Título: Mesmo com incentivo, energia continua cara
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2012, Economia, p. 10

Empresas como as de alumínio e as de siderurgia reclamam de custos, que retiram a competividade do produto nacional NotíciaGráfico

A redução do elevado custo da energia elétrica — um dos maiores inimigos da competitividade da indústria brasileira e uma das principais reivindicações dos empresários — entrou, finalmente, na pauta de preocupações do governo em relação à indústria. As companhias de energia deverão ser contempladas no pacote de estímulos que será lançado hoje pela presidente Dilma Rousseff. Entre outras medidas, será anunciada a desoneração da folha de pagamento das empresas. Mas a percepção entre elas é de que, embora o governo finalmente tenha cedido aos apelos do setor, a iniciativa será insuficiente para reduzir os custos de produção e da energia fornecida às fábricas brasileiras.

Apesar de a geração hidrelétrica responder por 80% do total e apresentar um dos menores preços na usina, os valores acrescentados na transmissão e na distribuição e, sobretudo, a pesada carga tributária tornam a eletricidade um fator de risco à sobrevivência de milhares de empresas.

Até então, a única sinalização do governo para tentar aliviar um pouco a tarifa está na negociação para renovar as atuais concessões do setor, com impacto só em 2015. "É uma pena que as medidas não tenham tido uma abordagem mais estrutural. No caso da energia, uma redução dos preços teria efeitos benéficos sobre toda a cadeia produtiva e não só em um segmento", diz Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Só os 14 encargos setoriais respondem por 17% da tarifa final de energia elétrica da indústria.

Ele ressalta que os maiores clientes de eletricidade do país, chamados de eletrointensivos, também estão na base do setor produtivo, como os segmentos químico, plástico, siderúrgico e de vidros. "Reduzir seus custos favorecia muito o consumidor e as exportações de manufaturados", pondera.

Os especialistas também lamentam o fato de que uma série de fatores impede a redução da tarifa de energia elétrica. Mesmo a perspectiva de entrada em operação nos próximos anos de grandes hidrelétricas, atualmente em construção no norte do país — Santo Antônio (RO), Jirau (RO) e Belo Monte (PA) — não deverá ajudar. A razão disso é que sua energia vai absorver o impacto dos gastos com transporte para pontos de consumo a milhares de quilômetros. A alternativa das fontes térmicas também traz o agravante do custo.

Na avaliação do gerente da equipe de Estudos Econômicos e Financeiros da consultoria Andrade e Canellas, Ricardo Savoia, o governo deveria ter contemplado no seu pacote de ajuda à indústria uma redução do valor da eletricidade, visando aliviar setores que têm nela o seu principal insumo.

Portas fechadas

A vítima mais flagrante do elevado preço da energia elétrica está no setor de alumínio. A eletricidade é o seu maior custo e há anos não se investe numa fábrica nova no setor. Além disso, duas unidades industriais foram fechadas desde 2010 por não suportar a concorrência dos importados com o atual custo de produção. Drama semelhante atravessam as áreas siderúrgicas e a produção de azulejos, vidros e soda cáustica. Para completar, os constantes apagões criam constrangimentos adicionais para o setor produtivo.