Título: PR e PTB criam bloco dos sem ministério
Autor: Amado, Guilherme ; Gama, Junia
Fonte: Correio Braziliense, 04/04/2012, Política, p. 6

Dois partidos anunciam formação da terceira bancada no Senado e aproximação com o Planalto. Coligação aumenta poder de barganha por espaço na Esplanada

Só durou 20 dias. Menos de um mês após afirmar que estava indo para a oposição, a bancada do PR no Senado anunciou ontem a formação de um bloco com os senadores do PTB, o que, na prática, representa a volta da legenda à base governista. Com 13 senadores, a aliança aumenta o poder de barganha das duas siglas para ocupar um ministério no governo Dilma Rousseff, além da chance de ampliar o espaço de ambos em comissões e relatorias no Senado.

Os líderes dos dois partidos na Casa, Blairo Maggi (PR-MT) e Gim Argello (PTB-DF), reuniram-se ontem com a presidente Dilma para comunicar a aliança, que se chamará União e Força. Apesar do acerto, Maggi não confirmou que a decisão signifique o retorno do partido à base. Segundo o senador, não foi discutida com Dilma a volta do PR ao Ministério dos Transportes, reivindicação que originou o racha, em meados de fevereiro.

"Ela (Dilma) disse que nós voltaríamos a conversar. O PR e o governo estão voltando a namorar. Posso dizer que hoje o partido está mais perto (do Planalto) do que já esteve", limitou-se a dizer o líder do PR. Maggi afirmou ainda que o bloco não impedirá o partido de se posicionar de forma independente em algumas ocasiões.

Gim Argello evitou os rodeios e confirmou o movimento do PR em direção ao Planalto e a pressão por ocupar um lugar na Esplanada. "A gente fica mais forte para pleitear um ministério, mas o combinado foi não pedir nada por enquanto. Combinamos isso com a presidente Dilma. Ela verá a nossa força de trabalho e, quando achar que deve, fará a indicação naturalmente", comentou Gim Argello, líder do novo bloco. Um dos argumentos que serão sempre lembrados pelo senador em busca de um lugar na Esplanada será o de que a composição com o PTB consolida o PR na base do governo: "Nós trouxemos aqueles que se diziam neutros e até os opositores para o lado da presidente".

A movimentação do PR vinha sendo monitorada pelo Planalto desde que o partido deixou o Ministério dos Transportes, mas sem uma interferência direta. Na última quinta-feira, o senador Fernando Collor (PTB-AL) procurou o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), para propor a formação do bloco de apoio ao governo, composto por PR, PTB e PSC. A resposta dura do Palácio do Planalto, de que não iria negociar sob pressão com os senadores republicanos, somada ao fato de o PR na Câmara não ter acompanhado o Senado, permanecendo na "independência", foi determinante para que os senadores a voltassem à base.

Poder de fogo Nas negociações, pesaram as articulações do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), um dos "chefes" do partido, e a possibilidade de Blairo Maggi tornar-se ministro de Dilma Rousseff. O PTB já havia abortado uma movimentação inicial rumo ao PSC. Chegou a levar a proposta ao Planalto, com a condição de receber em troca um ministério, mas o governo não mostrou interesse. Agora, com o novo bloco, a composição com o PSC pode acabar saindo, já que não está descartada a adesão do único senador do partido, o hoje licenciado Eduardo Amorim (PSC-SE). O PSD, dos senadores Kátia Abreu (TO) e Sérgio Petecão (AC), também pode se unir à aliança.

Caso o PSD e o PSC aceitem participar do colegiado, o bloco passará a ser a segunda força política do Senado. Hoje, o PMDB é a legenda com mais senadores, totalizando 19. O PT vem em segundo lugar, também com 13, mesmo número de integrantes do novo bloco. A liderança do União e Força será exercida pelo senador Gim Argello e as vice-lideranças serão de responsabilidade dos senadores Blairo Maggi, Alfredo Nascimento (PR-AM) e João Vicente Claudino (PTB-PI).