O Estado de São Paulo, n. 45325, 21/11/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

Por aliados, Baldy promete mudar projeto

Ministro das Cidades deve rever ato de antecessor tucano e redistribuir unidades do Minha Casa Minha Vida para atender a PMDB e Centrão

Por: Igor Gadelha

 

Igor Gadelha / BRASÍLIA

 

Escolhido pelo presidente Michel Temer como novo ministro das Cidades, o deputado Alexandre Baldy (sem partido-GO) prometeu ao PMDB e a partidos do Centrão (PP, PR e PSD) revogar atos de seu antecessor na pasta, Bruno Araújo (PSDB-PE), após tomar posse, marcada para amanhã. O primeiro deve ser a portaria que autorizou a contratação de 54.089 novas unidades habitacionais pelo programa Minha Casa Minha Vida, principal vitrine da pasta.

Anunciada em 6 de novembro por Araújo, a contratação beneficia a faixa 1 do programa, que atende famílias mais pobres, com renda mensal de até R$ 1,8 mil. A portaria prevê que as unidades devem ser construídas em 260 municípios em 26 Estados brasileiros, com a expectativa de geração de 140 mil empregos diretos, segundo o ministério. O Acre foi a única unidade da Federação que ficou de fora.

Fiadores da indicação de Baldy, o PMDB e o Centrão pediram ao novo ministro para fazer uma nova distribuição “mais igualitária” das unidades que serão construídas. O argumento é de que os Estados mais beneficiados pela decisão de Araújo foram aqueles governados por tucanos ou por governadores de partidos da oposição ao governo Temer.

Segundo o ministério, o Estado mais contemplado foi São Paulo (15.165 unidades), administrado por Geraldo Alckmin (PSDB). Logo em seguida aparecem Minas (7.046 unidades), governado por Fernando Pimentel (PT); Paraná (3.331 unidades), governado por Beto Richa (PSDB); e Ceará (2.735 unidades), cujo governador é Camilo Santana (PT).

A portaria pode ser revogada porque as empresas que vão construir as unidades ainda não assinaram contrato. A partir do anúncio, elas tinham até 30 dias para comprovar qualificação e outros três meses para apresentar anteprojeto e estudo de viabilidade do empreendimento. Procurado, Araújo não respondeu. Já o Ministério das Cidades informou que a distribuição dos municípios beneficiados seguiu “critérios técnicos”.

 

Megaprojeto. Baldy também prometeu ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), de quem é aliado, atuar para destravar um megaprojeto para a construção de uma linha ferroviária entre Goiânia e Brasília para cargas e passageiros, apelidado de TransPequi. O projeto se arrasta há mais de dez anos e foi retomado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Baldy vinha acompanhando o desenrolar das discussões com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, buscando fontes de financiamento e investidores internacionais interessados na obra. Uma série de autorizações para o projeto passa pela pasta que ele comandará. Além disso, como vice-presidente do conselho que gere o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o ministro pode atuar para destinar parte dos recursos para a obra.

Ontem, Temer passou o dia em conversas para definir outras mudanças em ministérios do PSDB, entre elas com o tucano Aloysio Nunes, à frente das Relações Exteriores, que deve ficar no governo. / COLABORARAM FELIPE FRAZÃO e CARLA ARAÚJO

 

 

 

 

 

Maia nega indicação, mas diz que BNDES ‘precisa de mudança’

Por: Samantha Klein

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou ontem, em Porto Alegre, que tenha influência nas trocas no primeiro escalão do governo Michel Temer. O Estado apurou, porém, que o presidente deve indicar um nome para o comando do BNDES, em substituição a Paulo Rabello de Castro, que tenha o aval de Maia.

“Não tratei desse assunto, mas acho que o BNDES tem papel de agência de fomento que é mal utilizado nos últimos anos, e precisa de mudança. Fiz crítica no início da nova gestão quando disse que é necessário alguém com experiência em banco e sistema financeiro.”/ SAMANTHA KLEIN, ESPECIAL PARA O ESTADO

 

 

 

 

 

 

De empresário a ministro em três anos

PERFIL / Alexandre Baldy, ministro das Cidades

 

O novo ministro das Cidades, Alexandre Baldy (sem partido-GO), teve uma ascensão meteórica na política. Deputado de primeiro mandato, foi escolhido aos 37 anos para o ministério graças à articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem é aliado.

Baldy é casado há 16 anos com Luana Limírio, com quem tem dois filhos. Tem um patrimônio declarado, em 2014, de R$ 4,2 milhões, entre imóveis, aplicações e carro de luxo. É sócio de cinco empresas, de representação comercial e de embalagens.

Baldy é ligado ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), de quem foi secretário da Indústria e Comércio.

Eleito pelo PSDB, Baldy migrou para o antigo PTN, hoje Podemos, legenda da qual chegou a ser líder na Câmara.

Para entrar no Ministério das Cidades, deve se filiar ao PP. Foi um dos idealizadores da CPMI da JBS, que governistas usam para investigar os investigadores e questionar o acordo de delação dos donos do frigorífico. Baldy chegou a ser citado como político ligado ao contraventor Carlinhos Cachoeira em um relatório arquivado da CPI que investigou os negócios dele.

 

 

 

 

Partidos enxergam estímulo de Temer a ação pró-parlamentarismo

PT, PSB, PDT e PCdoB apontam incentivo à ação no STF que abre brecha para a adoção do sistema sem consulta popular
Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

Partidos da oposição divulgaram ontem uma nota conjunta na qual apontam estímulo da gestão Michel Temer a uma ação no Supremo Tribunal Federal que pode abrir uma brecha para a adoção do parlamentarismo no País sem a necessidade de uma consulta popular.

Segundo PT, PSB, PDT e PCdoB, a manobra é um “golpe” que tem como objetivo impedir que o presidente a ser eleito em 2018 assuma de fato o governo.

“Trata-se de um movimento acintosamente estimulado pelo governo golpista para impedir que um presidente legitimamente eleito pelo povo assuma o governo com os plenos poderes previstos na Constituição, como foi decidido duas vezes em plebiscitos nacionais (1963 e 1993)”, diz trecho da nota.

Na terça-feira passada, o ministro do STF Alexandre Morais pediu a inclusão na pauta de julgamentos do Tribunal do mandado de segurança 22.972. A ação questiona o Supremo sobre a possibilidade de o Congresso decidir a mudança do sistema político sem a necessidade de consulta popular.

O mandado de segurança de autoria do então deputado Jaques Wagner (PT-BA) foi proposto em 1997 quando partidos tentavam aprovar uma emenda à Constituição implantando o parlamentarismo depois que o regime foi rejeitado pela população no plebiscito de 1993.

 

Redistribuição. Nesses 20 anos, a ação teve como relatores os ministros Néri da Silveira, Ilmar Galvão, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso e Teori Zavascki (morto em janeiro) até ser redistribuída para Moraes em março deste ano. Entre 2003 e 2012 não houve nem sequer um andamento. Desde março de 2016, o mandado de segurança está pronto para ser julgado pelo plenário do Supremo.

Dois dias antes do pedido de inclusão do tema na pauta, o ministro Gilmar Mendes esteve com Temer no Palácio do Jaburu fora da agenda oficial. Segundo a assessoria de Gilmar, o encontro serviu para tratar de “reforma política e reformas institucionais”. Anteontem, Temer recebeu o ministro Dias Toffoli no Palácio da Alvorada. Segundo Toffoli, foi “só um bate-papo”. O ministro é vice-presidente do STF e vai assumir a presidência no lugar da ministra Cármen Lúcia em setembro de 2018.

Dirigentes dos partidos de oposição afirmam também que o governo Temer procura há meses, sem sucesso, um candidato com chances reais de vitória para 2018 e que os líderes nas pesquisas são da oposição.

O documento é assinado pelos presidentes do PT, Gleisi Hoffmann; PSB, Carlos Siqueira; PDT, Carlos Lupi; e PCdoB, Luciana Santos. “A repentina inclusão, na pauta do STF, de uma ação para definir se o Congresso tem poderes para adotar o sistema parlamentarista, sem consultar a população em plebiscito, é o primeiro passo de mais um golpe contra a democracia e a soberania popular no País”, diz a nota.

Procuradas, as assessorias do Palácio do Planalto e do ministro Alexandre de Moraes não haviam respondido até a conclusão desta edição. / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA

 

Repentina

“A repentina inclusão, na pauta do STF ( Supremo Tribunal Federal), de uma ação para definir se o Congresso tem poderes para adotar o sistema parlamentarista, sem consultar a população em plebiscito, é o primeiro passo de mais um golpe contra a democracia e a soberania popular no País.”

NOTA CONJUNTA ASSINADA PELOS PRESIDENTES DE PT, PSB, PDT E PCDOB