobilizar a população global para apoiar a prisão do líder do Exército da Resistência do Senhor (LRA). A comoção chegou à Casa Branca, que agradeceu a Invisible Children pela iniciativa, e às Nações Unidas, que elogiaram a campanha.

"É um problema do qual muitas pessoas eram conscientes, mas agora muitas outras se inteiraram, o que é positivo", disse o porta-voz da ONU Martin Nesirky. Segundo informações do YouTube, boa parte dos espectadores eram adolescentes, com idades entre 13 e 17 anos, e homens entre 18 e 24 anos. Pelas redes sociais, essa plateia publicou comentários indignados, exigindo a prisão do líder do LRA. Paradoxalmente, no entanto, surgiu uma série de críticas à Invisible Children. A organização foi acusada de mau uso das doações, de estar se aproveitando da situação por motivos estratégicos (a descoberta de petróleo na região) e de resumir o problema a uma pessoa só.

Segundo frisaram os especialistas consultados pelo Correio, o LRA não se limita à figura de Kony. "Há muito foco no líder da guerrilha, mas, mesmo que ele seja pego, isso não vai resolver os problemas dos moradores das zonas afetadas", afirma Thierry Vircoulon, diretor do programa para a África Central no International Crisis Group. "É preciso desarmá-los, desmobilizá-los, e isso não vai ser feito sem uma boa cooperação entre as Nações Unidas e os países envolvidos", diz o analista. Recentemente, a União Africana anunciou uma missão para a região, com o envio do diplomata moçambicano Francisco Madeira. A ideia é que ele tente chegar a um acordo político sobre o tema.

Outra recomendação é a permanência das tropas norte-americanas por um período capaz de reduzir efetivamente as ações do LRA. Não há um prazo para que a operação chegue ao fim, mas os oficiais falaram em alguns meses — o que significa que a missão pode ser encerrada ainda antes das eleições presidenciais dos EUA, marcadas para novembro. "A comunidade internacional precisa se envolver com isso para garantir que o número de desertores (do movimento) aumente cada dia mais", assinala Ashley Benner, analista política do Enough Project. "Após o fim da influência do grupo, também haverá muito trabalho a ser feito, pois a região é carente de desenvolvimento", acrescenta. (CV)