Correio braziliense, n. 19957, 13/01/2018. Política, p. 4

 

Entrevista - Carlos Marun 

Rodolfo Costa 

13/01/2018

 

 

"Existe um clamor pela aprovação das reformas"

O governo não pretende recuar do compromisso firmado com o PTB e vai manter o empenho na Justiça para empossar a ministra do Trabalho e Emprego, Cristiane Brasil. É o que assegura o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun. Ao Correio, Marun garante que, apesar do desgaste, o imbróglio não provocou impactos nas articulações pela aprovação da reforma da Previdência, que seguem a todo vapor.

A postura do governo tem sido determinante para manter o apoio e sinalizar aos parlamentares a postura do governo de cumprir com os acordos, pondera Marun. “Todos estão vendo, digamos, a forma altiva com a qual o governo está tratando o caso. Não há nenhum pensamento neste sentido (de recuar). E, obviamente, quando me expresso com firmeza, expresso o posicionamento do presidente (Michel Temer)”, afirmou.

Todo o impasse em nomear a ministra tem deixado o governo apreensivo, admite o ministro. Mas ele assegura que não há impactos disso sobre a reforma da Previdência. “Não tem influência. O que nós entendemos é que nem o governo nem  o Congresso pode abrir mão de suas prerrogativas. A independência e harmonia entre os poderes são princípios do sistema democrático”, sustentou.

O ministro trabalha com os líderes aliadas para aprovar as mudanças nas regras previdenciárias. Mantém contato com parlamentares por telefone e tem recebido retornos otimistas dos aliados. “Ao contrário do que muitos pensávamos, já existe um clamor bem consistente pela aprovação das reformas”, declarou. Marun admite, no entanto, que está entristecido com o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P).

Apesar do corte no rating, o ministro garante que é uma motivação para que a articulação política se mantenha firme. “Este rebaixamento nos entristece. Mas a verdade é que corrobora aquilo que nós e os setores lúcidos da sociedade já sabiam e dizemos há um bom tempo. Sem a reforma, não tem saída. Não existe futuro para o Brasil se nós não modernizarmos a nossa Previdência e transformá-la em uma Previdência mais justa e igual para todos os brasileiros”, disse. Confira os principais pontos da entrevista:

Qual a avaliação do governo sobre o rebaixamento da nota de crédito pela agência de classificação de risco Standard and Poor’s? 
Isso corrobora aquilo que nós já sabíamos, e os setores lúcidos da sociedade, também. Não existe futuro para o Brasil se nós não modernizarmos a nossa Previdência e transformá-la em uma Previdência mais justa e igual para todos os brasileiros. Este rebaixamento nos entristece, mas a verdade é que corrobora o que nós estamos dizendo já há um bom tempo. Sem reforma da Previdência, não tem saída.

O rebaixamento reforça o discurso pela aprovação da reforma da Previdência?
Eu não acho. Eu não vejo mais dúvidas em parlamentares quanto à necessidade da reforma. Não vejo mais essa dúvida. Tanto (parlamentares) de situação quanto de oposição estão conscientes da necessidade da reforma. Uns são contrários porque são de oposição, porque são contra o governo, e são contra o Brasil. Outros porque tem um receio em relação às consequências negativas nas próximas eleições. O discurso está posto. (O rebaixamento) Não reforça o discurso. O que, hoje, nós precisamos, é que a sociedade comece a se manifestar. Aqueles setores que são favoráveis comecem a se manifestar para que os parlamentares possam perder esse receio. E isso já está acontecendo, porque a reforma está mais perto de ser aprovada.

O governo já tem a quantidade de votos suficientes na Câmara?
Devemos fazer a contagem na última semana de janeiro, para iniciarmos fevereiro, quando os parlamentares voltarão a Brasília, com um quadro mais correto e mais atualizado dessa situação.

Havia uma previsão inicial de que, em 15 de janeiro, o governo teria algum balanço concreto. Essa data fica, então, adiada?
Ficou para a última semana para que nós possamos receber os parlamentares em Brasília em seu retorno, já com uma contagem atualizada a respeito dessa questão.

Como tem sido o diálogo com os líderes da base?
Eu tenho conversado com líderes por telefone. Até porque uns programaram viagens com a família para o início de janeiro. Não houve, digamos, uma uniformização disso. Então, nós estamos conversando com os líderes tanto por telefone quanto com os que vêm a Brasília.

Que retorno tem obtido deles? 
Eles nos dão retorno daquilo que sentimos. Que, na base, ao contrário do que muitos pensávamos, já existe clamor bem consistente pela aprovação das reformas.

O senhor viajou na quinta-feira para uma reunião na Federação das Indústrias de Rio Grande do Sul (Fiergs) para tratar sobre a reforma da Previdência. Como foi esse encontro?
Foi produtivo. Foi um diálogo onde apresentamos dados e uma análise sobre a conjuntura. Onde, obviamente, a reforma da Previdência foi muito discutida.

Há previsão de uma reunião com líderes no estado?
Não tem reunião. Estou fora e retorno na segunda-feira. Eu vim ontem (quinta) e estou aqui.

O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), defende uma regra de transição para servidores que entraram na administração pública até 2003. Qual o posicionamento do governo?
O relator tem seu pensamento a respeito e ele, da mesma forma que o governo, não se recusa a dialogar.

O governo continua, então, aberto ao diálogo? 
Continuamos dispostos a ouvir. Existem princípios dos quais não abrimos mão. Existe uma uniformidade de pensamento entre a posição do governo e o pensamento do relator. Fui presidente da comissão (especial que tratou sobre a reforma na Câmara) e ele, o relator. Temos uma sintonia muito grande entre o pensamento do governo e o do relator. Há, basicamente, princípios sobre os quais não podem haver alterações. O estabelecimento de idade mínima e o fim dos privilégios. Agora, o governo pode ouvir sugestões de aprimoramentos, desde que venham junto com essas sugestões exposições para aprovar a reforma.

Qual a avaliação do governo sobre o imbróglio judicial envolvendo a posse da ministra Cristiane Brasil?
O que nós entendemos, e nisso isso existe uma sintonia também de pensamento entre o poder Executivo e o Legislativo, é que nem o governo nem o Congresso podem abrir mão de suas prerrogativas. A independência e a harmonia entre os poderes são princípios do sistema democrático. Então, existe, sim, uma preocupação. Não que isso influa na reforma da Previdência. Não tem influência. Mas eu diria que a defesa de prerrogativas constitucionais é uma coisa que agrada ao parlamento.

O impasse pela posse da ministra, então, não impactou em nada as articulações pela reforma da Previdência?
Não, não. Todos estão vendo, digamos, a forma altiva com a qual o governo está tratando o caso.

O governo se manterá firme no compromisso firmado com o PTB? Ou corre o risco de recuar e indicar outro nome do partido para ocupar o Ministério do Trabalho? 
Não há nenhum pensamento neste sentido (de recuar). E, obviamente, quando me expresso com firmeza, expresso o posicionamento do presidente.