Correio braziliense, n. 19961, 17/01/2018. Política, p. 2

 

Caso Lula acirra os ânimos ainda mais

Bernardo Bittar 

17/01/2018

 

 

PODER » Enquanto Gleisi Hoffmann afirma que "vai ter que matar gente" para prender o ex-presidente, o deputado Jair Bolsonaro, principal rival nas pesquisas de intenção de voto até agora, garante que o petista pedirá asilo político na África em caso de condenação

Faltando uma semana para o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá (SP), aliados e adversários políticos aumentaram o tom das declarações que envolvem a estrela petista. A presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que, “para prender Lula, vai ter que matar gente”. Já o presidenciável e deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) fez comentários sobre a viagem do petista à Etiópia dois dias após a decisão da Justiça. Pelo Twitter, o parlamentar disse que Lula pedirá asilo político na África caso seja mantida a condenação em segunda instância. O juiz Sérgio Moro puniu o ex-presidente com 9 anos e 6 meses de prisão.

Gleisi afirmou que desconsidera a hipótese de Lula ser preso no próximo dia 24, em Porto Alegre. “Para prender Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar”, afirmou a presidente nacional do PT. Ainda segundo a senadora, se a sentença do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, for confirmada pelo TRF-4, significará que “eles (os juízes) desceram para o ‘play’ da política (…) No ‘play’ da política, nós vamos jogar (…) E vamos jogar pesado”.

As declarações de Gleisi foram dadas ao portal Poder 360, ao qual ela também negou que uma decisão que mantenha a condenação de Lula possa tirá-lo da disputa pelo Planalto. “A candidatura vai ser decidida na Justiça Eleitoral”, disse. A prioridade do PT é registrar a candidatura de Lula em 15 de agosto e entrar com todos os recursos possíveis para mantê-lo na disputa. A sigla quer garantir a foto do ex-presidente nas urnas, mesmo que a candidatura acabe impugnada. “Como é que vai cassar o voto de 40, de 50 milhões de brasileiros?”, questionou.

A petista reafirmou que o partido não tem um plano B para lançar como candidato à Presidência, ainda que existam rumores sobre a possibilidade de o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad entrar no páreo caso Lula fique inelegível. Acreditando que o ex-presidente será absolvido do julgamento da próxima quarta-feira, Gleisi declarou que “esse seria o único resultado capaz de resgatar a seriedade da Justiça brasileira”.

Do lado contrário, o deputado Jair Bolsonaro fez críticas à viagem de Lula marcada para a Etiópia, em 26 de janeiro. Bolsonaro usou as redes sociais para dizer que o petista planeja morar na Etiópia para se livrar de uma eventual punição, caso seja condenado em segunda instância. Em vídeo, o presidenciável afirma que uma autorização para assessores de Lula viajarem para o país africano foi publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira. “O Lula não precisa de autorização para sair do Brasil, é um cidadão como outro qualquer. Agora, o curioso: o julgamento do mesmo ocorrerá dia 24. Estaria Lula preparando uma saída estratégica temendo uma condenação via TRF-4?”, questionou o parlamentar.

No site do ex-presidente, a viagem está confirmada. Mas, em nota, a assessoria do petista informou que ela estava marcada desde outubro do ano passado e tem data de retorno. Segundo o documento, “Lula foi convidado pela União Africana para evento junto com outros dois ex-presidentes: John Kufuor, de Gana, e Olasegun Obasanjo, da Nigéria”. A solenidade será chancelada pela FAO, um braço da Organização das Nações Unidas (ONU).