O Estado de São Paulo, n. 45306, 02/11/2017. Política, p.A6

 

 

 

 

Wagner fala em ‘construir ponte’ com Ciro

 

Ex-ministro de Lula, que já se apresenta como pré-candidato à Presidência da República, esteve com o ex-governador petista em Salvador

Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT), apontado como possível substituto de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2018 caso o ex-presidente seja impedido pela Justiça de participar da disputa, afirmou ontem que o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) é um “bom candidato”.

Ciro, que já se apresenta como pré-candidato à Presidência da República, esteve ontem com Wagner em Salvador. Na conversa, o petista defendeu a criação de uma “Marcha pela Civilização” com o objetivo de “combater o obscurantismo”.

“Fiquei contente com a visita e com o nosso encontro. Ciro é um grande quadro da política nacional e um bom candidato, que pensa o Brasil a partir de um projeto nacional. A ele pude dizer isso tudo e mais: que a nossa tarefa principal é construir pontes que possibilitem a maior unidade do campo progressista. Nessa tarefa todos são bem-vindos e igualmente importantes. Não podemos somente assistir ao crescimento do obscurantismo, é preciso reagir e juntar o País em um tipo de Marcha pela Civilização”, disse Wagner.

O encontro, segundo a assessoria de Ciro, ocorreu a pedido do petista na sede da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, comandada por Wag- ner. O pré-candidato do PDT está na Bahia desde ontem para uma série de palestras e entrevistas. Quando soube que Ciro estava na cidade, Wagner o convidou para um almoço “de amigos”. Os dois foram ministros no governo Lula. Além disso, o partido de Ciro integra a gestão do governador Rui Costa (PT).

Embora possivelmente este- ja em campo oposto ao de Wagner na eleição do ano que vem, Ciro evita tratar o PT como adversário, de olho nos votos petistas em caso de um eventual impedimento de Lula.

Na semana passada, durante encontro sindical em São Paulo, o pré-candidato do PDT voltou a fazer críticas à candidatura de Lula que, segundo ele, vai consumir todas as atenções da disputa eleitoral, mas fez afagos ao PT dizendo que o “time dos sonhos” seria uma chapa com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como vice.

Segundo Ciro, o PT não é o inimigo, mas a vocação do partido para sempre ter candidaturas próprias dificulta alianças.

Já Wagner foi citado publicamente ao menos três vezes por Lula como possível candidato do PT ao Planalto caso a Justiça torne o ex-presidente inelegível. No entanto, depois que o PT adotou a estratégia de insistir na candidatura Lula até o fim, apostando em recursos nos tribunais superiores, o ex-governador decidiu disputar uma vaga no Senado.

 

 

Críticas ao ex-chefe Lula

 

Considerado por analistas como a causa da derrocada de sua candidatura presidencial em 2002, o estilo verborrágico para enfrentar possíveis adversários é mantido por Ciro Gomes na disputa de 2018. Um dos alvos do pedetista foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro, que, para ele, “insulta a inteligência do povo”. Ele também já fez críticas aos tucanos Geraldo Alckmin e João Doria. Recentemente, ao comentar a pré-candidatura da ex-ministra Marina Silva, durante almoço com empresários no Rio, Ciro disse que não a vê com energia para a disputa e que “o momento é muito de testosterona”.

 

 

 

 

 

Frentes ‘unem’ Bolsonaro e Jean

Presidenciável assinou criação de grupos na Câmara dos Deputados, como o da defesa do futsal, e participa em três com o ‘arqui-inimigo’ do PSOL
Por: Gilberto Amendola

 

Gilberto Amendola

 

Abase do discurso visível do deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) está nas questões de segurança pública e de ordem moral. Até aí, nenhuma novidade. Mas, claro, nem só de segurança e religião vive o parlamentar. Uma pesquisa no site da própria Câmara, entre as mais de 200 frentes parlamentares em funcionamento, revela um Bolsonaro, digamos assim, mais diversificado.

Como praticamente todos os deputados, Bolsonaro assinou a criação de uma série de frentes. Entre as mais inusitadas estão a de Defesa do Futsal; a da Defesa da Valorização Nacional de Uvas, Vinhos, Espumantes e seus Derivados; a da Odontologia e da Brasil Sem Jogos de Azar. Há até uma frente de temas que têm estado mais na pau- ta de deputados de esquerda e ligados aos direitos humanos, a da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial.

Tem mais: Bolsonaro está inscrito em três frentes em que o seu “arqui-inimigo”, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), também está inscrito. A Frente do Automobilismo Brasileiro, a Frente em Defesa dos Despachantes e Documentaristas do Brasil e a Frente Mista do Artesão e do Artesanato Brasileiro.

O que a assinatura do presidenciável nessas frentes revelam é a pouca relevância que o instrumento (frentes parlamentares) tem no Congresso. “É uma coisa quase colegial. Você assina a minha frente que eu assino a sua. Mas, na prática, não existe uma participação dos deputados em reuniões ou discussões. Elas servem aos seus criadores quase como um cartão de visitas. O deputado cria uma frente e coloca no cartão, ou diz para o eleitor, que é presidente de frente tal e que está trabalhando nisso ou naquilo...”, afirmou o cientista político Humberto Dantas (FGV).

O fato é que os presidentes de frentes procurados pela reportagem disseram que Bolsonaro não é um membro ativo de nenhuma delas. “É normal esse procedimento na Câmara. As frentes têm um núcleo de coordenadores que atuam por aquela causa. Não são todos que atuam, que participam de reuniões e conversas”, disse o deputado Bacelar (Podemos-BA), presidente da Frente em Defesa do Futsal.

A assessoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), que preside a Frente da Luta Antimanicomial, também informou que Bolsonaro não é um membro ativo do grupo e que ele nunca participou de nenhuma reunião. Além disso, afirmou que a assinatura do deputado seria apenas para a abertura da frente, algo comum na Câmara.

Sobre as frentes em que Jean e Bolsonaro aparecem juntos, a assessoria do parlamentar do PSOL afirmou que ele também não é membro ativo de nenhuma dessas frentes e que apenas teria assinado para que elas pudessem existir. Segundo deputados que preferiram não se identificar, a maioria das frentes nunca passou “de um pedaço de papel” e mesmo aquelas cujo os temas são relevantes produzem pouco.

Bolsonaro foi procurado pela reportagem, mas não respondeu às mensagens deixadas no celular. A assessoria do deputado disse que ele estava afônico e gripado e por isso não poderia responder aos questionamentos.