O Estado de São Paulo, n. 45313, 09/11/2017. Política, p.A4

 

 

 

 

Com apoio do PMDB, Temer troca de diretor da PF

Executivo. Delegado Fernando Segóvia vai assumir comando da Polícia Federal em substituição a Leandro Daiello; ministro da Justiça afirma que decisão foi do presidente

Por: Eliane Cantanhêde / Andreza Matais / Fábio Serapião

 

Eliane Cantanhêde

Andreza Matais

Fábio Serapião / BRASÍLIA

 

O presidente Michel Temer (PMDB) trocou ontem o comando da Polícia Federal. Fernando Segóvia vai assumir o posto de diretor-geral em substituição a Leandro Daiello, o mais longevo delegado à frente da corporação – ele assumiu em 2011, primeiro ano do governo da presidente cassada Dilma Rousseff. A informação foi antecipada pelo portal estadão.com.br e confirmada pelo governo federal.

O Estado apurou que Segóvia foi indicado a Temer pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), investigado na Operação Lava Jato, e pelo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes (mais informações na Coluna do Estadão).

De acordo com a Casa Civil, Padilha não atuou na nomeação para o comando da PF e a indicação é atribuição “exclusiva” do ministro da Justiça, Torquato Jardim. Em nota, porém, o titular da Justiça informou que a escolha foi do presidente Michel Temer e expressou a Daiello “seu agradecimento pessoal e institucional pela competente e admirável administração da Polícia Federal nos últimos seis anos e dez meses”.

A troca no comando da PF ocorre dois meses depois de Daiello ter aceitado permanecer no cargo até o fim do governo Temer. Ele havia pedido para deixar o cargo, mas foi convencido por Torquato, a quem a PF é subordinada, a permanecer para evitar que o governo o substituísse justamente por Segóvia, que não receberia apoio da atual cúpula da corporação, mas teria a preferência dentro do PMDB.

Daiello vinha defendendo o nome de Rogério Viana Galloro, atual diretor executivo da PF, o número 2 da instituição, para o cargo de diretor-geral. Galloro agora vai assumir a Diretoria Américas da Interpol depois de obter 137 dos 140 votos dos países-membros da entidade, em votação em Pequim, na China, há três semanas.

Segóvia tem dito a colegas de corporação que todos os diretores são nomeados por políticos e que isso não terá influência no trabalho a ser desempenhado na instituição responsável pelas maiores operações de combate à corrupção no Brasil. Nos bastidores, ele afirmou ontem que pretende dar continuidade ao trabalho desenvolvido por Daiello e manter a atenção às investigações dos crimes de colarinho-branco.

 

Encontro. Na tarde de ontem, após se reunir com Torquato e Temer, Segóvia foi ao encontro de seu antecessor na sede da PF, no prédio conhecido como Máscara Negra. O novo diretor estava acompanhado do delegado Sandro Avelar, cotado para ser seu diretor executivo na nova gestão. Ele subiu à sala de Daiello por volta das 16 horas.

O novo diretor e Daiello conversaram por cerca de uma hora. Após esse período foram chamados alguns diretores e chefes da Comunicação Social da PF para participar da conversa. Eles encerraram a reunião por volta das 19 horas. O Estado apurou que foram tratadas apenas questões administrativas.

A posse do novo diretor-geral está marcada para o próximo dia 20 e, até lá, haverá uma transição na corporação.

Segóvia é delegado de carreira e formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), com 22 anos de atuação. Foi superintendente regional da Polícia Federal no Maranhão e adido policial na República da África do Sul.

 

Mudança. Leandro Daiello (à dir.) cumprimenta seu sucessor no comando da PF, Fernando Segóvia, na sede da corporação

 

 

 

 

Em nota, entidades manifestam apoio a novo comando

Por: Fábio Serapião

Em nota pública, cinco entidades de classe de policiais federais manifestaram apoio à indicação do delegado Fernando Segóvia para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, em substituição a Leandro Daiello.

“O DPF Fernando Segóvia tem extensa folha de serviços bem prestados à instituição Polícia Federal”, diz a nota, subscrita pela Associação Brasileira dos Papiloscopistas Policiais Federais, Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Federação Nacional dos Policiais Federais e Sindicato Nacional dos Servidores do Plano Especial de Cargos da Polícia Federal.

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), principal e mais influente entidade da categoria, divulgou nota em separado, na qual deseja “sorte e sucesso” ao novo diretor-geral. “Conforme mencionado reiteradas vezes, a ADPF tem como uma de suas principais bandeiras a mudança na forma de escolha do diretor-geral da Polícia Federal, sempre por meio de lista tríplice, votada pelos delegados federais integrantes da carreira, assim como vem acontecendo em outras instituições”, afirma o texto./ F.S.

 

 

 

 

 

 

O mais longevo chefe da corporação

PERFIL / Leandro Daiello, diretor-geral da Polícia Federal
Por: Fábio Serapião / Fausto Macedo

 

Com o anúncio da nomeação do novo diretor-geral da Polícia Federal sai de cena o mais longevo comandante da corporação no período democrático, Leandro Daiello Coimbra, que durante seis anos e dez meses dirigiu a instituição. Sob sua gestão, a PF protagonizou as maiores operações de combate à corrupção e a malfeitos em administrações públicas, como Lava Jato, Acrônimo, Zelotes e Calicute.

Quando assumiu a cadeira, em 2011, no governo Dilma Rousseff, Daiello pegou uma PF renovada. Investigadores veteranos haviam pedido aposentadoria e outros foram “encostados” em cargos burocráticos em uma “reciclagem” promovida por seu antecessor, Luiz Fernando Corrêa.

Daiello não tinha em seus planos profissionais tal desafio. Em 2011 ele dirigia a PF em São Paulo e estava de malas prontas para assumir a adidância em Roma, seu sonho e de sua família. “Troquei Roma por Brasília”, resignava-se.

Com a mudança geral dos quadros da instituição, Daiello herdou um aparato idealista, com uma força jovem e de elevado grau de politização. Habilidoso e conciliador, soube contornar críticas.

A Lava Jato caiu no seu colo, em 2014, a partir da investigação do pessoal de Curitiba. Sob sua tutela, foi criado o Grupo de Inquéritos da Lava Jato no Supremo. Com os inquéritos apontando para políticos, Daiello foi se fortalecendo, especialmente porque sua saída era vista como retaliação à Lava Jato.

Resistiu à passagem de seis ministros da Justiça, que o mantiveram por sua lealdade e conhecimento das investigações. O segredo do diretor pode ser medido na declaração recorrente do ex-ministro José Eduardo Cardozo. No auge da Lava Jato, cada vez que era cobrado por aliados do governo Dilma se não tinha controle da PF, Cardozo dizia que recebia pressão dos adversários, com a mesma reclamação. Com isso, mandava recado claro a seus interlocutores: o governo não exercia ingerências sobre as investigações da PF de Daiello. / F.S. e FAUSTO MACEDO