Título: Indústria é saída para dinamizar mercado
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2012, Cidades, p. 31

Na avaliação de especialistas consultados pelo Correio, setor industrial aparece como a melhor alternativa para reduzir a dependência que o DF tem da esfera pública. Para cada emprego criado nas fábricas, outros 10 podem ser abertos indiretamenteNotíciaGráfico

A vocação de cidade administrativa reprimiu a indústria brasiliense. Desde o nascimento da capital do país, definiu-se que a região não tinha perfil para o setor. Usando esse discurso, governos nunca priorizaram políticas de desenvolvimento e impediram, assim, a diversificação da economia local. No quarto dia da série sobre o futuro do parque fabril candango, o Correio traz o diagnóstico pragmático de especialistas: ou a cidade, enfim, desperta para a nova indústria que surge ou o mercado de trabalho poderá entrar em colapso.

Indicadores mostram como a participação das fábricas no Produto Interno Bruto (PIB) do Distrito Federal e na criação de emprego está longe de alcançar as projeções feitas pelo setor. Se não houver uma política específica nos próximos anos, o potencial da indústria corre o risco de se manter restrito ao discurso do empresariado. "Precisamos desenvolver a indústria e quebrar o paradigma de que Brasília é uma cidade única e exclusivamente administrativa. Não se trata de vaidade, mas sim de sobrevivência", diz o economista-chefe da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Diones Cerqueira.

A expansão da indústria, por mais agressiva que venha a ser, não será capaz de eliminar o peso dos serviços públicos na economia de Brasília. "Ninguém quer desconstruir o conceito de capital administrativa. O problema é que a cidade precisa ter a indústria como opção", defende a presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), Ivelise Longhi. O setor jamais deslanchou por aqui, avalia ela, porque os governos se preocuparam com diagnósticos, mas não com os projetos em si. "Deram terrenos, mas esqueceram de capacitar a mão de obra."

Ao sustentarem a necessidade de medidas práticas e urgentes para dinamizar o setor produtivo, analistas alertam para a saturação do emprego público. "Não tem lugar para todo mundo que quer passar em concurso", adverte o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Matias Pereira. O cenário preocupa a coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), Adalgiza Lara. A capital do país, segundo ela, não está preparada para atender ao aumento da demanda por emprego na iniciativa privada.

Erros No mundo inteiro, inclusive em capitais administrativas, as áreas metropolitanas contam com um parque fabril minimamente estruturado. "Um dos maiores enganos na história de Brasília foi decretar que a cidade não tem vocação industrial", comenta o economista e diretor da Codeplan, Júlio Miragaya, autor de um estudo elaborado para a Fibra sobre restrições e oportunidades para o desenvolvimento industrial do DF. "Dizer que a capital federal não nasceu para ter indústria é uma imensa bobagem. Criaram uma inconsequente cultura anti-industrial", reforça.

Cada emprego direto criado no setor industrial pode abrir até outras 10 oportunidades indiretas: não à toa, a indústria é considerada a mais importante indutora de desenvolvimento. Em uma conta simples, caso a indústria abra 80 mil vagas nos próximos 10 anos, como prevê o setor, podem ser criados pelo menos outros 800 mil postos de trabalho.

No entanto, se esse potencial se mantiver inexplorado, preveem os especialistas, o DF continuará sustentando uma das maiores taxas de desemprego do país, embora haja uma trajetória de queda. A desigualdade de renda tende a aumentar ainda mais. E a capacidade de arrecadação tributária chegará a um limite. "Além disso, já estamos percebendo as consequências sociais da falta de diversificação econômica", completa Miragaya.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 03/04/2012 02:59