O globo, n.30749 , 14/10/2017. PAÍS, p.5

Delação de doleiro acelera ação contra Cunha e Alves

VINICIUS SASSINE

 

 

Processo contra expresidentes da Câmara recebe possíveis provas

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu compartilhar anexos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro com a Justiça Federal em Brasília, o que aproxima os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) de uma nova sentença, desta vez na Operação Sépsis. Cunha vinha se recusando a prestar depoimento no processo, que já está em fase final de instrução, por não ter tido acesso aos depoimentos de Funaro.

Agora, o ex-presidente da Câmara deve prolongar sua estadia em Brasília, para onde foi transferido há um mês para participar de oitivas na Justiça. Ele só voltará a Curitiba no fim do mês.

Uma audiência marcada para a última quarta-feira foi cancelada pelo juiz titular da 10ª Vara Federal em Brasília, Vallisney de Souza Oliveira. Na ocasião, seriam ouvidos os cinco réus da ação penal: Cunha; Alves; Funaro; Fábio Cleto, exvice-presidente da Caixa Econômica Federal; e Alexandre Margotto, sócio de Funaro. Os três primeiros estão presos preventivamente na Lava-Jato. Os três últimos são delatores na operação.

TESTEMUNHAS JÁ OUVIDAS

Vallisney remarcou os depoimentos para o próximo dia 24, diante da informação de que o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF, determinou o compartilhamento de anexos da delação. As oitivas se estenderiam ao dia seguinte. Como os anexos da delação não haviam chegado até ontem, o juiz voltou a adiar as oitivas, para os dias 26 e 27.

A Sépsis é um desdobramento da Lava-Jato e investiga pagamentos de propina a partir de liberações de crédito do FIFGTS a empresas diversas. Cunha e Alves aparecem como principais beneficiários do esquema, segundo o do Ministério Público Federal (MPF).

A Procuradoria Geral da República (PGR) denunciou o grupo ao STF por crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e violação do sigilo funcional. Cassado o mandato de Cunha, em setembro de 2016, o processo foi enviado à primeira instância.

Fontes do MPF relatam que, liberados os anexos da delação de Funaro à defesa de Cunha, o processo vai deslanchar. Procuradores da República trabalham com a expectativa de encerrar todo o trabalho de instrução ainda este ano, o que já deixaria o processo pronto para sentença. Todas as testemunhas já foram ouvidas. Faltam as oitivas dos réus.