Correio braziliense, n. 19952, 08/01/2018. Política, p. 2

 

Briga para ser o mais viável ao Planalto

Denise Rothenburg

08/01/2018

 

 

ELEIÇÕES » Enquanto alguns pré-candidatos à Presidência da República viajam pelo país para conquistar a simpatia dos eleitores, outros, que querem defender o legado do presidente Michel Temer, disputam o espaço mais ao centro do tabuleiro

Está dada a largada no centro do espectro político para ver quem consegue chegar melhor em abril e atrair os demais para uma composição que abarque a maioria dos partidos que hoje apoiam o governo do presidente Michel Temer. No páreo, estão o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Nessa ordem. Da parte do Planalto, entretanto, a orientação é estancar os movimentos. Esta e as próximas semanas serão dedicadas a tentar tirar a corrida eleitoral de cena. “Primeiro, precisamos aprovar a Previdência. O assunto eleição não está na nossa pauta neste momento. Agora, é Previdência”, diz o ministro da secretaria-geral da Presidência da República, Moreira Franco, que ontem voou de São Paulo a Brasília ao lado do presidente Michel Temer.

O governo também trata de tentar tirar de cena as especulações de que o presidente tiraria uma licença para tratamento de saúde: “Ele vai pedir licença para trabalhar dobrado”, ironizou o ministro. “A melhor maneira de destruir essas notícias falsas é tocar a vida”, complementa.

Enquanto Temer e os ministros palacianos se dedicam às reformas, em especial, à da Previdência, os partidos cuidam de preparar o terreno para as eleições. O movimento está mais intenso no ninho tucano, onde Alckmin virou um três em um: governador, presidente do partido e pré-candidato à Presidência. Isso com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, dia e noite cobrando prévias para definição do candidato ao cargo mais importante da política nacional.

Os tucanos querem aproveitar os primeiros acordes de janeiro para ver se conseguem levar Virgílio a desistir da disputa. Até porque, hoje, Alckmin tem muito mais chances de atrair apoios. Entretanto, se Alckmin não decolar nas pesquisas, os tucanos até cogitam buscar um plano B, mas não seria Arthur Virgílio. Quem está sentado no banco de reservas é o governador de Goiás, Marconi Perillo. Nos últimos dias, porém, as chances dele diminuiram diante das férias na praia em meio ao caos penitenciário no estado.

Orações e juros

Enquanto o PSDB se dedica aos problemas internos, Henrique Meirelles trata de se apresentar ao eleitor. Fez isso na semana do Natal, quando foi ao ar o programa do PSD. O partido dedicou todo o espaço a mostrar o ministro, exibir a biografia de um executivo de sucesso e deixar claro que é Meirelles quem está tirando o Brasil da crise econômica, com juros mais baixos, inflação sob controle, apesar do desemprego, que o próprio ministro reconhece que continua alto.

As andanças de Meirelles são acompanhadas de perto pelo Planalto. As declarações do ministro Moreira Franco, dizendo que a hora é de se dedicar à reforma da Previdência, soam como um recado direto ao colega. Meirelles e o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, comandante do PSD, precisam resolver primeiro os votos dos deputados do partido em prol da reforma. O próprio Kassab ainda não disse de viva-voz que o candidato do partido é Meirelles. Kassab tem dito, em conversas com aliados, que ainda é cedo para tratar da campanha presidencial e que espera a decisão sobre a candidatura do ex-presidente Lula. Depois, ele analisará detalhadamente o quadro paulista, onde tem chances de compor uma chapa ao governo estadual encabeçada pelo senador José Serra. Não por acaso, Kassab não descarta hoje um apoio do PSD a Geraldo Alckmin.

Em meio às idas e vindas dos presidenciáveis ligados ao governo, outro que está em campo é Rodrigo Maia. O DEM vai dar corda a esses movimentos com a intenção de ficar no páreo e não terminar engolido por outros partidos. Assim como na esquerda, o PCdoB lançou Manuela D’Ávila para se manter no jogo. A ideia é não ser colocado para escanteio na hora em que todos se sentarem à mesa para negociar a chapa presidencial. Em geral, o DEM prefere Rodrigo candidato a deputado federal para garantir a presidência da Câmara, mas, diante de tantas incertezas, se ele cair no gosto do eleitor, quem terá que recolher candidatos são os outros partidos. É por aí que estão todos jogando.