Valor econômico, v. 18, n. 4391, 30/11/2017. Brasil, p. A3.

 

 

Analistas veem investimento no azul e alta de 0,3% do PIB no 3º tri

Ana Conceição, Sergio Lamucci e Estevão Taiar

30/11/2017

 

 

Novamente puxado pelo consumo das famílias, e desta vez também pelos investimentos, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve registrar uma pequena aceleração no terceiro trimestre, ante o segundo. A média de 26 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data é de crescimento de 0,3% no período entre julho e setembro, ante os três meses anteriores, quando a expansão foi de 0,2%, ante o primeiro trimestre, feitos os ajustes sazonais. O intervalo das estimativas vai de zero a aumento de 0,9%.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a expectativa é de crescimento de 1,3%. No segundo trimestre, houve expansão de 0,3% no confronto. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará amanhã o PIB do período.

Segundo economistas, as projeções para o terceiro trimestre embutem um grau maior de incerteza, uma vez que o IBGE vai incorporar às Contas Nacionais os resultados definitivos do PIB de 2015, recentemente revisado de queda de 3,8% para recuo de 3,5%, o que deve alterar os resultados trimestrais de 2016 e de 2017.

No lado da demanda, a média das estimativas dos economistas indica que o consumo das famílias deve crescer 0,3% ante o segundo trimestre. Embora menor que a anterior, de 1,4%, a taxa confirma que a demanda tem crescido mesmo sem o estímulo da liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), fator que ajudou a elevar essa linha do PIB entre abril e junho.

O aumento do consumo é estrutural, beneficiado pela melhora gradual do emprego e da renda, pela queda da inflação e dos juros e pelo aumento, ainda que tímido, da concessão de crédito.

"O receio de que o bom desempenho do comércio no segundo trimestre estivesse ligado essencialmente à injeção dos recursos das contas inativas do FGTS na economia parece não ter se concretizado. A continuidade desse movimento parece estar relacionados à consistente melhora da situação financeira das famílias, o que impõe um viés positivo para o restante do ano", afirmaram economistas da MCM Consultores, em relatório.

Mauricio Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil, ainda observa que a maioria das categorias tem conseguido reajustes salariais acima da inflação, como mostrado pelo Boletim Salariômetro, da Fipe. "Esse é um fator que dá suporte à recuperação do consumo das famílias. Além disso, a redução de juros tende a disseminar o crédito, o que estimula, por exemplo, a compra de bens duráveis", afirma. O MUFG estima aumento de 0,35% no PIB do terceiro trimestre ante o segundo.

Ainda no lado da demanda, os investimentos devem voltar a subir após quatro trimestres, estimulados pela renovação do parque produtivo, uma vez que a capacidade ociosa da indústria e da construção segue historicamente alta. A média das estimativas compiladas pelo Valor Data indica aumento de 1,5% na formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação).

A última taxa positiva ocorreu no segundo trimestre de 2016, de 0,4% sobre o primeiro trimestre daquele ano. Confirmadas as estimativas, será a primeira vez desde o terceiro trimestre de 2013 que o consumo das famílias e investimentos aumentam juntos.

O BNP Paribas calcula alta de 0,5% do PIB em relação ao segundo trimestre, mas vai na contramão das demais instituições no que diz respeito aos investimentos. "O consumo continua indo bem, mas os investimentos talvez sejam uma história mais para o ano que vem", diz Marcelo Carvalho, economista-chefe do banco para a América Latina.

O BNP não tem estimativa para o investimento na série com ajuste sazonal, mas calcula que a formação bruta de capital fixo caiu 2,4% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. A projeção média do Valor Data é que esse recuo seja apenas de 0,6%. Para Carvalho, as incertezas a respeito da eleição presidencial ainda fazem com que empresários evitem ampliar, ou renovar além do necessário, as suas linhas de produção.

Para o banco Fibra, a absorção doméstica (o conjunto formado pelo consumo das famílias, o consumo do governo e o investimento) deve ter avançado 0,8% no período de julho a setembro. Isso implica redução do nível de estoques acumulados no terceiro trimestre, uma vez que a variação esperada para o PIB, de 0,2%, é inferior à previsão de 0,8% para a demanda interna. Para o consumo das famílias, o Fibra estima crescimento de 1% em relação ao trimestre anterior. Para os investimentos, a projeção é de alta de 1,7% e, para os gastos do governo, alta de 0,4%.

No lado da oferta, Nakahodo observa que diversos segmentos industriais tiveram bom desempenho. A construção, negativa há seis trimestres, não deve registrar resultado positivo, mas indicadores do mercado imobiliário apontam alguma melhora. "O crédito imobiliário tem crescimento em 12 meses e os estoques de residências estão diminuindo. São indicadores favoráveis", diz. Seja como for, o segmento ainda deve demorar algum tempo antes de registrar resultado positivo no PIB, considera o economista.

Foram justamente o bom desempenho do comércio e um resultado menos negativo na construção civil que levaram o MCM a revisar a estimativa do PIB do terceiro trimestre - de queda de 0,1% para aumento de 0,2%, na comparação com o segundo, feito o ajuste sazonal. Ante o mesmo período do ano passado, a projeção saiu de crescimento de 0,9% para 1,2%. "Se confirmado, o resultado vai impor um viés positivo para nossa projeção de crescimento do ano, hoje em 0,5%."

Desde a divulgação do PIB do segundo trimestre, as projeções para a economia em 2017 têm melhorado. Na ocasião, a expectativa era de crescimento em torno de 0,5%. Agora, a média das estimativas é de 0,8%.

Para o BNP Paribas, a expansão no terceiro trimestre deve ser "mais homogêneo", com alta em relação a igual período de 2016 para os componentes da oferta.

O ponto negativo ficará por conta da agropecuária, que deve cair 4,5% ante o segundo trimestre, na média das previsões dos economistas. O setor deve tirar um pouco do brilho do PIB do terceiro trimestre após a forte alta do primeiro e a estabilidade do segundo, mas se excluída essa atividade, os dados deverão mostrar que a economia ganhou tração no período.

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, estima queda de 4% na agropecuária. Excluindo esse setor, a atividade ganhou tração no terceiro trimestre. Entre as instituições menos otimistas, o Ibre estima alta de apenas 0,1% no PIB do período.