Título: Leis vão na contramão
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2012, Economia, p. 10

A desoneração da folha de pagamento para incentivar os setores da indústria considerados estratégicos está longe de atender a necessidade dos empresários. Enquanto o governo discute medidas paliativas, membros da própria equipe da presidente Dilma Rousseff e parlamentares apoiam projetos que só tendem a encarecer a mão de obra. Em vez de reformular o emaranhado de 2,4 mil leis trabalhistas que infernizam a vida das fábricas, avaliam-se propostas como licença-maternidade de 180 dias, licença-paternidade de 15 dias e folgas para comemorar o aniversário ou realizar concursos públicos.

"Toda vez que o país aumenta o custo do trabalho sem uma contrapartida de produtividade, ele prejudica, em primeiro lugar, o trabalhador; depois, os patrões e a economia como um todo", afirmou José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele destaca que o custo de contratação no Brasil já equivale, hoje, a 102,43% do salário pago. Mas que, quando se observam os detalhes, esse índice pode ser muito maior. "Ele está inflado por vários fatores escondidos, mas que são reais. Com as sentenças judiciais, por exemplo, sobe bastante. Existe até o auxílio-solidão", lembrou.

Não bastasse o elevado custo para contratar, o preço para manter os trabalhadores está crescendo em ritmo muito maior que a sua capacidade de gerar resultados. Pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o salário real na indústria cresceu 12,4% de 2008 a 2011, a produtividade avançou apenas 4,7%.

José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos, atribuiu a baixa produtividade a deficiências históricas no país, como a educação de péssima qualidade. "O governo está preocupado, com razão. Mas está tendo reações de curto prazo. Ele não está prestando atenção a fatores estruturais que vão afetar a indústria a longo prazo, como a tributação ineficiente e a legislação trabalhista", considerou.