Título: A crise deixa Brasília em direção aos estados
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2012, Política, p. 2/3

Presidentes dos diretórios regionais do PR desembarcam em São Paulo amanhã para mapear adversários petistas e, assim, fechar alianças. Se passar da chantagem, a ação deve prejudicar a largada da campanha de Haddad

A confusão na base aliada do governo Dilma Rousseff em Brasília começa a afetar os planos do PT em São Paulo e outras capitais pelo país afora. Amanhã, por exemplo, o PR, barrado no Ministério dos Transportes, reúne os presidentes dos diretórios estaduais do partido para discutir as alianças eleitorais para este ano e mapear os adversários do PT para procurá-los. No caso de São Paulo, a ideia do encontro é ratificar a decisão local, de intensificar os contatos com os pré-candidatos Gabriel Chalita, do PMDB, e José Serra, do PSDB, que hoje completa 70 anos. Nos bastidores, os integrantes do PR dizem que não há muito mais o que conversar com o PT.

Não é apenas o PR que começa a abandonar o barco de Haddad antes mesmo de o jogo começar. Dentro do PSB, a reunião entre o ex-presidente Lula e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, citada recentemente como marcada para esta semana, tinha tudo ontem para ser adiada. Isso porque, ao mesmo tempo em que os médicos recomendam umas férias ao ex-presidente, os socialistas ainda não têm uma resposta definitiva para dar a Lula.

"Não tem essa pressa toda de fechar as alianças. É preciso ter calma. As pessoas comuns nem sabem ainda que haverá eleição. Só nós, políticos, vocês, jornalistas, e empresas de pesquisa interessadas em ganhar dinheiro é que discutem isso. O Lula precisa primeiro ficar bem bom para não correr risco de novas recaídas decorrentes de muitos contatos nesse período de imunidade baixa. Deixem ele descansar", diz o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), mandando um recado aos políticos que insistentemente procuram o ex-presidente (leia mais na página ao lado).

Hoje, os petistas consideram que o diretório municipal do PSB está mais próximo de Haddad, da mesma forma que o diretório estadual — comandado pelo secretário de Turismo do estado, Márcio França — está aliado ao governador Geraldo Alckmin. Mas estão enganados. "O partido está mais próximo é do prefeito Gilberto Kassab", comenta Márcio França. Ante um partido todo voltado aos adversários de Haddad, e o desejo de Lula de atrair o PSB, é preciso ver se é possível alinhar essas esferas antes de escolher um caminho. Por isso, o PSB não tem pressa.

Enquanto essa conversa paulistana não fecha, PSB, PSD e PSDB aceleram acordos em outras cidades paulistas, caso de Campinas e São José do Rio Preto. Em São Bernardo, entretanto, o PSB apoiará Luiz Marinho, do PT, o amigo de Lula. Mas, no caldeirão de votos nacionais representado pela capital que influencia futuros acordos, as conversas estão engatinhando.

Na festa de Lula, no ano passado, antes da descoberta do câncer, Eduardo Campos tinha dito ao presidente que não tinha meios de apoiar o PT, dada a construção de uma alternativa com Gilberto Kassab e a presença do PSB no governo de Geraldo Alckmin. De lá para cá, tudo mudou. Kassab, que Lula tentou levar para o lado do PT, se viu realinhado a José Serra, a quem deve parte da ascensão política.

Assim que Serra entrou na disputa, Kassab tratou de tentar levar o PSB a apoiá-lo. Estava tudo pronto para anunciar esse apoio quando Eduardo Campos foi a São Paulo e pediu que o partido esperasse. Ao mesmo tempo, como presidente do PSB, Campos fez um apelo a Kassab para que não interferisse. Afinal, da mesma forma que Kassab deve a Serra, Campos deve a Lula. E esta é a eleição em que se deve pagar as dívidas de gratidão para não deixar nada acumulado para 2014.

Indefinição O PSB, entretanto, ainda não decidiu se irá mesmo acompanhar Haddad. No momento, não está descartada nem sequer uma candidatura própria no primeiro turno, como forma de evitar confronto direto, seja com os tucanos, com quem Márcio França está alinhado, seja com os petistas, em especial, Lula. Assim, os socialistas ganhariam mais tempo para escolher um caminho em São Paulo.

Hoje, a ideia dos partidos é esperar para clarear o quadro, a fim de verificar que outros reflexos a confusão da base governista levará à montagem dos palanques em São Paulo e acompanhar a prévia tucana — o próximo movimento importante da sucessão paulistana, prevista para o próximo fim de semana. Não por acaso, Alckmin aproveitou o último sábado para declarar o voto em favor de José Serra. Assim, ajuda a levar para a campanha serrista aqueles que, rezando pela cartilha do governador, ainda hesitavam em apoiar o tucano.

Não tem essa pressa toda de fechar as alianças. É preciso ter calma"

Devanir Ribeiro (PT-SP), deputado federal