Título: Rio mais 20 será prova de fogo da cidade
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2012, Política, p. 4
Evento que ocorrerá em junho e contará com 80 chefes de Estado " além de 50 mil pessoas " é visto como teste para o município que vai receber a Copa e as Olimpíadas
Enquanto se prepara para ser um dos palcos da Copa de 2014 e a sede das Olimpíadas de 2016, o Rio de Janeiro terá em junho próximo um evento que, em número de estrangeiros, supera os Jogos Panamericanos de 2007. Com 80 chefes de Estado e outras 50 mil pessoas dos 193 países-membros da ONU, a Rio+20 ocorrerá em meio a problemas em áreas críticas no dia a dia carioca, como a mobilidade urbana precária, a segurança pública que ainda precisa da ajuda do Exército e a infraestrutura hoteleira insuficiente.
O Rio foi escolhido para receber a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável por ter sediado a Eco-92, há 20 anos, quando se consolidou o conceito de que só é sustentável o desenvolvimento que se baseia em pilares econômicos, sociais e ecológicos. Originalmente planejado para maio, o evento foi transferido pelo governo federal para junho, para não coincidir com a comemoração dos 60 anos do reinado de Elizabeth II no trono inglês. Temia-se que a Rio+20 tivesse pouca presença de chefes de Estado.
E foi aí que nasceu o problema da lotação dos quartos de hotéis. Hoje, a acomodação do público é um dos principais focos de preocupação do Itamaraty. Com cerca de 22 mil quartos disponíveis, a cidade já está com sua capacidade de ocupação praticamente lotada. Considerando os quartos de apart-hotéis e motéis, a oferta sobe para cerca de 33 mil. "A data da Rio+20 foi modificada pela ONU e pelo Itamaraty, e o Itamaraty está tendo que fazer o trabalho do rebloqueio da rede hoteleira", explica o secretário de Conservação do Rio, Carlos Osório, responsável pela organização logística do evento, lembrando que o bloqueio original da rede hoteleira estava programado para maio. Com isso, o ministério tem sugerido aos inscritos que procurem alugar apartamentos de temporada ou se hospedar em cidades vizinhas, como Niterói ou Petrópolis, ainda mais distantes de Jacarepaguá, onde fica o Riocentro, principal centro de convenções do evento. O transporte também deverá contar com um esquema especial, já que o trajeto entre a Zona Sul, onde está grande parte da rede hoteleira, e Jacarepaguá é historicamente um dos trechos mais caóticos do trânsito da capital fluminense. Em horas de pico, pode-se levar até duas horas e meia entre Copacabana e o Riocentro. Sem contar ainda com nenhuma grande obra de mobilidade urbana planejada para a Copa e as Olimpíadas, como os corredores expressos e a ampliação do metrô para a Barra da Tijuca, a cidade terá um esquema especial de ônibus exclusivos para os participantes da Rio+20, ligando a rede hoteleira, na Zona Sul, ao Riocentro. "É um evento frequentado por participantes credenciados, que não usam transportes públicos. Estamos fazendo estudos para que o impacto na rotina da cidade seja o menor possível" alega Osório.
Exército Na semana passada, a Secretaria de Segurança anunciou que vai criar uma subsecretaria exclusiva para tratar dos grandes eventos que a cidade vai receber. A primeira tarefa será atuar no planejamento de segurança da Rio+20, ao lado do Comando Militar do Leste (CML). A exemplo da Eco-92, a cidade também terá nesta cúpula a presença do Exército no dia a dia da segurança pública. Além do Riocentro, o Parque dos Atletas (área de lazer da prefeitura, próximo ao centro de convenções) será declarado Zona Internacional. Essas áreas devem ter a segurança sob responsabilidade da ONU. As autoridades brasileiras ficarão responsáveis pelo entorno. Apenas veículos credenciados poderão circular pela região a partir dos pontos de bloqueio. Aeronaves sem permissão também não poderão sobrevoar o local.
Segundo Osório, a cidade também organiza uma série de atividades culturais para os 10 dias da Rio+20, além da Cúpula dos Povos, evento paralelo que vai reunir representantes de movimentos sociais no Aterro do Flamengo, na Zona Sul.
Riscos de falhas
Confira os principais problemas enfrentados hoje pelo Rio de Janeiro:
Quartos de hotéis Com a capacidade hoteleira quase toda preenchida, o Itamaraty recomenda que o visitante alugue apartamentos de temporada ou se hospede em cidades vizinhas.
Segurança Apesar dos avanços na segurança pública da cidade, a Rio+20 também precisará da ajuda do Exército no policiamento.
Transporte público O tempo para ir da Zona Sul, onde está concentrada a rede hoteleira, até o principal centro de convenções da cidade, o Riocentro, pode chegar a 2h30. Ônibus especiais estão previstos.