Valor econômico, v. 18, n. 4406, 21/12/2017. Brasil, p. A4.

 

 

Déficit externo em 2018 deve ser inferior a 1% do PIB

Alex Ribeiro e Edna Simão

21/12/2017

 

 

O Banco Central (BC) melhorou a sua projeção para o déficit em conta corrente em 2018, que deverá ser inferior a 1% do Produto Interno Bruto (PIB), em virtude sobretudo do impulso nas exportações provocado pelo crescimento da economia mundial. As projeções oficiais divulgadas ontem indicam déficit em conta corrente de US$ 18,4 bilhões em 2018, equivalentes a 0,88% do PIB. Houve uma melhora significativa em relação ao déficit de US$ 30 bilhões previsto pelo BC em setembro, que equivaliam a 1,42% do PIB.

A perspectiva segue sendo de aumento do déficit em relação ao déficit de US$ 9,2 bilhões previsto para 2017, equivalentes a 0,45% do PIB, em virtude da retomada gradual da economia, que deve puxar importações, serviços como viagens internacionais e remessas de lucros e dividendos.

Mas, graças a um novo impulso nas exportações, o aumento do déficit em conta corrente no próximo ano tende a ser mais suave do que inicialmente o previsto, mantendo em esse indicador em níveis confortáveis para atravessar o período eleitoral e uma eventual mudança de humor nos mercados internacionais.

De setembro para cá, as perspectivas de retomada da economia melhoraram, consolidando as projeções do mercado de que a economia vá crescer 1% em 2017 e perto de 3% em 2018. Apesar disso, nesse período o BC não alterou, de forma substancial, suas projeções para itens do balanço mais sensíveis à atividade econômica.

A projeção para as importações em 2018 foi revista levemente para baixo, de US$ 167 bilhões para US$ 166 bilhões. Foram mantidas inalteradas as previsões para gastos líquidos com turismo internacional (US$ 17,3 bilhões), transportes (US$ 5,6 bilhões) e remessas de lucros e dividendos (US$ 25,5 bilhões).

As estimativas do BC para as exportações em 2018, porém, tiveram uma melhora de US$ 7 bilhões, chegando a US$ 225 bilhões. O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, explica que essa revisão se deve às exportações maiores do que a esperada efetivamente apuradas nos últimos meses, que aumentaram o ponto de partida para o aumento dos embarques externos no próximo ano.

Rocha diz que há dois aspectos importantes nas projeções do BC. "Quando se compara a projeção para 2018 com a de 2017, há um aumento do déficit em transações correntes em função da retomada da atividade econômica no pais", afirma ele. "Quando comparamos as projeções para 2018 feitas em setembro e agora, há uma redução no déficit esperado causada pelo desempenho da balança comercial, que surpreende positivamente. "

O déficit em conta corrente é um dos mais importantes indicadores de solvência externa. Ele é formado basicamente pelo comércio exterior (exportações menos importações), pelos serviços (turismo internacional, fretes e aluguel de equipamentos, entre outros) e remessas de rendas (lucros, dividendos e juros).

Quando o país gasta mais do que recebe nas transações com outros países, é obrigado a atrair capitais sob a forma de empréstimos e investimentos para cobrir a diferença, ou se desfazer de ativos no exterior. Em geral, economistas consideram seguros déficits abaixo de 3,5% do PIB,

Do lado do financiamento externo, o BC manteve praticamente inalteradas as projeções para 2018. Os ingressos de investimentos diretos no país foram mantidos em US$ 80 bilhões, o fluxo líquido de ações em US$ 5 bilhões e equilíbrio entre ingressos e saídas de aplicações em títulos de renda negociados no mercado doméstico.

Em novembro, o déficit em conta corrente somou US$ 2,388 bilhões, acima do US$ 1,5 bilhão previsto pelo BC e também maior do que os US$ 718 milhões apurados em novembro de 2016. Mas em dezembro o BC espera um déficit de US$ 3,8 bilhões, que seria menor do que os US$ 5,9 bilhões apurados no mesmo mês de 2017. O BC estima ingressos de US$ 10 bilhões em investimentos diretos no país nesse mês.

De janeiro a novembro, o resultado negativo acumulado, de US$ 5,418 bilhões, é menos de um terço dos US$ 17,649 bilhões apurados em igual período do ano passado. A queda expressiva no déficit em conta corrente foi puxada pela ampliação do superávit comercial, de US$ 40,834 bilhões para US$ 59,389 bilhões entre os onze primeiros meses de 2016 e de 2017.