Valor econômico, v. 18, n. 4392, 01/12/2017. Política, p. A2.

 

 

Informais puxam alta do emprego e da renda

Estevão Taiar, Ana Conceição e Bruno Villas Bôas

01/12/2017

 

 

O mercado de trabalho informal foi mais uma vez determinante para a queda do desemprego no trimestre encerrado em outubro. E desta vez também teve papel fundamental no aumento da quantia recebida pelos trabalhadores, que apresentou alta recorde.

A taxa de desemprego caiu de 12,4% em setembro para 12,2% em outubro, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou em linha com a média das projeções de 22 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data. Já a massa de rendimento real habitual cresceu 4,2% em relação ao mesmo período do ano passado, a maior alta da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), iniciada em 2012.

"Como a massa de rendimentos é a base do consumo corrente da população, caso esse ritmo de crescimento se sustentar, tornam-se bastante favoráveis as perspectivas de uma reação do consumo das famílias", diz em relatório a equipe econômica do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para os analistas, não apenas o varejo e os serviços devem se beneficiar dessa alta, "mas também todas as atividades voltadas para o mercado interno da indústria e da agricultura".

"A recuperação do mercado de trabalho vai ser importante para a retomada do consumo das famílias e a retomada da atividade, já que os investimentos devem andar de lado em função das eleições", diz Daniel Silva, economista da Modal Asset.

Embora veja com cautela a melhora do mercado de trabalho, já que boa parte dos empregos criados de um ano para cá são de "baixa qualidade", Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs, reconhece que a "dinâmica recente da taxa de desemprego e dos salários reais é encorajadora".

Boa parte da melhora da massa de rendimentos veio do setor informal. A renda dos sem carteira aumentou 2,9%, acima do aumento médio dos salários no país, de 2,5% em termos reais. Em setembro, ela já havia subido 1,6% após três quedas seguidas.

Ainda que a remuneração média dos trabalhadores sem carteira seja baixa (R$ 1.253) e perca apenas para a do trabalhador doméstico (R$ 843), as vagas informais, incluindo os trabalhadores por conta própria, têm puxado a melhora do mercado. Das 2,303 milhões de vagas geradas no país neste ano, 75% (1,743 milhão) foram sem carteira. Na comparação com o trimestre anterior, essa categoria foi a que teve, de longe, o maior aumento real: 4,1%.

O setor privado, por sua vez, gerou apenas 17 mil vagas no acumulado deste ano, variação avaliada como estatisticamente irrelevante pelo IBGE. Nas contas, o instituto considerou o desempenho acumulado desde o período de fevereiro a abril deste ano até o trimestre encerrado em outubro.

"Você tem uma crise econômica, um cenário político conturbado, o que de certa forma inibe o empreendimento. Então, você tem pessoas entrando no mercado pela informalidade", diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. "Mas, com a massa de renda aumentando, talvez possamos ver o início de retomada de postos de trabalho formais".

Também para Bruno Ottoni, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), as incertezas a respeito da eleição presidencial atrapalham a retomada dos empregos com carteira assinada. "É natural que o empregador procure contratar via informalidade", diz

Informalidade à parte, a despeito de a taxa de desemprego ter subido de 11,8% para 12,2% de outubro do ano passado para este ano, a população ocupada cresceu 1,662 milhão de pessoas no período.

O aumento da taxa de desocupação aconteceu porque mais pessoas saíram da inatividade (230 mil) ou chegaram à idade de trabalhar (2,13 milhões) e foram para o mercado: 2,36 milhões no total. Nem todas encontraram emprego: 698 mil.

A população que trabalha e recebe alguma renda subiu de 89,883 milhões no ano passado para 91,545 milhões neste ano, o que também ajuda a elevar a renda disponível.

A situação do mercado de trabalho "parece um pouco pior, mas na realidade é positiva" em relação ao mesmo período de 2016, diz Daniel Silva, da Modal Asset.

Por outro lado, o número de pessoas em busca de alguma vaga, 12,74 milhões, ainda é quase o dobro do mesmo período em 2014, 6,45 milhões, quando a crise começava a afetar o mercado de trabalho.