Valor econômico, v. 18, n. 4396, 07/12/2017. Política, p. A8.

 

 

Chapa única deve dividir poder na direção

Andrea Jubé, Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro

07/12/2017

 

 

A disputa pela presidência do PSDB chegou ao fim, mas os tucanos terão de esperar um pouco mais para ter certeza de quem será o candidato do partido ao Palácio do Planalto, nas eleições de 2018, apesar do amplo favoritismo da indicação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A convenção que elegerá o novo comando tucano será realizada no sábado, dia 9, em Brasília.

Alckmin será eleito presidente do partido encabeçando uma chapa única que ainda estava sendo montada na noite de ontem, mas que deve abrigar as principais facções do PSDB, inclusive a ala ligada ao atual presidente licenciado, senador Aécio Neves.

A dança das cadeiras deve prosseguir ao longo do dia de amanhã. O que não muda mais é que não haverá aclamação de Alckmin como candidato a presidente da República, como chegou a ser cogitado por tucanos de São Paulo, e talvez Alckmin tenha que disputar uma prévia para ser o candidato.

Apesar de conduzir com relativo sucesso a composição da chapa única, Alckmin não conseguiu demover o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio Neto, de disputar a indicação do PSDB numa prévia partidária.

Duas vezes candidato pelo PSDB ao Planalto, o senador José Serra (SP), pensa numa terceira tentativa. Segundo aliados do senador, ele adotou a "tática do silêncio para ser ouvido", uma vez que mesmo aliados tradicionais como Fernando Henrique Cardoso já fizeram declarações pró-Alckmin.

Serra também é uma opção para o governo de São Paulo, o que inibiu um movimento do prefeito João Doria de lançar na convenção o nome de Alckmin para presidente e o seu para o Palácio dos Bandeirantes.

As pesquisas divulgadas desde o domingo pelo Datafolha também inibiram as articulações entre os tucanos para o lançamento de candidaturas, pois nenhum deles apareceu bem nos gráficos, não importa o cargo em disputa.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em princípio, não deveria comparecer à convenção, mas mudou de ideia. FHC deve pedir o voto dos tucanos na reforma da Previdência. A reforma do Estado é um princípio programático do PSDB, que hesita em votar na proposta de emenda constitucional (PEC) apresentada pelo governo Michel Temer.

FHC e outros tucanos favoráveis à PEC da Previdência temem que o PSDB caia no pior dos mundos, se votar contra a proposta: se for aprovada, Temer terá ganho independentemente do PSDB; se perder, poderá culpar os tucanos. A reforma previdenciária tem apoio na classe média, que constitui o principal contingente eleitoral do partido.

Ontem Alckmin deu declarações favoráveis à reforma, mas boicotou uma reunião da Executiva Nacional do partido para decidir sobre o assunto. A explicação é que o governador ficou irritado pelo fato de a reunião ter sido convocada pelo presidente interino, Alberto Goldman.

Há divergência entre os tucanos até sobre o horário marcado para a eleição do novo diretório nacional do partido, na manhã de sábado, mas aos poucos Alckmin estava conseguindo, até a noite de ontem, costurar uma chapa para a Executiva capaz de atender todas as alas.

O PSDB deve voltar a ter um primeiro-vice-presidente, cargo a ser ocupado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo. O senador Tasso Jereissati (CE) é o nome de Alckmin para a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), mas havia resistência na Câmara. Perillo e Jereissati abriram mão de disputar a presidência do PSDB em favor de Alckmin.

O cargo de tesoureiro do PSDB deve ficar com um nome da mais estrita confiança de Alckmin, provavelmente o deputado Silvio Torres (SP). Outra função importante na coreografia da Executiva Nacional do PSDB é a secretaria-geral e deve ficar com o PSDB de Minas Gerais, a segunda maior seção do partido, depois de São Paulo.

O cargo deve ficar com o deputado Marcus Pestana ou com o senador Antonio Anastasia. Os dois são ligados ao presidente licenciado Aécio Neves.