Valor econômico, v. 18, n. 4404, 19/12/2017. Empresas, p. B1.

 

 

Petrobras fecha venda de US$ 2,9 bi

André Ramalho, Rafael Rosas e Rodrigo Polito

19/12/2017

 

 

A Petrobras fechou ontem acordo para vender fatia de 25% no campo de Roncador, na Bacia de Campos, para a Statoil, por US$ 2,9 bilhões. A operação, a primeira envolvendo a entrada de sócio em projetos de recuperação de áreas maduras no pós-sal, é o terceiro negócio fechado em um mês.

Ao longo dos últimos 30 dias, a petroleira anunciou US$ 4,45 bilhões em parcerias e venda de ativos - montante que representa 21% da meta da Petrobras de levantar US$ 21 bilhões entre 2017-2018. Num ano marcado pela reestruturação da sistemática de seu programa de venda de ativos, após exigências do Tribunal de Contas da União (TCU), a Petrobras acelerou o passo neste fim de ano e firmou desde novembro, para além de Roncador, a alienação de 100% do campo de Azulão, no Amazonas, para a Eneva (US$ 54,5 milhões); e a abertura do capital da BR Distribuidora, que levantou R$ 5 bilhões (US$ 1,5 bilhão).

Roncador, Azulão e BR foram as primeiras operações firmadas em 2017. Após anunciar negócios de US$ 13,6 bilhões no biênio 2015-2016, a Petrobras não conseguiu manter o ritmo do plano de venda de ativos ao longo deste ano, em meio às contestações a algumas das operações na Justiça e no TCU. A determinação do tribunal para que a companhia revisse sua sistemática acabou levando a empresa a cancelar alguns negócios em andamento, como a venda dos campos de Baúna e Tartaruga Verde, para a Karoon, por exemplo.

Durante o ano, a Petrobras se concentrou em revisar a carteira de ativos colocados à venda. Atualmente, ela tem uma série de ativos em fase de desinvestimentos: são cerca de 70 campos terrestres; 31 campos de águas rasas; o ativo de distribuição no Paraguai; a Transportadora Associada de Gás (TAG); unidades de fertilizantes; ativos de exploração e produção na África; e a produtora de biodiesel BSBios.

A expectativa é que a Petrobras tenha de acelerar as negociações em andamento, em 2018, para entregar ao mercado o cumprimento da meta. Além dos ativos em negociação, a Petrobras espera também avançar com algumas das negociações fechadas em 2016, mas que ainda não obtiveram as autorizações dos órgãos competentes. Ao todo, dos US$ 13,6 bilhões fechados no biênio 2015-2016, US$ 7,8 bilhões haviam entrado no caixa da estatal até setembro.

Falta resolver algumas pendências no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), como a obtenção do aval para venda da PetroquímicaSuape e da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), para a Alpek; e da Liquigás, para a Ultragaz.

Ontem, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, se disse otimista com o cumprimento da meta de venda de US$ 21 bilhões entre 2017/2018. O executivo destacou, ainda, que o acordo com a Statoil permitirá à estatal brasileira utilizar em outros campos a tecnologia que a norueguesa pretende aplicar para aumentar a recuperação de petróleo em Roncador.

"Parceria estratégica é a que adiciona valor para os dois lados e essa parceria vai adicionar valor não apenas nesse ativo, mas em todos os ativos da Petrobras", afirmou, em cerimônia de assinatura do acordo com a Statoil, na Noruega.

A busca de sócios para projetos de revitalização de campos maduros é tida pela brasileira como essencial para conter o ritmo de declínio da produção, que exige investimentos vultuosos. Este ano, a produção média da Petrobras na Bacia de Campos é de 1,228 milhão de barris/dia (até novembro), o que representa uma queda de 26% frente a 2010.

Terceiro maior campo do país, Roncador tem reservas estimadas em mais de 1 bilhão de barris recuperáveis. Com a parceria com a Statoil, a ambição é aumentar o fator de recuperação do ativo em pelo menos 5%, o que pode aumentar em mais 500 milhões barris o volume recuperável de Roncador.

A Petrobras manterá a posição de operadora do campo e uma participação de 75% no ativo. Os investimentos futuros em Roncador, contudo, serão realizados na proporção 2 para 1 - a Statoil assumirá até US$ 550 milhões adicionais a sua fatia na concessão.

Segundo o Santander, considerando a reserva existente no campo de 1 bilhão de BOE, a Statoil pagará US$ 9,40 por barril. Se contabilizada a recuperação adicional prevista, de 500 milhões de barris, a avaliação de Roncador, na negociação, cai para US$ 7,7/BOE.