Correio braziliense, n. 19961, 17/01/2018. Política, p. 3

 

Vices da caixa são afastados

Renato Souza

17/01/2018

 

 

PODER » Decisão tomada pelo presidente Michel Temer, após recomendação do Ministério Público, atinge quatro gestores sob a mira da Polícia Federal por suspeita de corrupção. Medida tem prazo de 15 dias, até que os fatos sejam esclarecidos

Quatro dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica Federal foram afastados temporariamente dos cargos por decisão do presidente Michel Temer, divulgada no fim da tarde de ontem. Os dirigentes são alvo de investigações realizadas pela Polícia Federal para apurar desvios nos recursos geridos pelo banco público. A determinação de Temer ocorreu após recomendações do Ministério Público Federal (MPF) e do Banco Central.

De acordo com a Presidência da República, o afastamento será de 15 dias, até que os fatos sejam esclarecidos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que a decisão final sobre o assunto será dada pelo Conselho de Administração do banco. A instituição, segundo ele, terá uma assembleia geral, na próxima sexta-feira, para aprovar novo estatuto que dará essa incumbência ao colegiado. “O novo estatuto está sendo aprovado, e, a partir daí, o Conselho, como determina a lei de governança das estatais, assume o total controle do processo de nomeação e de exoneração de vice-presidentes e de outros executivos da Caixa”, disse Meirelles.

Entre os afastados está Deusdina dos Reis Pereira, responsável pela vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa. Ela é acusada de negociar uma operação envolvendo R$ 200 milhões em troca de um cargo na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Também foram afastados os vice-presidentes Roberto Derziê de Sant’Anna (Governo), Antônio Carlos Ferreira (Corporativo) e José Henrique Marques da Cruz (Clientes, Negócios e Transformação Digital).

O MPF pediu, em dezembro, que o presidente Temer afastasse os vice-presidentes do banco público. A solicitação foi reforçada em 10 de janeiro pelo diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Sérgio Neves de Souza. Ele encaminhou ofício com a recomendação à secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, que ocupa também o cargo de presidente do Conselho de Administração da Caixa.

A Casa Civil informou, em 8 de janeiro, que rejeitaria o pedido dos procuradores. Então, o Ministério Público encaminhou ofício ao governo federal destacando que o presidente Temer poderia ser responsabilizado civilmente por irregularidades cometidas pelos gestores caso viessem a ocorrer.

Uma auditoria independente, realizada pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto, apontou que Roberto Derziê repassou informações sobre operações em curso no banco para Temer e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. O resultado foi encaminhado ao Comitê Independente da Caixa e ao MPF. “Foram encontrados documentos que podem indicar, pelo menos, o atendimento de pedidos ou o fornecimento de informações de operações em trâmite na CEF, por parte de Roberto Derziê de Sant’Anna, a Moreira Franco e a Michel Temer”, diz um trecho do relatório.

A investigação das irregularidades, que faz parte da Operação Greenfield, levaram à descoberta de um esquema de corrupção que desviou recursos do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Deputados do MDB, entre eles Eduardo Cunha e Henrique Alves, são acusados de envolvimento com as fraudes. Em nota, a Caixa informou “que vai cumprir todas as determinações”. O Planalto não quis comentar as ações dos ex-dirigentes.  (Colaborou Rosana Hessel)