Título: O peso dos impostos
Autor: Ribas, Sílvio ; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2012, Economia, p. 9

O "sacrifício fiscal" prometido pelo governo para salvar o setor produtivo está longe do ideal, na visão de economistas. Dados da Secretaria da Receita Federal mostram que, nos últimos anos, o Ministério da Fazenda desonerou de um lado, mas, de outro, aumentou impostos e contribuições. Não à toa, a arrecadação continua batendo recordes e a chiadeira dos empresários é grande, a ponto de a própria presidente Dilma Rousseff admitir que a gula do Leão é imensa, inibindo investimentos e a criação de empregos.

"Para as empresas se tornarem mais competitivas, serão necessárias medidas mais profundas do que as prometidas para hoje. O país precisa, mesmo, de uma reforma tributária, para que tenhamos um Estado menos pesado", disse Haroldo Mota, professor de economia da Fundação Dom Cabral. "O que temos visto são soluções de curto prazo para problemas de longo prazo. Os problemas de competitividade do setor produtivo brasileiro não estão apenas no dólar barato, passam por questões monetárias (juros elevados), tributárias (excesso de tributos) e infraestrutura deficiente", observou Fábio Gallo Garcia, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Sem sacrifício Segundo a economista Zeina Latif, o governo federal está em uma situação muito confortável para dar algum alívio fiscal à indústria neste momento, por causa da disparada da arrecadação. Mas, a seu ver, é pouco o que está sendo feito. "Ainda que a Fazenda tenha dado isenções, outros tributos aumentaram, como foi o caso do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Ou seja, não se está fazendo sacrifico algum", avaliou Zeina. Ela destacou ainda a importância de os incentivos à produção e ao consumo não se chocarem com a política de corte de juros do Banco Central. "Um aquecimento muito forte da atividade pode trazer de volta o fantasma da inflação", alertou.

Para o economista Luís Eduardo Assis, do Banco Fator, apesar dos esforços da presidente Dilma, o espaço de manobra do governo para beneficiar a indústria é limitado. "É fácil dizer que as medidas tem fôlego curto. Mas o fato é que o Palácio do Planalto não tem munição para propor e aprovar uma agenda de reformas de maior envergadura", resumiu. (VM e SR)