O Estado de São Paulo, n. 45312, 08/11/2017. Política, p.A7

 

 

 

 

 

Assessor diz ter contado dinheiro para Geddel

Em depoimento à Polícia Federal, Job Ribeiro afirma que contabilizou remessas de até R$ 100 mil em gabinete na casa da mãe do ex-ministro

Por: Luiz Vassallo / Fabio Serapião

 

Luiz Vassallo

Fabio Serapião / BRASÍLIA

 

O ex-assessor parlamentar Job Ribeiro Brandão afirmou em depoimento à Polícia Federal ter recebido do ex-ministro Geddel Vieira Lima elevadas quantias em dinheiro para fazer a contagem manual dos recursos. Os valores, que, segundo ele, variavam de R$ 50 mil a R$ 100 mil, eram contados em um gabinete localizado na casa da mãe do ex-ministro, Marluce Quadros Vieira Lima.

O ex-assessor disse que costumava contar dinheiro da família (mais informações nesta página) mas, a partir de 2010, passaram a ser mais frequentes os pedidos de Geddel para que ele executasse essa tarefa. “O declarante recebeu do sr. Geddel dinheiro na residência da mãe deste, para que o contasse”, diz termo de declaração do ex-assessor obtido pelo Estado.

“Que o dinheiro era apresentado, em regra, em envelopes pardos e as somas giravam em torno de R$ 50 mil a R$ 100 mil; que a contagem era feita, em regra, em sala reservada que funcionava como gabinete.”

No depoimento, prestado à PF, na Bahia, no último dia 19, Ribeiro afirmou ser funcionário antigo da família Vieira Lima. Disse que, inicialmente, trabalhou como assessor do ex-deputado Afrisio Vieira Lima, pai de Geddel e do hoje também deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Afrisio foi parlamentar por quatro mandatos, entre 1975 e 1990.

Posteriormente, relatou o ex-assessor, trabalhou com Geddel durante os cinco mandatos do peemedebista (19912011) e depois com Lúcio, que está em seu segundo mandato.

 

R$ 51 milhões. Ribeiro era assessor de Lúcio Vieira Lima quando foi preso, em agosto, após a PF encontrar suas impressões digitais em parte dos R$ 51 milhões apreendidos em imóvel em Salvador. O apartamento, conforme investigações, é ligado aos irmãos Vieira Lima.

A ação que descobriu os R$ 51 milhões foi um desdobramento da Operação Tesouro Perdido. Na ocasião, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Lúcio Vieira Lima em Brasília e Salvador.

As suspeitas sobre o irmão de Geddel ganharam força a partir do depoimento do empresário Silvio Antonio Cabral da Silveira, dono do apartamento. Ele disse que Lúcio pediu o imóvel emprestado para “guardar pertences” do pai falecido. No apartamento, os policiais encontraram ainda um recibo em nome de Marinalva Teixeira de Jesus, funcionária do parlamentar.

Ribeiro ficou preso dois dias e, em seguida, foi para prisão domiciliar. Ele pagou fiança inicialmente estipulada em cem salários mínimos, depois reduzida à metade após recurso da defesa ser acolhido.

As defesas de Geddel e Lúcio Vieira Lima não responderam aos contatos da reportagem até a conclusão desta edição.

 

Depoimento

“O dinheiro era apresentado, em regra, em envelopes pardos e as somas giravam em torno de R$ 50 mil a R$ 100 mil (...). A contagem era feita, em regra, em sala reservada que funcionava como gabinete.”

Job Ribeiro Brandão

EX-ASSESSOR PARLAMENTAR

 

 

 

 

 

Notas eram de posto de Lúcio, diz Job Ribeiro

Por: Luiz Vassallo / Fabio Serapião

 

No depoimento que prestou à Polícia Federal no último dia 19, o ex-assessor parlamentar Job Ribeiro Brandão afirmou que não conhecia o apartamento onde foram encontrados R$ 51 milhões em dinheiro. Para justificar a presença de suas impressões digitais em algumas das notas encontradas no imóvel, Ribeiro disse que costumava contar dinheiro do posto de combustíveis Alameda da Praia, localizado na praia de Stella Maris, em Salvador, que tem o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) como sócio.

O posto de combustíveis aparece nas declarações de bens que Lúcio entregou à Justiça Eleitoral quando foi candidato a deputado federal em 2010 e 2014. Nas duas ocasiões, o então candidato declarou possuir 1.000 cotas do estabelecimento no valor de R$ 8.110,01. Na página do deputado no site da Câmara consta que Lúcio foi gerente administrativo do estabelecimento entre 2007 e 2010.

À Polícia Federal, Ribeiro disse que o dinheiro que “por ventura tenha manuseado” era do posto de gasolina. Segundo ele, os valores contados “giravam em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil”. “Que por vezes ia buscar dinheiro, às vezes o motorista e, ainda, os próprios familiares o recolhiam. Que contado o dinheiro ele era depositado em conta vinculada ao próprio posto”, informa termo do depoimento de Ribeiro ao qual Estado teve acesso.

Segundo o depoente, o dinheiro chegava “solto ou mesmo novo, com fitas” às suas mãos. Aos investigadores, o ex-assessor afirmou não saber “a origem do dinheiro que contava em tais situações ou mesmo o destino que lhe era dado na sequência”. A partir de 2010, afirmou, ele passou a receber pedidos frequentes do ex-ministro Geddel Vieira Lima para contar quantias maiores, que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil.

Geddel, que está preso desde setembro, e Lúcio são investigados pelo crime de lavagem de dinheiro na ação que investiga a origem dos R$ 51 milhões. O exministro e o deputado, bem como seus advogados, não responderam aos contatos feitos pela reportagem ontem. / L.V e F.S.

 

Deputado. Lúcio Vieira Lima é investigado pela PF