Correio braziliense, n. 19945, 01/01/2018. Política, p. 2

 

O bloco das surpresas quer chegar às urnas

Denise Rothenburg e Natália Lambert 

01/01/2018

 

 

PRESIDENCIÁVEIS NA AVENIDA » Partidos menores ensaiam movimentos e selecionam candidatos para se mostrarem competitivos nas eleições de outubro

Em tempos de desfiles eleitorais luxuosos prometidos pelos grandes partidos, os pequenos esperam apresentar novidades para conquistar o estandarte de ouro na avenida e, para isso, vão bombar as campanhas nas redes sociais para tentar atrair o eleitor da mesma forma que os pequenos blocos complementam os gigantes do carnaval, lotando as ruas das cidades de foliões. Inspirados no enredo do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que conquistou o trono em 2016 com o discurso do outsider, legendas menores investem em nomes fora da tradição política para levantar o público. Depois de apresentar os candidatos do grupo especial e do grupo de acesso, na série “Presidenciáveis na Avenida”, o Correio lista agora nomes que já se apresentaram para participar da festa.

Na pegada social

O mais vistoso dos blocos é o PSol, campeão no número de novos filiados em 2017 — foram quase 25 mil a mais, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A decisão de ter um nome próprio para apresentar ao público foi tomada na convenção nacional do partido no fim do ano passado, mas a divulgação de quem carregará a bandeira da agremiação ainda aguarda alguns acontecimentos, principalmente, o julgamento do TRF-4 sobre a condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no próximo dia 24. “Ainda não está definido quem será, mas é certo que teremos candidato a presidente”, garante o deputado federal Chico Alencar (PSol-RJ).

O PSol está entre Plínio de Arruda Sampaio Júnior, economista e professor da Unicamp, e Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem -Teto (MTST). Ligado a Lula, Boulos é o preferido dos foliões da agremiação, mas ele já manifestou o desejo de não concorrer caso o petista seja candidato. Mesmo com a resistência, a tendência é de que ele seja o escolhido por causa da ligação com os movimentos sociais e a capacidade de angariar votos de Lula, caso o petista não concorra.

Marcha econômica

No campo diametralmente oposto ao PSol está o PSC. Carnavalescos da sigla, atualmente ligada formalmente ao deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), não aceitaram as condições impostas pelo político para entrar na avenida com ele, mas, nem por isso, deixarão de participar do carnaval. Ele sai assim que a janela partidária abrir e deixa espaço para um novo nome surgir, no caso, o do atual presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro.

Legenda em ascensão, o PSC quer mostrar que tem samba no pé e não pretende ficar de fora da festa. Apesar de ainda não se apresentar como um pré-candidato, Rabello foi anunciado assim em um evento do partido na Bahia para mais de 3 mil pessoas no fim do ano passado. Em ensaios por todo o país, a militância testa o nome do economista por considerá-lo o perfil novo que a população quer, mas com caráter técnico.

De acordo com pessoas próximas, a possibilidade de ele ser candidato existe, mas não é algo que esteja no “livro de metas da vida”. “O Paulo vem contribuindo há mais de 40 anos com ideias para o país. Ele saindo ou não é por uma questão natural de um caminho que ele vem trilhando. A ideia é colocar o debate em um nível diferente e contribuir com o desenvolvimento do Brasil”, comenta um amigo.

A liga da Justiça

Entre Castro e Boulos, surge o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que ficou de dar uma resposta ao PSB no fim deste mês. Bem cotado em todas as pesquisas eleitorais, o juiz condutor do mensalão tem sido cobiçado por muitos partidos, mas já chegou a confessar que teria dificuldades em carregar o estandarte de um país com um sistema político tão corrupto. A paquera atualmente é com o PSB, e o foco em Barbosa vem causando problemas internos na legenda.

O partido se esfacelou depois da morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. O vice-governador de São Paulo, Márcio França, que pretende concorrer ao governo estadual, sonha em levar a sigla a uma aliança com o tucano Geraldo Alckmin. O grupo do Nordeste se reaproxima do PT, de olho na popularidade de Lula para alavancar os candidatos. Enquanto isso, outra ala conversa com a Rede de Marina Silva, que, com a morte de Campos, virou a candidata do PSB em 2014.

Os socialistas, entretanto, não abrem o jogo agora. “Temos várias opções, estamos conversando com candidatos e aguardando o ministro Joaquim Barbosa. Temos tempo”, diz o presidente do partido, Carlos Siqueira. Para muitos socialistas, se Barbosa topar, pode ser uma saída para que cada ala faça a campanha que desejar, e se engajar apenas se o candidato demonstrar capacidade de atrair multidões.

Entre o novo e o velho

Depois de esperar meses por uma resposta do apresentador Luciano Huck, que poderia ser o grande outsider da festa eleitoral em 2018, o partido Novo lançou, em novembro, o nome de João Amoêdo. Com mais de 1,5 milhão de seguidores nas redes sociais, a ideia é trabalhar na internet e apresentar um enredo que fuja da política tradicional. “Nossa intenção é mostrar um governo mais eficiente, que atue focado nas funções clássicas: saúde, segurança e educação”, explica o presidente da sigla, Moisés Jardim.

Na onda das celebridades, o cirurgião plástico Dr. Rey, ou Doutor Hollywood, se colocou como o nome do Prona para conquistar os foliões. O nome de verdade é Roberto Miguel Rey Júnior. Aos 12 anos, saiu de São Paulo para os Estados Unidos e virou estrela de um reality show sobre cirurgias plásticas. Com um enredo mais radical, que defende que crianças sejam julgadas e punidas como adultos e que presidiários sejam “escravos” da sociedade, o apresentador pretende conquistar parte do público do deputado Jair Bolsonaro. “Educação é importante, mas no Brasil o que falta é chicote. Eu aprendi medicina aos tapas. Hoje eu sou um cirurgião bom, porque o gringo destrói você, e você reconstrói você (mesmo) como um robô”, disse recentemente em um vídeo nas redes sociais.

Enquanto a maioria pretende apresentar novidades nas ruas do país, o PRTB, de Levy Fidelix, vai repetir a dose do candidato do “trem-bala”. Fidelix é figurinha repetida em todas as eleições presidenciais. Sabe que não emplaca no gosto do eleitor, mas consegue visibilidade para o partido e o projeto do Aerotrem entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro.