Correio braziliense, n. 19969, 25/01/2018. Política, p. 3

 

Mercado vê petista fora da disputa nas urnas

Azelma Rodrigues 

25/01/2018

 

 

Para o mercado financeiro, a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância, confirmando o placar de 3 a zero esperado, elimina a possibilidade de o petista voltar ao Palácio do Planalto. Mesmo sabendo que haverá desdobramentos, os analistas preferem desprezar futuras batalhas jurídicas e colocá-lo como inelegível. E voltar o olhar para a brecha que se abre para a resolução de outros problemas internos, como o deficit público.

Os movimentos foram de alta na bolsa brasileira, valorização mais forte de papéis de empresas nacionais em Nova York, com destaque para a Petrobras, cujo ADR (recibo lastreado em ação) subiu até 10%. “O mercado entende que, agora, há caminho para a eleição de alguém do centro-direita ou de centro, porque a candidatura da esquerda foi minada e não tem mais chances de concorrer ao pleito presidencial”, diz o executivo chefe da Bullmark Corretora, Renato Nobile.

Na visão dos analistas, o julgamento de ontem “tirou um risco” — a ameaça de retorno do petista — e trouxe mais previsibilidade, pelo menos, de curto prazo no cenário econômico. Como o mercado odeia surpresas, incertezas, o resultado do TRF-4 traz a leitura de um mínimo de previsibilidade.

“Os mercados financeiros trabalham com fatos concretos e não com poesia, com sonhos”, diz o consultor financeiro Demetrius Lucindo. “O resultado do TRF-4 é importante para o futuro do Brasil, por eliminar a possibilidade de um presidente canastrão, de novo, no comando do país”, continuou. Para o economista, o petista “teve um primeiro mandato excepcional, mas um segundo ruim, porque ele estava de olho na sucessão, que foi péssima ao país”.

“Lula condenado por unanimidade estanca o movimento de políticos que viam nele, e na sua alta intenção de votos nas pesquisas, uma alternativa eleitoral. O fato é que Lula está muito mais distante de estar nas urnas em outubro”,  avaliou Richard Back, analista político da XP Investimentos.

O afastamento de Lula da corrida presidencial é o entendimento também de analistas estrangeiros. “A decisão de um tribunal brasileiro de manter a condenação de corrupção contra o ex-presidente Lula complica os planos de concorrer à Presidência este ano”, embora não os elimine totalmente, informou a Capital Economics a investidores. “O salto nos mercados que seguiram à decisão de hoje era inevitável, mas, a menos que um candidato reformista credível emerja, ainda pode desaparecer”, continuou o informe.

PIB positivo

Para o analista e operador da Clear Corretora, Rafael Figueiredo, a visão otimista do mercado que já vinha do fim do ano passado, confirma-se daqui para a frente. “Isso em função da nossa macroeconomia, que vem materializando um ciclo expansionista, com juros baixos, inflação controlada e atividade econômica melhorando, forte”.

Segundo Figueiredo, o aumento na condenação de Lula para 12 anos e um mês “é um resultado que capitaliza esse nosso cenário de positividade”. Ele vê tendência do primeiro trimestre “bem explosivo”, com a confirmação de recuperação nos balanços das empresas e também de um Produto Interno Bruto (PIB) positivo para 2017. “Favorece a economia. Gostando ou não do presidente Michel Temer, a equipe econômica é de primeira e agora tem chances de aprovar a reforma da Previdência”, comenta Nobile. “Sem dúvida, as reformas estruturais voltam para o radar para a gente seguir em frente com esse movimento de expansão.”