O Estado de São Paulo, n. 45315, 11/11/2017. Política, p.A4

 

 

 

 

FHC pede 'papel central' para Alckmin no PSDB

Partidos. Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende ‘restabelecimento da coesão’ na sigla e diz que Goldman deve ‘criar condições’ para líderes como o governador de SP

Por: Pedro Venceslau Elisa Clavery

 

Pedro Venceslau

Elisa Clavery

Um dia depois de o senador Aécio Neves (MG) destituir Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do PSDB e deflagrar a maior crise da história do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem publicamente uma posição “central” para o governador Geraldo Alckmin na legenda.

FHC se posicionou após conversar com Alckmin na noite de anteontem sobre o acirramento da disputa entre Tasso e o governador de Goiás, Marconi Perillo, na disputa pela presidência da sigla.

“Acredito que o restabelecimento da coesão, com tolerância à variabilidade das opiniões internas, mas também com firmeza de propósitos, requer que o presidente designado do PSDB, Alberto Goldman, crie condições para que líderes experientes e respeitados, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumam posição central no partido”, escreveu o ex-presidente em sua página no Facebook.

Na mesma postagem, porém, FHC afirmou que vai apoiar Tasso caso os tucanos não entrem em um acordo até a convenção nacional, marcada para o dia 9 de dezembro. “Se porventura tal convergência não se concretizar, o que porá em risco as chances do PSDB, já disse que apoiarei a candidatura do senador Tasso Jereissati à presidência do partido”, escreveu.

A mensagem do ex-presidente, que mantém grande influência na sigla, fortaleceu a tese de que Alckmin, o mais cotado para disputar o Palácio do Planalto pelo PSDB em 2018, assuma também o comando da legenda, como fez Aécio Neves na eleição de 2014.

“Nesse momento existem dois candidatos em disputa, mas é muito provável que Geraldo Alckmin seja uma alternativa”, disse o ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela.

Aliados do governador estão em campanha para que ele assuma a presidência do PSDB, o que lhe daria mobilidade para viajar o Brasil na pré-campanha presidencial. “Alckmin é o nome da unidade do PSDB”, afirmou o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que integra a direção do partido em São Paulo.

Sem acordo. A ideia de lançar Alckmin como uma terceira via para evitar uma guerra fratricida no partido ainda encontra resistência entre aliados de Tasso e Perillo. “Hoje a escolha caminha para uma disputa. Não vejo a possibilidade de o Alckmin presidir o partido. Ele mesmo disse que apoia o Tasso”, afirmou o deputado Ricardo Tripoli (SP), líder do PSDB na Câmara.

A mensagem de FHC recebeu diferentes interpretações entre os tucanos. Enquanto aliados do senador cearense celebraram o “apoio” a ele, outros deputados e dirigentes entenderam que o ex-presidente delegou a Alckmin a escolha de um nome com trânsito entre os dois grupos em disputa.

Além do chefe do Executivo paulista, outros dois nomes foram ventilados ontem para presidir o PSDB: o próprio FHC e o senador Antonio Anastasia (MG), que é ligado a Aécio Neves. O nome do ex-presidente surgiu em uma conversa reservada entre Tasso e Perillo antes de o senador ser retirado da presidência tucana, mas não houve acordo.

Já Anastasia é visto como um quadro equilibrado e com trânsito nas bancadas da Câmara e do Senado, mas muito identificado com Aécio. Alckmin reprovou a destituição de Tasso, mas por ora não pretende colocar seu nome abertamente na disputa interna. O governador só vai entrar em cena se todas as demais opções forem esgotadas.

Viagens. Enquanto o impasse permanece, Perillo já começou pela região sul sua campanha para presidir o PSDB. Ele esteve ontem em Porto Alegre e hoje deve visitar Curitiba.

Já Tasso vai começar a se movimentar pelo Brasil na próxima semana. Neste fim de semana ocorrem as convenções estaduais tucanas que vão definir parte dos delegados do PSDB na convenção nacional. A disputa mais acirrada será na Bahia, onde Antonio Imbassahy e Jutahy Jr. disputam o diretório.

 

 

 

 

 

ENTREVISTA - Alberto Goldman: ‘Precisamos buscar convergências’

 

Em entrevista ao Estado, o novo presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, disse ser ‘possível’ a escolha de um nome alternativo a Tasso Jereissati e a Marconi Perillo para a presidência do PSDB.

 

A solução de unidade pode ser a escolha de um terceiro nome para presidir o PSDB? Três nomes despontam: o governador Geraldo Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique e o senador Antonio Anastasia.

Tudo é possível. O importante é, no mínimo, chegar a um diretório nacional comum. Dessa forma a disputa fica menos problemática e mais pacífica. É muito cedo para falar em nomes. Precisamos buscar a convergência. Esse é o meu papel.

 

Como deve ser a posição das bancadas? O PSDB deve fechar questão sobre mais temas?

A bancada é um instrumento do partido. Portanto, tem que seguir as posições do partido. É preciso haver um mínimo de coerência. Como não se discute tema nenhum, cada um vota como quer. Não pode um partido ter placar no plenário da Câmara de 22 a 23. Isso vale para todas as matérias.

 

Qual a posição do senhor sobre o partido permanecer ou não no governo?

Minha posição agora não vai ser divulgada. Só lembro a você que a decisão de permanecer no governo foi feita e referendada pela executiva do partido.

 

Tem alguma reunião da executiva para discutir isso?

Ninguém solicitou isso.

 

Alckmin disse que não foi consultado sobre a destituição de Tasso e criticou a decisão. O que achou disso?

Ninguém foi consultado quando ele foi escolhido como presidente interino. Ninguém foi consultado antes nem agora.

 

Uma ala do partido classificou como golpe a destituição de Tasso. O que o senhor acha disso?

O exercício da leviandade e da irresponsabilidade é livre.

 

O senador José Serra foi seu fiador?

Ele não falou comigo sobre isso. Lá atrás ele chegou a falar sobre isso, e eu disse que respeito o estatuto.

 

Deve haver mudanças no modelo da executiva e do estatuto do PSDB?

Vai haver uma modernização e um atualização do estatuto e do programa do partido.

 

A ideia do senador Tasso Jereissati de implementar uma política de compliance no PSDB será mantida?

Isso vai ser tratado no estatuto. Não sei bem o que é isso, mas a palavra é bonita. É usado nas empresas, mas não tenho ideia de como pode ser usado em partido.

 

O senhor pretende manter as intervenções de Tasso nos diretórios da Bahia e do Maranhão?

Não houve na Bahia. Vou tomar uma decisão sobre Maranhão na segunda-feira.