PAULO CELSO PEREIRA
LETICIA FERNANDES
Com críticas diretas à defesa do presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elevou ontem o clima de tensão com o peemdebista, de quem foi um dos principais aliados durante a análise da primeira denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República e rejeitada pelo plenário da Casa. Os ataques abertos ocorreram após o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, divulgar nota na qual renova as críticas à divulgação dos vídeos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, às vésperas da votação da segunda denúncia, por obstrução de Justiça e organização criminosa, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O material da colaboração premiada foi tornado público pela Câmara, em ato formal após receber a denúncia encaminhada pela ProcuradoriaGeral da República ao Supremo Tribunal Federal.
Na nota divulgada ontem, o advogado de Temer tentou amenizar a crise com a Câmara, depois de chamar, no sábado, a divulgação da delação de “criminosa”. Ele, porém, manteve a crítica à publicidade dada aos vídeos em que Funaro faz acusações contra o presidente.
“Jamais pretendi imputar ao Presidente da Câmara dos Deputados a prática de ilegalidade, muito menos crime, e hoje constatei que o ofício encaminhado a S. Ex.ª pela Presidente do STF, com cópia da denúncia e dos anexos que a acompanham, indicou serem sigilosos apenas autos de um dos anexos, sem se referir aos depoimentos do delator, que também deveriam ser tratados como sigilosos, segundo o entendimento do ministro Fachin, em consonância com o que tem decidido o Supremo Tribunal”, disse o advogado na nota.
Para Maia, a nota não elimina o erro por completo. Ele afirmou que os servidores da Casa devem processar Carnelós. E chamou o advogado “incompetente” e “irresponsável”.
— Não esperava que o advogado do presidente Michel Temer pudesse me agredir dessa forma, me chamar de criminoso. E depois, vendo o erro que cometeu, ele deveria ter tido a coragem de recuar. O ser humano erra e deve admitir o erro — afirmou o presidente ao GLOBO, completando: — Se ele quer admitir o erro pela metade, continua dizendo que eu e os servidores da Câmara somos criminosos. Sou o presidente da Câmara e o responsável por publicar aquilo que foi autorizado pelo Supremo (Tribunal Federal).
Rodrigo Maia argumenta que a Câmara cumpriu expressamente o que foi determinado pelo Supremo.
— Os servidores da Câmara cumpriram seu papel institucional e devem inclusive processar o advogado. Tudo o que está público foi autorizado pelo STF. Ele (Carnelós) está agredindo os servidores, que entregaram tudo, através do deputado Giacobo (primeiro-secretário da Câmara, responsável pela notificação dos denunciados), ao presidente e aos ministros. Antes de ele (Carnelós) agredir, chamar alguém de criminoso, tem que saber de onde saíram as informações.
A nota que detonou o agravamento da crise entre o presidente da Câmara e o núcleo do governo foi feita no sábado, após os vídeos de Funaro virem à tona.
“O vazamento de vídeos com depoimento prestado há quase dois meses pelo delator Lúcio Funaro constitui mais um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito. Tem o claro propósito de causar estardalhaço com a divulgação pela mídia como forma de constranger parlamentares (...) É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no País, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa.”
A crise com a defesa de Temer é o mais recente capítulo de um distanciamento crescente entre o presidente da Câmara e o presidente da República. O clima piorou desde que o PMDB, de Temer, passou a tentar filiar deputados que Maia vinha convidando a migrarem para o DEM. Ontem, Maia não quis falar de repercussões políticas do episódio do fim de semana:
— Antes de ser deputado do DEM e aliado do presidente, sou presidente da instituição e tenho muito respeito por seus servidores. Não estou preocupado com repercussão, estou preocupado em defender minha honra e a dos funcionários da Casa, porque eles trabalham permanentemente pela instituição — afirmou Rodrigo Maia. Em ação. Advogado Eduardo Carnelós (à direita), que defende o presidente Temer, fala ao lado do relator da denúncia na CCJ da Câmara, deputado Bonifácio Andrada