O Estado de São Paulo, n. 45305, 01/11/2017. Politica, p. A6.

 

Grupo Bertin deu R$ 2 milhões a Temer, diz delator

Fabio Serapião / Beatriz Bulla

01/11/2017

 

 

Em depoimento, Lúcio Funaro afirma que repasses ao presidente foram na forma de doação eleitoral ao PMDB na campanha de 2010

 

 

O corretor Lúcio Funaro afirmou ontem ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal, em Brasília, que o presidente Michel Temer, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e o deputado cassado Eduardo Cunha (RJ), todos do PMDB, receberam “propina” de uma empresa de energia do Grupo Bertin. Segundo Funaro, os repasses a Temer foram feitos por meio de doação oficial ao PMDB na campanha de 2010, quando era o candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff.

“Se não me engano, Eduardo Cunha ficou com R$ 1 milhão; R$ 2 milhões foram destinados ao presidente Michel Temer”, afirmou Funaro. Sobre Moreira, o delator disse ter certeza de que ele recebeu parte do dinheiro proveniente do Grupo Bertin. Ainda de acordo com Funaro, em 2010, o atual ministro deixou o cargo que ocupava na Caixa Econômica Federal para exercer a função de “tesoureiro de propina” para Temer.

No caso do presidente, Funaro se contradisse em relação à sua delação premiada. Embora tenha citado no depoimento o valor de R$ 2 milhões, no anexo de seu acordo de colaboração entregue à Procuradoria-Geral da República Funaro apontou o repasse de R$ 1,5 milhão.

 

Vampeta. O corretor também citou pagamentos a Cunha. Segundo o delator, desde 2003, quando começou sua relação com o ex-presidente da Câmara, ele comprou carros e pagou a aquisição de um apartamento para o deputado cassado. O imóvel, segundo ele, foi adquirido do ex-jogador do Corinthians Vampeta. “Paguei com cheque de uma empresa minha”, afirmou. “Devo ter pago de carro para ele mais de dez carros.”

Funaro prestou depoimento ontem em ação penal derivada da Operação Sépsis, que investiga pagamento de propina na liberação de aportes do fundo de investimento (FI) do FGTS. Além do corretor e de Cunha, são réus no processo o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, o ex-vice-presidente da Caixa Fabio Cleto e o ex-sócio de Cleto, Alexandre Margotto.

O interrogatório de Funaro teve início na sexta-feira passada e foi concluído ontem. Nos depoimentos, ele respondeu a perguntas feitas pelo advogado de Cunha, Délio Lins e Silva Júnior. O deputado cassado acompanhou a oitiva, mas não se manifestou. O depoimento de ontem foi marcado pela tensão entre os dois réus e suas defesas.

O advogado de Funaro, Bruno Espiñeira, chegou a pedir ao juiz Vallisney que vetasse perguntas que não fossem sobre a investigação de irregularidades no FI-FGTS. “É um tentativa diversionista, com todo respeito que tenho ao advogado de Cunha, para tirar do foco o que está claro, que é o que interessa ao processo. Tenta colocar temas de contas não sei onde, coisas que são alheias ao processo”, disse Espiñeira.

Ao fim da audiência, Funaro solicitou ao juiz federal que tanto ele quanto Cunha fossem obrigados a fazer o teste do polígrafo – conhecido como detector de mentiras.

 

 

PONTOS-CHAVE

Corretor fez acusações anteriores

Cunha

À Justiça, Lúcio Funaro disse que teve “no mínimo” 780 encontros com Eduardo Cunha e que o deputado cassado usava propina na “própria política”.

 

Moreira

O ministro Moreira Franco já foi citado por Funaro, ao lado de Cunha, como receptor de dinheiro para facilitar a liberação de recursos do FGTS. Ambos negam.

 

J&F

Em 14 de outubro, a J&F divulgou nota confirmando que Funaro manteve contato com funcionários do grupo, mas que eles não cometeram atos ilícitos.

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Fachin nega pedido de transferência de Cunha para o DF

Rafael Moraes Moura / Breno Pires

01/11/2017 

 

 

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou ontem um pedido da defesa do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que solicitava a transferência definitiva do expresidente da Câmara do Complexo Médico-Penal de Pinhais, no Paraná, para o Complexo da Papuda, no Distrito Federal.

O pedido alegava que a remoção facilitaria o contato do peemedebista com a família e seus advogados, “viabilizando a maior efetividade ao seu direito de defesa”. Na decisão, Fachin afirmou que o plenário do STF já rejeitou, em fevereiro, uma reclamação de Cunha contra a sua prisão preventiva. Ele está detido desde outubro do ano passado.

“Consignou-se, por ocasião do julgamento, que o plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu a competência do juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba para a administração da prisão processual que lhe foi imposta”, disse o ministro. “Desse modo, conclui-se, sob quaisquer das perspectivas analisadas, que o pleito formulado não deve ser conhecido”, afirmou Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte.

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Funaro ‘já mentiu outras vezes à Justiça’, reage Planalto

Felipe Frazão 

01/11/2017

 

 

Em nota, Secom afirma que o PMDB só recebeu doações oficiais; Moreira Franco alega que Funaro ‘vive de delinquência’

 

 

O presidente Michel Temer rebateu ontem as acusações do corretor Lúcio Funaro, de que teria recebido R$ 2 milhões de propina do Grupo Bertin, em 2010, disfarçada de doação declarada à Justiça Eleitoral em sua primeira campanha a vicepresidente, quando estava na chapa da presidente cassada Dilma Rousseff.

Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República afirmou que o presidente “contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça”.

O texto também afirma que as doações recebidas pelo PMDB naquele ano foram oficiais e registradas na Justiça Eleitoral, e sem relação com financiamentos do FI-FGTS.

“Em 2010, o PMDB recebeu R$ 1,5 milhão em três parcelas de R$ 500 mil como doação oficial à campanha, declarados na prestação de contas do Diretório Nacional do partido entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Os valores não têm relação com financiamento do FI FGTS”, diz o comunicado.

A Secretaria-Geral da Presidência criticou Funaro. “Uma pessoa que vive da delinquência, necessariamente, vive da mentira”, afirmou em nota.

O advogado de Eduardo Cunha, Délio Lins e Silva Júnior, afirmou que até o momento Funaro não entregou provas sobre os valores que teriam sido repassados ao deputado cassado. “A anotação dele é unilateral, é da cabeça dele. Ele não apresentou prova nenhuma de como Cunha recebeu valores em relação a nenhuma das operações.”

Já o Grupo Bertin, em nota, informou que, mesmo sem acesso ao conteúdo do depoimento de Funaro, “a empresa mantém-se à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos que eventualmente sejam necessários”. A reportagem não localizou o ex-jogador de futebol Vampeta.

 

São Paulo. Temer ao deixar o Hospital Sírio-Libanês anteontem