Correio braziliense, n. 19956, 12/01/2018. Política, p. 3

 

A turnê de Maia em busca de dois dígitos

Alessandra Azevedo

12/01/2018

 

 

PODER » Presidente da Câmara se reúne com governadores e líderes partidários na tentativa de ganhar apoio e atingir 10% das intenções de voto até abril. Esse seria o patamar para se viabilizar

Prestes a se declarar oficialmente candidato à presidência da República, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não está poupando esforços para conquistar 10% das intenções de voto até abril. Esse é o patamar que ele quer atingir para ser considerado, de fato, um candidato viável para as eleições de outubro. Na busca por apoio, a agenda do deputado tem incluído encontros com governadores e líderes partidários nos últimos dias. Até ontem, ele já podia contar com a aprovação e provável engajamento do PP e do Solidariedade numa eventual campanha. Agora, mira no PSD, no PR e no PSC.

Ontem, o presidente da Câmara recebeu para um café da manhã na residência oficial o ex-deputado Valdemar Costa Neto, um dos principais caciques do PR. O partido ainda se recusa a fechar questão sobre a reforma da Previdência, que seria o motivo do encontro, mas é considerado um forte aliado em potencial para a candidatura ao Palácio do Planalto. Já o almoço foi em Florianópolis, com o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD). Colombo é do partido do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que também tem intenção de substituir Michel Temer no Planalto e com quem Maia disputa, além da atenção do centrão, a paternidade da reforma da Previdência. O ex-senador Jorge Bornhausen e o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) também participaram da reunião.

Ainda que a mesma pauta econômica e reformista seja defendida por Meirelles, Maia tem algumas cartas na manga. Uma delas é a juventude, já que ele tem 47 anos, contra os 72 de Meirelles. A equipe do parlamentar apostará nessa vantagem para conseguir os votos de eleitores mais novos — 36% do eleitorado brasileiro é formado por pessoas de 16 a 34 anos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outra vantagem é o bom trânsito no Congresso, tendo feito uma presidência considerada de sucesso na Câmara. Pessoas próximas ao parlamentar também apontam como positivo o fato de o presidente Michel Temer ter sinalizado preferir Meirelles na Fazenda do que no Planalto, embora ele tenda a apoiar governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), como sucessor.

Na quarta-feira, Maia se encontrou com os presidentes do PP, Ciro Nogueira (PI), e do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), que se mostraram inclinados a apoiá-lo na disputa presidencial. Paulinho, que é presidente da Força Sindical, se opõe à candidatura de Meirelles, que é o principal concorrente de Maia. Além dos parlamentares, dois ministros do governo Michel Temer participaram do encontro: Alexandre Baldy, das Cidades, e Mendonça Filho, da Educação. No mesmo dia, o deputado esteve em um evento em Vitória (ES) e aproveitou para discutir os rumos da eleição com o governador baiano ACM Neto, que será presidente do DEM a partir de fevereiro, e com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), um dos nomes cogitados para integrar a chapa como vice.

Previdência

Maia juntou o útil ao agradável ao unir as agendas da campanha e da principal pauta política atual, que é a reforma da Previdência. A estratégia dele para conseguir os pelo menos 40 votos que faltam para pautar a matéria com sucesso tem sido viajar o país, encontrar os governadores e convencê-los da necessidade de se atualizar as regras de aposentadoria e pensão ainda este ano. “Vamos tentar construir a participação dos governadores neste debate”, disse Maia, em uma rede social. Nessas viagens, ele aproveita para discutir os rumos das eleições.

Ao buscar votos, mesmo não tendo a obrigação operacional de fazer isso, o presidente da Câmara “sinaliza engajamento para o governo, para os aliados, mas também para o mercado financeiro”, explicou o analista político Leandro Gabati, diretor da Dominium Relações Governamentais. Após a agência de classificação de risco Standard and Poor’s ter rebaixado, ontem, a nota de crédito do Brasil de BB para BB-, essa sinalização é importante tanto no convencimento dos parlamentares quanto para encorpar o discurso eleitoral. Sem reforma da Previdência, o país pode voltar a ser rebaixado —- assim como a candidatura de Maia e Meirelles.

Frase

“Vamos tentar construir a participação dos governadores neste debate”

Rodrigo Maia, presidente da Câmara sobre a busca de apoio dos governadores para o projeto da Previdência

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Meirelles cada vez mais candidato

Rosana Hessel

12/01/2018

 

 

Apesar de ainda não admitir oficialmente que vai disputar a Presidência da República pelo seu partido, o PSD, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem se articulado para ser mais conhecido fora do mercado financeiro. Além de se aproximar dos evangélicos, vem ampliando a participação em programas de rádios e TV mais populares. Ontem, por exemplo, foi a vez do apresentador José Luiz Datena, da BandNews e Rádio Bandeirantes.

Durante a entrevista de aproximadamente 40 minutos, Meirelles não descartou sua candidatura à Presidência e ainda afirmou que os fatos é que definirão os rumos de uma possível campanha no início de abril, quando vence o prazo para a desincompatibilização para que ele seja candidato. “Eu já tomei a decisão de que eu apenas vou pensar nisso e de fato chegar a uma conclusão sobre o que eu vou fazer no início de abril deste ano”, disse.

Como a reforma da Previdência deverá ser votada pela Câmara dos Deputados em 19 de fevereiro, Meirelles manteve o discurso que agrada ao mercado: de que continuará empenhado para que a proposta seja aprovada e de que essa é a sua prioridade. “No momento, tenho que me concentrar no meu trabalho. Que é ser ministro da Fazenda e fazer com que o Brasil de fato cresça de maneira forte e consistente neste ano, criando emprego e com inflação baixa. Isso é o que interessa a todos”, declarou ele, um dia após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ter divulgado que a inflação oficial de 2017 ficou em 2,95%, a menor taxa em 20 anos e abaixo do piso da meta, de 3%.

Meirelles reconheceu que dados positivos como a inflação baixa podem contribuir para uma possível candidatura, pois estão relacionados com a melhora contínua da economia, de forma sustentável. “Os resultados têm sido positivos. Estamos fazendo um trabalho muito bom e, como diria um escritor brasileiro, já falecido: Nada mais brutal do que o fato”, afirmou ele, parafraseando Nelson Rodrigues. Mesmo assim, o ministro disse que não está parando para pensar ainda se é 70% ou 10% candidato. “No momento, o importante é que o país tem que crescer mais e melhor, com inflação mais baixa e emprego sendo criado. Tenho que assegurar que isso continue acontecendo”, completou.

Meirelles e a equipe econômica são o fio de credibilidade do governo junto ao mercado e aos investidores, em meio ao desgaste de imagem de Temer com as disputas judiciais para emplacar sua nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil (PTB-RJ). No entanto, no campo político, o titular da Fazenda ainda tem um caminho longo a percorrer, no entender do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. “As taxas de conhecimento de Meirelles ainda são ruins para quem pretende entrar numa disputa presidencial. E, agora, ele vai ter que correr contra o tempo para se tornar conhecido antes de desincompatibilizar”, afirmou ele, lembrando que a sinalização de que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pretende lançar sua pré-candidatura em fevereiro, o que pode complicar as ambições do titular da Fazenda.