O globo, n. 30725, 23/09/2017. País, p. 5.

 

Procurador é afastado após conversa com defesa da JBS

23/09/2017

 

 

Exoneração acontece depois de diálogo com advogada sobre possível investigação de braço-direito de Janot

 

 

A Procuradoria Geral da República (PGR) anunciou ontem o afastamento do procurador regional da República Sidney Pessoa Madruga da coordenação do Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral. Madruga teria pedido exoneração do cargo “com a finalidade de evitar ilações impróprias e indevidas”.

Segundo reportagem publicada na “Folha de S.Paulo”, o procurador disse ontem, numa conversa com a advogada Fernanda Tórtima, uma das responsáveis pela defesa da JBS, que “a tendência” da PGR seria investigar o também procurador regional Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

O afastamento de Madruga foi anunciado em nota. Em reação aos comentários de Madruga, Pelella enviou ofício à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, colocando-se à disposição para eventual explicação sobre as tratativas relacionadas ao acordo de delação dos executivos da J&F, controladora da JBS.

“Informo à Vossa Excelência que, a exemplo do que ocorreu durante todo o período de transição, estou à disposição para qualquer esclarecimento que se entenda necessário”, disse o procurador. Pelella foi um dos responsáveis pelo acordo de delação dos executivos da J&F. Também coordenou a equipe indicada por Janot para acertar a transição com a equipe de Raquel.

A assessoria de imprensa da PGR disse que os comentários de Madruga são de caráter privado e que, por isso, não seriam respondidos. Informou ainda que o procurador, embora estivesse na equipe de Raquel, não fazia parte do grupo de trabalho da Lava-Jato, coordenado hoje pelo procurador José Alfredo.

Com o afastamento da coordenação, Madruga permanece dando expediente na Procuradoria Regional da República no Rio. Ele continuará atuando como procurador eleitoral. Manobras para investigar ex-auxiliares de Janot fazem parte da tática de grupos que querem derrubar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. O relator da CPI da JBS, Carlos Marun (PMDB-MS), chegou a declarar publicamente que o objetivo da comissão é “investigar quem sempre nos investigou”. Temer é acusado de chefiar organização criminosa e obstruir as investigações da Lava-Jato.