Correio braziliense, n. 19951, 07/01/2018. Política, p. 3

 

Por um candidato entre Lula e Bolsonaro

Paulo de Tarso Lyra

07/01/2018

 

 

ELEIÇÕES » Especialistas avaliam a procura dos partidos políticos por um concorrente que fique no meio-termo entre as ideias dos líderes das pesquisas de intenção de voto até agora

Nas últimas semanas, virou mania no país a busca por um candidato de centro. Em tese, esse nome serviria para se contrapor aos extremistas que atualmente lideram as pesquisas: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro, recém-filiado ao PSL. Para ocupar esse vácuo, são citados nomes como do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O debate, no caso brasileiro, é inócuo. Em nossa história recente pós-democratização, não importa quem seja o vitorioso nas urnas: para governar, o político, inevitavelmente, migra para o centro. A novidade, desta vez, é que esse movimento está acontecendo já durante a campanha eleitoral.

“O nosso modelo impede que o desfecho seja diferente. Existe uma fragmentação partidária e o presidente necessita formar uma maioria no Congresso se quiser governar. O centro político, no caso do Brasil, não é ideológico. É a capacidade do governante de compor com a maior parte das correntes políticas possíveis”, explica Cristiano Noronha, cientista político da Arko Advice.

Esse mix acaba prevalecendo também na sociedade. O eleitor de centro defende uma rigidez fiscal, mas não dá as costas à necessidade de programas sociais que beneficiem os mais carentes. Nada daquele perfil sisudo, que combina mais com a direita, de alguém avesso aos direitos humanos e/ou liberal econômico a ponto de defender o Estado mínimo. Ele tem medo de ser assaltado quando sai à rua, evidentemente. Mas não é adepto da cultura de que bandido bom é bandido morto.

“O eleitor brasileiro é de centro e não ideológico. E por que isso? Porque, tirando alguns integrantes de movimentos sociais, filiados aos partidos ou quem participa do movimento estudantil, a única preocupação do cidadão comum é com o dia a dia: emprego, segurança, escola para os filhos. Ele só vai pensar em política às vésperas da eleição, quando para para escolher em quem vai votar”, justifica o professor de ciência política do IBMEC-MG, Lucas Azambuja.

Para ele, no caso dos candidatos, é natural a migração de uma posição mais ideológica ao longo da campanha para um tom mais conservador quando chegam ao poder. “Durante a campanha, eles estão em busca do eleitor. Começam mais radicais, vão amansando o discurso para ampliar o número de apoios. Quando chegam ao Planalto, têm de negociar com a política e os partidos. O tom radical gera embates que paralisam a administração”, completa o professor.

O especialista em marketing digital Marcelo Vitorino afirma que esse discurso centrista dos candidatos está sendo antecipado por uma questão de conveniência: a percepção de que os votos brancos, nulos e a abstenção vão aumentar no próximo pleito eleitoral. “Os candidatos perceberam que não existe mais espaço — e isso vem crescendo desde o escândalo do mensalão — para discursos radicalmente ideológicos, porque o eleitor está desencantado com a política”, resume.