Valor econômico, v. 18, n. 4385, 22/11/2017. Política, p. A12.

 

 

Lava-Jato aposta em eleição para frear retrocesso

André Guilherme Vieira

22/11/2017

 

 

As declaração do novo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Fernando Segovia, de que uma única mala não prova crime, foi interpretada por fontes que atuam em investigações da Lava-Jato como um dos sintomas de que o enfrentamento à corrupção no Brasil pode de fato ter dado um passo atrás. Segovia fez menção à mala com R$ 500 mil recebida da JBS pelo então assessor do presidente Michel Temer, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), em ação controlada filmada pela PF e que o flagrou carregando o dinheiro ao deixar uma pizzaria em São Paulo em abril deste ano.

Após cerimônia de posse realizada em Brasília na segunda-feira - em que disse estar lisonjeado com a presença de Michel Temer -, Segovia criticou a Procuradoria-Geral da República (PGR) na gestão Rodrigo Janot, que foi responsável pelas denúncias de corrupção e organização criminosa apresentadas contra o presidente - ambas com prosseguimento rejeitado pela Câmara dos Deputados.

"Uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção", afirmou o novo comandante da PF.

A declaração de Segovia é um "indicativo claro" de que o "risco de retrocesso" está se confirmando, na opinião de pessoas que atuam nas investigações da Lava-Jato em Curitiba ouvidas sob condição de anonimato.

No entanto, ainda é possível "evitar retrocessos mais permanentes", na avaliação de uma dessas fontes.

A análise é que a proximidade do ano eleitoral pode ser um fator positivo, já que o governo Michel Temer está próximo do fim. O fato de o pemedebista ter menos de 5% de aprovação popular conforme recentes levantamentos realizados por institutos de pesquisa também é visto com bons olhos. Mesmo que Temer seja candidato à reeleição, suas chances são consideradas pequenas, em se confirmando a sua desaprovação. Quando é indagado se pretende concorrer em 2018, Temer costuma responder que não pensa no assunto, mas não nega essa possibilidade.

Ontem, o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato no Paraná, ironizou a declaração de Fernando Segovia em publicação feita na rede social Facebook. "Uma pergunta: Quantas malas de dinheiro são suficientes para o novo diretor-geral da Polícia Federal?".

Procurado para comentar a publicação na rede social, Carlos Fernando não respondeu à solicitação feita pela reportagem.