O globo, n. 30698, 24/08/2017. País, p. 6.

 

Filho ministro do TCU é alvo de condução coercitiva

Cleide Carvalho/ Juliana Arreguy/ Vinicius Sassine

24/08/2017

 

 

Tiago Cedraz é suspeito de atuar em esquema ilícito na Petrobras

 

 

Os advogados Tiago Cedraz e Sérgio Tourinho Dantas foram alvo ontem da 45ª fase da Lava-Jato. Tiago é filho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, e já é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Chamada de Abate 2, a operação de ontem apura se os dois advogados participaram de um esquema de pagamento de propina na Petrobras para beneficiar a fornecedora de asfalto Sargeant Marine.

A ligação de Cedraz e Tourinho com o esquema foi feita pelo lobista Jorge Luz e o filho dele, Bruno Luz, já presos na Lava-Jato e que decidiram colaborar com as investigações. Segundo eles, os advogados, que já foram sócios em um escritório, participaram de reuniões nas quais foram definidos valores que seriam pagos pela Sargeant Marine a agentes públicos. A operação é um desdobramento da Operação Abate, que levou à prisão temporária do ex-deputado federal Cândido Vaccarezza (Avante), liberado ontem.

Numa planilha de pagamentos foram identificados lançamentos de US$ 49,5 mil para “ST e TC", que seriam Sérgio Tourinho e Tiago Cedraz, segundo a Polícia Federal (PF). Outras planilhas apreendidas mostram referências mais explicitas, como anotações que dizem: “Tiago acompanhando” e “aguardando mandato adv. amigo STourinho". Segundo Moro, foi identificada ainda uma transferência bancária de US$ 90,9 mil de uma conta controlada por Luz para a off-shore Rosy Blue DMCC, mantida no HSBC Private Bank, em Genebra (Suíça).

O lobista afirmou que o objetivo dessa movimentação bancária era distribuir “lucros entre os participantes do esquema". O juiz decretou o bloqueio de bens dos dois advogados em valores que cheguem até R$ 6 milhões. Moro ressaltou, em despacho, que, embora os alvos da operação sejam advogados, “a imunidade profissional não abrange suas atividades, já que há indícios de participação em crimes".

Tiago Cedraz prestou depoimento à PF em Brasília, depois de ser intimado por policiais. Segundo a assessoria de imprensa do advogado, ele respondeu a todas as perguntas feitas e negou ter cometidos os crimes atribuídos a ele pelos investigadores. A PF havia pedido a condução coercitiva de Tiago, instrumento que obriga o investigado a prestar um depoimento. Moro negou o pedido e sugeriu a substituição da medida pela intimação.

Em nota, Tiago informou que está tranquilo por “jamais ter participado de qualquer conduta ilícita". Ele disse que “confia na apuração conduzida pela força-tarefa da Lava-Jato e permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários”.

 

SUSPEITAS EM ANGRA 3

O filho do ministro do TCU já é investigado em outro inquérito, que corre no STF por envolver autoridades com foro privilegiado. Tiago, seu pai, Aroldo Cedraz, e o presidente do TCU, Raimundo Carreiro, são investigados por suspeita de favorecimento a empreiteiras relacionado a obras da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ).

O advogado é suspeito de ter recebido R$ 50 mil mensais para obter informações privilegiadas do órgão, durante os anos em que o tribunal foi presidido pelo pai. Além disso, ele teria solicitado um repasse único de R$ 1 milhão, em espécie, dinheiro que seria destinado a Carreiro, relator do processo sobre as obras. O pontapé do inquérito foi a delação de Ricardo Pessoa, dono da UTC, empresa que integrou consórcio contratado para obras de R$ 1,75 bilhão em Angra 3.

O TCU produziu relatórios internos que isentam de culpa os dois ministros e que são sistematicamente usados como material de defesa de Tiago. Os documentos, entre eles a sindicância aberta pelo tribunal a partir dos fatos surgidos na Lava-Jato, foram concluídos antes mesmo de qualquer finalização das investigações do inquérito em curso no STF.

Em junho, a Polícia Federal (PF) concluiu relatório em que detalha indícios de que Carreiro, Aroldo e Tiago integraram esquema para favorecer a UTC nas obras da usina nuclear.

Procurados, os advogados de Sérgio Tourinho não responderam. Em petição protocolada na Justiça Federal do Paraná, Tourinho diz ter sido “tomado de surpresa com a flagrantemente desnecessária busca e apreensão em sua residência” e se coloca à disposição para ser ouvido pela PF em Salvador, onde mora, ou em Curitiba, onde o caso é investigado.

Além das casas de Tourinho e Cedraz, a PF fez buscas ontem também no imóvel de Ana Cláudia de Paula Albuquerque, ex-assessora do ex-deputado Vaccarezza, acusado de receber U$ 478 mil no esquema.