Valor econômico, v. 18, n. 4389, 28/11/2017. Política, p. A8.

 

 

Alckmin deve assumir presidência do PSDB

Vandson Lima, Fabio Murakawa, Raphael Di Cunto e Cristiane Agostine

28/11/2017

 

 

Governador de São Paulo e virtual candidato tucano à Presidência da República em 2018, Geraldo Alckmin deverá assumir a presidência do PSDB no próximo mês, como postulante único ao comando da sigla pelos próximos dois anos. Em um acordo costurado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tanto o senador Tasso Jereissati (CE) quanto o governador Marconi Perillo, que se apresentaram para disputar a presidência tucana, concordaram em retirar seus nomes em favor do governador paulista.

Alckmin reuniu ontem a cúpula do PSDB e os dois até então postulantes da presidência da sigla, em jantar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Até o fechamento desta edição, o anúncio oficial não havia sido feito. Mas ambos comunicariam a Alckmin, conforme sinalizaram em conversas nos últimos dias, que desistiriam das candidaturas em favor de Alckmin, considerando que esta seria uma solução de consenso no partido, cujas tensões se elevaram por conta da disputa interna.

Durante a tarde de ontem, em evento promovido pela revista "Veja", Alckmin disse que iria avaliar a possibilidade de assumir a sigla, para "ajudar a união do partido". O governador disse ainda não ver incompatibilidade em alguém presidir o partido e ao mesmo tempo disputar prévia pela vaga de candidato à Presidência da República.

Tasso representa o grupo chamado de "cabeças-pretas" do PSDB, que pede o rompimento total com o governo do presidente Michel Temer e uma revisão das teses do partido. Ele foi ao diretório estadual do PSDB paulista no início da noite de ontem, para agradecer o apoio que recebeu da seção local do partido e indicar que iria abrir mão da postulação.

Tasso disse que não pretende ter cargo na futura direção do PSDB. Ele afirmou que Alckmin tem um estilo mais conciliador e menos incisivo do que o seu, mas reforçou que o governador assumirá a liderança do partido. "Espero que alguns setores do partido não tenham participação nenhuma, porque foram responsáveis pela falta de credibilidade", disse, sem citar diretamente o senador Aécio Neves (PSDB), presidente eleito da legenda. "Se nós não mostrarmos uma cara diferente que não é essa que está ai nós não vamos a lugar nenhum. O pior isolamento que existe é do povo."

Marconi Perillo é próximo a Aécio, que mantém relações amistosas com o governo federal. A indicação de Alckmin foi elogiada ontem por Aécio. "O PSDB estará em ótimas mãos. Caberá ao futuro presidente do partido ampliar a interlocução com outras correntes políticas com as quais temos proximidade ideológica, o que é essencial para que o PSDB possa liderar uma grande coalizão de centro para vencer as eleições do ano que vem, e, principalmente, para governar com razoável estabilidade", disse.

Os aliados do goiano, que incluem o ex-ministro das Cidades e deputado federal Bruno Araújo (PE) e o grupo do PSDB de Minas, foram pegos de surpresa.

A interlocutores, Perillo justificou que o gesto de Tasso, de desistir da candidatura em prol de Alckmin, se Perillo fizesse o mesmo, colocou-o em posição difícil e que não poderia partir para o confronto após pregar unidade.

Ao Valor, o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, confirmou o acerto. "Ao que tudo indica, encerra-se hoje [ontem] esse assunto. Tínhamos duas prioridades: ter apenas uma chapa na eleição interna e um candidato a presidente do partido", lembrou. "Todos esses grupos do PSDB, está acertado, estarão numa chapa única do diretório nacional. Encontrado o nome da unidade, com o Geraldo, a partir de agora é trabalhar para montar o restante da Executiva".

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a manifestar apoio a Tasso, participou ativamente nos últimos dias da construção do consenso por Alckmin. Ele encontrou-se com o senador cearense nos Estados Unidos para tentar encontrar uma solução negociada, no início do mês.

Segundo um interlocutor do ex-presidente, o primeiro nome sugerido como solução pacificadora do partido foi o do senador Antonio Anastasia (MG). Mas a sugestão foi recusada por Tasso em razão de Anastasia ser muito ligado a Aécio.

Alckmin reuniu-se na quinta-feira com Tasso, que na ocasião já demonstrou sua disposição de abrir mão da candidatura caso Perillo fizesse o mesmo. No domingo, Perillo foi a São Paulo e acenou na mesma direção.

O grupo de aliados de Perillo, contudo, pretende garantir espaço expressivo na direção executiva do partido e cobrar apoio para assumir a liderança da bancada na Câmara dos Deputados - hoje dividida entre Rogério Marinho (RN), Nilson Leitão (MT), ambos governistas, e Betinho Gomes (PE), da linha de frente do grupo que desejava romper com o governo Temer.

Para o grupo, Tasso desistiu por avaliar que o goiano estava à frente na disputa: Perillo teria uma vantagem de 50 votos no colégio de cerca de 600 eleitores, afirmam. Os aliados de Tasso, no entanto, advogam que teriam vantagem nos colégios maiores, como São Paulo, e apoio de intelectuais do partido.

O acordo em favor de Alckmin freia ainda possíveis pretensões de Tasso em, no comando tucano, viabilizar-se como mais um possível presidenciável em 2018 - tal pretensão era admitida nos bastidores por interlocutores do senador, por conta das incertezas do cenário eleitoral.

Visto como um potencial rival de Alckmin no partido, o prefeito de São Paulo, João Doria, foi frio ao comentar ontem o acordo. "Defendo o que for melhor para o PSDB", afirmou.