Correio braziliense, n. 19974, 30/01/2018. Política, p. 3
Paulo de Tarso Lyra
30/01/2018
De olho no Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reabre os trabalhos legislativos na semana que vem disposto a acelerar a pauta econômica e, também, colocar em debate assuntos sociais e de segurança pública, para dar um verniz popular à reta final de sua gestão. O governo torce para que as pretensões eleitorais do parlamentar do DEM não o distanciem — ao menos por enquanto — do presidente Michel Temer. O conflito, contudo, será inevitável. O Executivo espera dele empenho na aprovação das reformas, sobretudo a da Previdência. Os sindicatos lutam para que Maia não avance na pauta.
“Prejudicar quem trabalha, o Temer já faz. O Maia precisa encontrar uma pauta que faça a economia crescer e os empregos voltarem”, afirmou o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), que, inclusive, já propôs um projeto que desonere o botijão de gás. “O preço do gás está pesando no bolso dos brasileiros. Um pré-candidato precisa ter isso em mente”, defendeu.
Correligionário de Maia, o deputado Alberto Fraga (DF) quer ver o companheiro voltado às pautas de segurança pública, outra demanda da população. “Entre as propostas que levamos a ele estão a criação do Sistema Único de Segurança Pública, nos mesmos moldes do SUS (Sistema Único de Saúde) e a votação do Estatuto do Desarmamento”, confirmou o parlamentar. O líder do DEM na Casa, Efraim Filho (PB), não vê riscos de uma mudança de comportamento de Maia agora que ele está de olho no Planalto. A convenção do partido está marcada para 8 de março.
“O Rodrigo tem se portado de maneira equilibrada, pensando no país. Ele não fará loucuras neste momento”, apostou Efraim. Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Pimenta (RS) tampouco espera diferenças na postura de Maia. Ele acusou o presidente da Casa de se comportar como líder do governo, e não como magistrado que pauta os trabalhos da Câmara. “Neste momento em que ele pretende se candidatar com o apoio do Planalto, a lealdade deve ser ainda mais intensificada”, disse o petista.
Por enquanto, o Planalto dá corda aos desejos presidenciais de Maia, esperando que isso renda frutos na aprovação das reformas. Para interlocutores de Maia e Temer, não aprovar as mudanças na Previdência significa dar munição ao discurso da esquerda. Aliados do presidente se animaram com o discurso otimista de Maia, alinhado ao do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun. “Ele (Maia) ainda não tem uma bandeira para chamar de sua. A defesa da reforma, além de o colocar em alta perante a base e os investidores, ainda aumentará a pressão para que Alckmin (Geraldo Alckmin, governador de São Paulo) consiga os votos do PSDB”, afirmou um governista.
Cartas na manga
De olho no Planalto, Rodrigo Maia tem longa lista de assuntos sob seu comando
» Reforma da Previdência
Ainda não há garantia de votação, mas governo mantém esperança de análise a partir de 19 de fevereiro
» Privatização da Eletrobras
Governo está de olho na venda da estatal, mas ainda esbarra em uma decisão do juiz de primeira instância Carlos Kitner, da 6ª Vara Federal de Recife
» Reforma Trabalhista
Medida Provisória, pendente de votação, que altera pontos importantes, como os contratos de trabalho intermitentes e as verbas remuneratórias
» Servidores
Medida provisória que adia reajuste e aumenta a contribuição previdenciária dos servidores. Validade suspensa por decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal
» Fundos de investimento
Medida provisória trata do imposto sobre a renda incidente nas aplicações em fundos de investimento. Segundo Banco Central, isso poderá representar um aumento de arrecadação de R$ 10 bilhões
» Regra de ouro
Governo analisa se elabora PEC para flexibilizar a regra de ouro. O próprio Maia é a favor, posição distinta da do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles
» Companhias aéreas
Projeto de Lei amplia de 20% para 100% a presença do capital estrangeiro nas companhias aéreas
» Municípios
Medida Provisória prevê a liberação de R$ 2 bilhões para o Fundo de Participação dos Municípios (FPM)
» PIS/PASEP
Ampliação do saque dos PIS/Pasep para pessoas a partir de 60 anos, extensivo a dependentes e herdeiros
» Lei Geral de Licenciamento Ambiental
Estabelece previsibilidade e agilidade ao processo de licenciamento ambiental. Tramita em regime de urgência
» Estatuto do Desarmamento
Amplia a possibilidade de porte de armas para pessoas as terem em suas residências
» Segurança Pública
Criação do Sistema Unificado de Segurança Pública, a exemplo de como funciona o SUS
» Aborto
Proibição do aborto em todos os casos, inclusive estupro