Correio braziliense, n. 19969, 25/01/2018. Política, p. 4

 

Cidade em verde e amarelo 

Simone Kafruni 

25/01/2018

 

 

JUSTIÇA » O vermelho, que tomou Porto Alegre na véspera da sessão no TRF-4, deu lugar a cores da bandeira em festa pela condenação

Porto Alegre — Se na véspera o centro de Porto Alegre virou um mar vermelho, ontem foi a vez de as esquinas da capital gaúcha se tingirem de verde e amarelo. Depois da confirmação da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por 3 x 0, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), manifestantes a favor da prisão do petista saíram às ruas para comemorar. A Avenida Goethe, no Parque Moinhos de Vento, concentrou o evento CarnaLula, promovido pelo Movimento Brasil Livre (MBL), e reuniu, segundo a organização, cinco mil pessoas.

Enquanto os manifestantes ainda se dirigiam ao carro de som, localizado bem na esquina da Goethe com a Avenida Mostardeiro, a promotora de Justiça Débora Balzan, de 50 anos, apressava o passo, ao lado do filho Enzo, de 11, para tirar da garganta o grito contido há anos. “Preciso desabafar. Essa decisão de hoje (ontem) mostrou a isenção das instituições brasileiras e a recuperação da credibilidade do país”, afirmou. Débora disse que participa sempre, como cidadã, de manifestações pela democracia. “A gente precisa sair de casa e não pode se omitir. Eu vejo tanta impunidade na minha área. Os brasileiros são sofridos, mas também muito acomodados. Precisamos discutir mais política e defender menos os políticos”, ressaltou.

O engenheiro elétrico Juarez Emílio Moehlecke, 63, saiu na chuva para comemorar o que considerou uma decisão histórica. “O povo não suporta mais. Estou aliviado porque o TRF-4 mostrou que as coisas estão mudando no Brasil. Ricos e poderosos estão indo para a cadeia”, festejou. “Isso me deixa mais tranquilo, mas continuo atento, porque Lula ainda não foi preso, só condenado. Ainda há manobras jurídicas”, comentou.

Um dos coordenadores do MBL no Rio Grande do Sul, o vereador de Sapiranga Leonardo Braga, 23, disse que o movimento celebra a sentença como o início do basta na impunidade. “Há indícios de muito comprometimento da Justiça com o fim da corrupção no Brasil. O país está na UTI, mas hoje (ontem) recebeu mais oxigênio”, afirmou. Segundo Braga, o movimento esperava reunir cinco mil pessoas. “A chuva pode atrapalhar um pouco, e o esquema especial do trânsito, também, mas acreditamos que as pessoas vão vir comemorar”, destacou.

Para o engenheiro Gedson Ibañez, 55, a decisão do TRF-4 enterrou um “projeto de poder a qualquer custo, sem moral e ética”. “Isso é só o início, vai ter muito mais”, assinalou. O médico Sergio Lomando, 70, aposta que a medida é um primeiro passo para acabar com a corrupção no país. “Eu confio que as pessoas honestas não vão mais admitir a roubalheira de políticos e funcionários públicos”, disse.

À medida que a chuva ia dando uma trégua, o CarnaLula ganhava público. O caminhão de som animava os manifestantes, fazendo o povo dançar, com cânticos como “quem não pula é comunista”, e chamando mais participantes ao entoar “olê, olê, olê, povo na rua para derrubar o PT”, “chora, petista, bolivariano, a roubalheira do PT está acabando”.

Os organizadores também pediam aos manifestantes para que chamassem mais pessoas pelo celular: “Manda mensagem, liga, chama todo mundo. Vem pra rua, vem pra rua”, gritava o puxador do carro de som.