Valor econômico, v. 18, n. 4390, 29/11/2017. Política, p. A8.

 

 

PF conclui que Geddel lavou dinheiro

André Guilherme Vieira e Luísa Martins

29/11/2017

 

 

A Polícia Federal (PF) concluiu que o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), o ex-ministro do governo Michel Temer, Geddel Vieira Lima, a mãe deles, Marluce Quadros Vieira Lima, e outras duas pessoas atuaram "em unidade de desígnios para a prática de crimes de lavagem de dinheiro" e apontou indícios de associação criminosa pela ocultação de cerca de R$ 51 milhões (R$ 42,6 milhões e US$ 2,6 milhões) em apartamento em Salvador. A localização do dinheiro foi informada à PF por uma ligação feita à superintendência regional da Bahia em 14 de julho deste ano.

O imóvel pertence a Marluce Lima. A PF também atribuiu indícios da prática de ambos os crimes a Job Ribeiro Brandão, ex-assessor de Geddel e a Gustavo Pedreira do Couto Ferraz, que trabalhou na Câmara dos Deputados e que seria vinculado a Geddel, que está preso, e ao PMDB baiano, segundo relatório de investigação policial.

O dinheiro é atribuído a Geddel e a principal linha de investigação aponta para origem ilícita.

"Não é crível que duas figuras públicas, com a inteligência do parlamentar Lucio e seu irmão Geddel, além de sua genitora, deixassem de auferir rendas sobre a milionária quantia de aproximadamente R$ 51 milhões se este valor estivesse devidamente declarado e formalmente inserido no sistema financeiro nacional", observou a PF.

Não foram considerados críveis argumentos apresentados pelos investigados de que o dinheiro seria de um posto de gasolina da família e de negócios agropecuários. "O dinheiro deveria transitar por conta bancária a bem da segurança e transparência perante os órgãos de controle", diz o documento.

O delegado Marlon Cajado, que assina o relatório, afirma que nenhuma documentação foi apresentada pelos investigados atestando a licitude do dinheiro, quase três meses após a apreensão da quantia milionária.

Como Lúcio Vieira Lima goza de privilégio de foro no Supremo Tribunal Federal (STF), a investigação tramita na Corte sob a relatoria do ministro Edson Fachin, responsável pelas investigações e processos da Lava-Jato na Corte. Para que haja indiciamento dos suspeitos pela PF, será preciso autorização do ministro. Na investigação sobre os milhões apreendidos, a Procuradoria-Geral da República (PGR) decidirá se oferece denúncia (solicitando ao STF a abertura de uma ação penal) ou se sugere o arquivamento do caso. O Valor apurou que a avaliação na procuradoria-geral é de que há indícios "consistentes" de que o parlamentar e os outros investigados se envolveram em lavagem de dinheiro.

Apesar de a PF concluir que o dinheiro pertence a Geddel, ainda não está clara a destinação dos recursos. As hipóteses apontam para destinação partidária e enriquecimento ilícito.

Ontem, o ministro Edson Fachin acolheu pedido feito pela defesa de Job Ribeiro Brandão e revogou a prisão domiciliar dele, solicitada por sua defesa no dia 17. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, já havia se manifestado favoravelmente à libertação do ex-assessor.

Job Ribeiro tem buscado acordo de delação premiada com a PGR. Ele se dispôs a auxiliar com novas informações sobre a origem dos milhões de reais apreendidos no apartamento da mãe de Geddel e apresentou novas evidências aos investigadores.

A decisão de Fachin que revogou a domiciliar de Job Ribeiro sugere que as negociações do ex-assessor com a PGR estão evoluindo.

Segundo Fachin, Job "admitiu seu envolvimento nos fatos e colaborou espontaneamente com a atividade persecutória, descortinando possíveis linhas investigativas". Para o ministro, "não há qualquer evidência concreta de que o investigado pretenda se furtar à correta aplicação da lei penal ou prejudicar o esclarecimento dos fatos em apuração."

Apesar de a PF considerar a investigação concluída, ainda serão ouvidos dois parentes de Lúcio e Geddel e outras quatro pessoas. Materiais apreendidos em endereços relacionados aos investigados estão sendo analisados e poderão gerar outras provas. Procurado, o advogado da família, Gamil Föppel, não foi localizado