Valor econômico, v. 18, n. 4404, 19/12/2017. Política, p. A8.

 

 

Dissidentes podem ser alvo de retaliação no PMDB

Fabio Murakawa, Marcelo Ribeiro e Eduardo Campos

19/12/2017

 

 

Presidente nacional do PMDB e líder do governo no Senado, o senador Romero Jucá (RR) cobrou ontem fidelidade de seus correligionários, dizendo que "não há espaço para traições" dentro da legenda para aqueles que, segundo ele, fazem "ações deliberadas para atacar o governo e o presidente da República". E afirmou que os políticos que "têm sido mais leais" ao governo "serão mais valorizados" na distribuição do fundo partidário para a eleição de 2018 - a primeira a nível nacional a ser bancada exclusivamente com recursos públicos, que serão distribuídos a critério das executivas nacionais dos partidos.

A fala de Jucá ocorre à véspera da convenção nacional, marcada para hoje, em que o partido deverá mudar de nome para MDB, como era originalmente chamado à época de sua fundação, em 1966.

O partido também incorporará a seu estatuto as normas básicas para a distribuição do fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão aprovado pelo Congresso neste ano para a eleição de 2018. Segundo Jucá, os critérios para a distribuição do dinheiro serão definidos em uma próxima convenção, cuja data ainda está para ser marcada.

"Não vai ter retaliação, mas vai ter valorização. Ou seja, aqueles que são mais fechados com a relação do partido têm que ser mais valorizados. Portanto, nós vamos dar um tratamento mínimo a todos, mas a executiva nacional vai ter o cuidado de atuar de forma que aquelas figuras que são mais emblemáticas, que são candidatas a governador, a senador, a deputado federal e que têm sido leais ao partido devem receber efetivamente tratamento diferenciado."

Ao discursar em evento da Fundação Ulysses Guimarães, braço de formação política do PMDB, Jucá afirmou que o PMDB não pode ser um partido "em que Estados falam uma linguagem contrária ao que o partido faz nacionalmente". "Discordar é importante, debater é importante. Mas não queremos ter pessoas implodindo o partido e fazendo ações deliberadas para atacar o presidente da República. Quem age desse jeito, deveria procurar outro partido", afirmou.

Recentemente, o partido expulsou a senadora Kátia Abreu (TO), que permaneceu leal à ex-presidente Dilma Rousseff até o impeachment que levou Michel Temer ao poder e que manteve postura de oposição ao governo do pemedebista. Outras lideranças, como os senadores Roberto Requião (PR) e Renan Calheiros (AL) seguem fazendo críticas abertas ao governo Temer.

Outro senador pemedebista, Eduardo Braga já sentiu neste ano, quando disputou uma eleição fora de época ao governo do Amazonas, o peso de ter se posicionado contra o governo em temas como a reforma trabalhista.

Assessores próximos a ele disseram ter tido dificuldades para cobrir despesas básicas no final da campanha, por conta de um dinheiro que Jucá supostamente havia prometido e que jamais chegou. Sobre isso, Jucá tem alegado que se esforçou "ao máximo" para conseguir a liberação das verbas, mas que não conseguiu - uma história que não convenceu Braga.

Braga, Renan e Requião, entretanto, não temem ter o mesmo fim de Kátia Abreu, dada sua força nos Estados. "A chance de isso acontecer é igual a zero ", diz um auxiliar do senador paranaense.

O evento de ontem, em Brasília, serviu também como oportunidade para Temer e seus auxiliares mais próximos rebaterem as declarações dadas pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em declaração ao jornal "Folha de S. Paulo" no último fim de semana, Maia disse que o candidato da base, a favor das reformas, não precisa tatuar "eu sou Michel Temer" na testa.

Além de citar os projetos que ele, sua equipe de ministros e a base aliada no Congresso levaram adiante, Temer destacou as próximas propostas que pretende emplacar: as reformas da Previdência e tributária. "Não esqueçam da reforma da Previdência, que é o tema do momento, que estamos enfrentando e vamos levar adiante. Depois disso, faremos a simplificação tributária", sinalizou Temer.

O presidente afirmou ainda que, desde que chegou ao comando do Palácio do Planalto, está levando à risca tudo que estava previsto no programa "Ponte para o Futuro". De acordo com Temer, as pessoas leram o programa com uma certa descrença, porque acreditavam que não era possível conseguir cumprir o que estava proposto. "Quando assumimos a presidência da República, levamos adiante o programa", disse Temer, destacando a ousadia que marcou, na avaliação dele, a história do partido. "PMDB se renova nas suas concepções e sempre pautado na ideia da coragem e da ousadia".

Jucá, por sua vez, afirmou que "Nós temos que ter a determinação para termos o carimbo político do MDB nessas ações que o presidente está fazendo". "O presidente Michel Temer está construindo um legado para o nosso país. Todas as ações estão pautadas nas eleições do próximo ano e nós temos que defender esse legado. Nós estaremos defendendo esse legado", afirmou.