O Estado de São Paulo, n. 45305, 01/11/2017. Política, p. A7.

 

CPI da JBS convoca ex-chefe de gabinete de Janot

Renan Truffi / Breno Pires

01/11/2017

 

 

Eduardo Pelella é um dos nomes da equipe do ex-procurador-geral envolvidos na suspeita de irregularidades na condução do acordo do Grupo J&F

 

 

A CPI mista da JBS aprovou ontem a convocação do procurador regional da República Eduardo Pelella para depor na condição de testemunha. Pelella foi chefe de gabinete e braço direito do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

O procurador é um dos nomes da equipe de Janot envolvidos na suspeita de irregularidades na condução do acordo de colaboração premiada do Gru- po J&F. O ex-procurador-geral suspendeu parte da delação após executivos do grupo citarem o auxílio do ex-procurador Marcello Miller, suspeito de fazer “jogo duplo” durante as negociações do acordo.

O “braço direito de Janot” já havia sido convidado pela CPI mista para responder a questões formuladas por parlamentares. Mas, como se tratava apenas de um convite, Pelella recusou. Ele justificou que, por ser membro do Ministério Público Federal, tem direito ao sigilo.

Os parlamentares rechaçaram o argumento de Pelella. A negativa fez com que aprovassem em votação simbólica um requerimento de convocação, conforme antecipou ontem a Coluna do Estadão.

Uma vez convocado, ele é obrigado a se apresentar ao colegiado, sob o risco de ser conduzido coercitivamente. O depoimento de Pelella foi agendado para o dia 7 de novembro.

 

Reação. A convocação foi criticada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). “É um atentado à atuação independente do Ministério Público e um desvirtuamento do nobre instrumento que é uma CPI a convocação de um membro do MPF para prestar depoimento sobre fatos relacionados à sua função, principalmente em uma apuração ainda em andamento perante o Supremo Tribunal Federal, que pode implicar membros de Poderes do Estado e levar à revelação de documentos e provas ainda sob sigilo”, afirmou a entidade por meio de nota.

A comissão deve tentar ouvir ainda o próprio Janot. Ele já te- ve um convite aprovado na CPI mista e, segundo o presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), a intenção é marcar uma audiência no fim de novembro ou no início de dezembro. “Está aprovado requerimento de convite de Janot. Vamos ver se ouvimos ( Janot), deve ser depois do ( empresário) Wesley Batista, dia 8 de novembro, e do Pelella”, disse Ataídes. Um requerimento para transformar o convite em convocação foi apresentado pelo relator da CPI mista, deputado Carlos Marun (PMDB-MS).

Os parlamentares convocaram também o empresário Victor Garcia Sandri, do Grupo Empresarial Cimentos Penha. Sandri é próximo ao ex-ministro Guido Mantega.

O empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, afirmou, em acordo de colaboração premiada, que pagava suborno a Mantega por meio de Sandri para conseguir aportes do BNDES. O ex-ministro disse conhecer Sandri, mas nega ter cometido irregularidades.

Procurado, Pelella não quis comentar a convocação.

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Saud diz que foi preso após ‘falar a verdade’

Renan Truffi / Breno Pires

01/11/2017

 

 

O executivo do Grupo J&F Ricardo Saud afirmou ontem, durante sessão da CPI mista da JBS realizada no Senado, que foi preso após falar a verdade. “As palavras do senhor, que eu quero ajudar o País, eu quero, mas a primeira vez que eu sentei para falar a verdade eu fui preso. Já pensou se eu continuar falando? Então eu vou ficar calado”, disse o executivo, que fez delação premiada.

Durante a maior parte de seu depoimento, Saud evitou responder aos questionamentos de senadores e deputados. A cada pergunta, ele repetia que gostaria de garantir seu “sigilo” como forma de “manter os direitos constitucionais”. No entanto, diante da insistência de parlamentares, declarou apenas que tem “muito” para falar.

“Eu queria, não frustrando Vossas Excelências, lembrar que a suspensão do meu acordo (de delação premiada) está cautelado e vou permanecer calado seguindo meu direito constitucional. Tão pronto sejam restabelecidos meus direitos, eu voltarei a colaborar com a Justiça”, disse Saud aos parlamentares.

Ontem, Saud negou ter omitido informações no acordo fechado com a Procuradoria-Geral da República. “Uma pessoa que faz cinco ações controladas, com cinco a dez pessoas da Polícia Federal, vai sentar com a PGR depois e mentir?”, disse.

 

Suspensão. O acordo de colaboração de Saud e de outros delatores da J&F foi suspenso após virem à tona informações de que os delatores teriam omitido dados dos investigadores. A suspensão do acordo foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, a pedido do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. O cancelamento em definitivo do acordo já foi solicitado por Janot, mas o pedido aguarda uma decisão de Fachin.

Diante da postura de Saud, os congressistas tentaram convencê-lo a falar em sessão fechada, sem a presença da imprensa. O executivo então deixou claro que tem interesse em falar. “Eu não me escondo. Quando minhas premissas forem restabelecidas, eu quero falar, e muito”, afirmou o colaborador.

Saud foi preso em 10 de setembro junto com o empresário Joesley Batista, acionista da J&F.