Correio braziliense, n. 19950, 06/01/2018. Política, p. 2

 

Bolsonaro fecha com o nanico do PSL

Natália Lambert

06/01/2018

 

 

Pulando de um partido para outro desde 1988, deputado que aparece em segundo lugar nas pesquisas para o Planalto acerta parceria com a legenda comandada por integrantes do baixo clero na Câmara. A confirmação, porém, só deve ocorrer em março

Segundo colocado em todas as pesquisas eleitorais para a Presidência da República, com cerca de 20% das intenções de votos, e com uma militância aguerrida, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP) — oficialmente ligado ao PSC — fechou parceria com o Partido Social Liberal (PSL) para concretizar o projeto de comandar o Palácio do Planalto a partir de 2019. O compromisso era com o Patriotas (PEN), mas, alegando falta de espaço na sigla, abriu brecha para contato com o PSL e anunciou o acordo ontem. O documento oficial será assinado durante a janela partidária, de 7 de março a 7 de abril.

Desde o início do ano passado, quando já anunciava que seria candidato à Presidência da República, Bolsonaro foi escanteado pelo PSC, partido que o abrigou em março de 2016, quando ele deixou o PP. Representantes da sigla afirmam que o deputado não representa a ideologia da legenda e lideranças não estavam dispostas a bancar o projeto presidencial. Desde então, ele vinha procurando um lugar que o abraçasse por inteiro — ser o personagem principal da legenda é uma das exigências de que não abre mão.

Depois de conversar com muitas siglas consideradas nanicas, entre elas o PSDC, de José Maria Eymael, e a que nem chegou a ser formada, Muda Brasil, assinou um compromisso de filiação com o Patriotas (PEN), em 23 de novembro do ano passado. O deputado alega que quem descumpriu o acordo foi o Patriotas. “Eles prometeram um jantar em um restaurante refinado e o levaram a um pé-sujo”, afirma um assessor. Um dos principais conflitos foi por causa do comando do diretório estadual de São Paulo. O deputado exige pessoas da sua confiança em unidades da Federação estratégicas como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. “Se for pra ser mais do mesmo, a gente não tem interesse”, acrescenta.

Já o presidente nacional do PEN, Adilson Barroso, conta que tinha entregado, praticamente, todo o partido ao grupo de Bolsonaro: a presidência, 23 diretórios estaduais, cinco vagas na executiva nacional. “Nada disso bastava. Eles queriam o partido inteiro.” Barroso explica que perdeu 11 deputados estaduais por causa dos conflitos e estava prestes a ficar ainda menor. E, por isso, os advogados de Bolsonaro reclamaram que a legenda estava enfraquecida e poderia não alcançar o coeficiente eleitoral nas urnas.

“Coloquei a mão na consciência e percebi o que estava fazendo. Eles estavam destruindo o nosso partido. Então, retomei tudo e disse, ‘agora você tem comigo 100% da candidatura’, que é o que prometi. Se eles querem um partido, que fundem um ou tomem de outro”, reclama o presidente do Patriotas. Ainda assim, Barroso afirma que deixará a vaga para disputar a Presidência aberta a Bolsonaro: “Ele vai dar umas voltas por aí, vai se arrepender e vai voltar. E eu, como filho pródigo, vou perdoar e aceitá-lo de volta”, projeta Adilson Barroso.

Crise

O namoro com o PSL foi muito celebrado pelo presidente da legenda, Luciano Bivar, que não teria demonstrado nenhum empecilho às exigências do político. Em carta divulgada à imprensa, no início da noite de ontem, Bivar ressaltou a parceria. “É com muito orgulho que o PSL recebe o deputado Jair Bolsonaro e sua pré-candidatura à Presidência da República. Outrossim, é com muita honra que o deputado se sente abrigado pela legenda, e muito à vontade em um partido onde existe total comunhão de pensamentos”, destaca trecho do documento.

Entretanto, a reação foi imediata. Ligado ao movimento Livres desde dezembro de 2015, o partido perdeu parte dos aliados. Liderado por um dos filhos de Luciano, Sérgio Bivar, o movimento estava no comando de 12 diretórios estaduais e trabalhava focado em três diretrizes, liberdade, participação e transparência. “A chegada do deputado Jair Bolsonaro, negociada à revelia dos nossos acordos, é inteiramente incompatível com o projeto do Livres de construir no Brasil uma força partidária moderna, transparente e limpa”, destaca trecho da nota de repúdio divulgada pelo movimento, que tem entre os integrantes a economista e ex-tucana Elena Landau, que foi diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na época do governo Fernando Henrique Cardoso.

Migração
partidária

Desde que ingressou na vida política, em 1988, o deputado federal Jair Bolsonaro já 
integrou sete partidos. 
Confira o histórico:

» 1988 a 1993: PDC

» 1993 a 1995: PPR

» 1995 a 2003: PPB

» 2003 a 2005: PTB

» 2005: PFL

» 2005 a 2016: PP

»  2016 à atualidade: PSC

» 2017: firmou compromisso 
com o Patriotas (PEN)

» 2018: PSL

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Conversa entre Maia e Paulinho

Paulo de Tarso Lyra

06/01/2018

 

 

Pulando de um partido para outro desde 1988, deputado que aparece em segundo lugar nas pesquisas para o Planalto acerta parceria com a legenda comandada por integrantes do baixo clero na Câmara. A confirmação, porém, só deve ocorrer em março

Cada vez mais disposto a testar o próprio nome como possível presidenciável neste ano, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encontrou-se ontem com o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP) para sondar o apoio a ele no movimento sindical. Paulinho, que preside a Força Sindical, não esconde a preferência pelo demista na corrida para o Planalto. “Eu disse a ele que existe um vácuo, um espaço a ser ocupado nessa disputa. E não é o Alckmin (Geraldo Alckmin) que tem condições de preencher essa lacuna”, disse Paulinho.

Maia reconheceu que o cenário ainda está em aberto, mas está reticente sobre a possibilidade de ocupá-lo neste instante. “O Rodrigo falou que é preciso aguardar o desenrolar dos fatos. Não quer se antecipar a nada. Tampouco descartou a possibilidade”, animou-se o sindicalista. Os dois divergem, contudo, em relação à reforma da Previdência. “Ele está animado, acha que dá para votar em fevereiro, embora saiba que ainda é difícil. Para mim, se o governo Temer colocar, a qualquer momento, essa matéria para ser votada em plenário, perde”, completou Paulinho.

O Planalto acompanha com atenção os movimentos do demista. Aliados do presidente Temer afirmam que ele não precisa colocar-se como presidenciável para defender a reforma da Previdência. “Todos nós sabemos do empenho dele em defender essa matéria. Mas, obviamente, se ele entregar os votos, cacifa-se no grupo de partidos que compõem a coalizão governista”, afirmou um interlocutor presidencial.

Para esse mesmo governista, Alckmin e Maia vivem situações antagônicas. “Alckmin tem recall, mas precisa provar que entregará os votos do PSDB à reforma da Previdência. Se conseguir, ainda precisará fazer a reaproximação com os partidos que apoiam o governo, já que se distanciou de nós quando ocorreu a denúncia contra o presidente Michel Temer.”

Mesmo que a Previdência não venha a ser aprovada, Paulinho acredita que Maia poderá se capitalizar politicamente. “Como essa é uma bandeira genuína dele e será inevitável que o assunto seja novamente discutido na campanha eleitoral, o Rodrigo poderá apresentar-se como fiador da proposta. Todos nós sabemos que é preciso fazer algo na Previdência. Ele poderá pautar esse debate como plataforma eleitoral”, defendeu Paulinho.

A disposição de Maia em ser candidato vem mudando progressivamente. Em meados de 2017, considerava essa possibilidade uma loucura. Hoje, não só defende que o DEM deva apresentar um candidato ao Planalto como se colocou, na semana passada, como uma das quatro ou cinco opções da legenda. Os demais nomes, em tese, seriam do prefeito de Salvador, ACM Neto, que pretende concorrer a governador da Bahia; e do senador Ronaldo Caiado (GO).