O Estado de São Paulo, n. 45319, 15/11/2017. Política, p. A8.

 

Temer liga troca ministerial à Previdência

 Vera Rosa / Tânia Monteiro / Igor Gadelha

15/11/2017

 

 

Presidente pretende definir trocas com os partidos, mas só deve entregar os cargos depois da votação

 

 

O presidente Michel Temer decidiu condicionar a nova distribuição de cadeiras no Ministério aos votos dados pelos aliados para a reforma da Previdência. Interessado em aprovar na Câmara mudanças no regime de aposentadoria até meados de dezembro, Temer quer deixar as trocas na equipe acertadas, mas só entregar cargos para o Centrão ou outras siglas após a votação. A saída do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), abriu caminho para o presidente acelerar a reforma ministerial. Araújo pediu demissão anteontem em meio ao racha do PSDB, que tende a desembarcar do governo. Os tucanos controlam outras três pastas (Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos) e devem deixar a equipe. O Palácio do Planalto avalia que, se a Câmara não aprovar a reforma da Previdência até o fim deste ano – deixando para o Senado votar em fevereiro –, nada mais passará em 2018, ano eleitoral. Líderes de bancadas aliadas criticaram a intenção do Planalto de antecipar para dezembro a substituição dos ministros que serão candidatos. Pela lei, quem vai disputar as eleições tem até abril para se desincompatibilizar.

O presidente Michel Temer decidiu condicionar a nova distribuição de cadeiras nos ministérios aos votos dados pelos partidos aliados para a reforma da Previdência. Empenhado em aprovar na Câmara mudanças no regime de aposentadoria até meados de dezembro, Temer quer deixar as trocas na equipe acertadas, mas só entregar efetivamente cargos para o Centrão ou outras siglas após conferir o painel de votação.

O governo aposta suas fichas na aprovação da proposta, mesmo que seja modificada. Considerada por setores econômicos a mudança estrutural mais importante, a reforma da Previdência enfrenta forte resistência no Congresso. O texto inicial, mais ambicioso, precisou ser desidratado. Atualmente, a negociação se concentra em fixar idade mínima para a aposentadoria e unificar as regras do funcionalismo público com as da iniciativa privada.

A saída do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), abriu caminho para o presidente acelerar a reforma ministerial. Araújo pediu demissão anteontem em meio ao racha do PSDB, que tende a desembarcar do governo. Os tucanos controlam outras três pastas (Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos), mas todos os ministros deverão deixar a equipe.

A estratégia do “toma lá dácá” foi definida para evitar surpresas de última hora. O Palácio do Planalto avalia que, se a Câmara não aprovar a reforma da Previdência até dezembro – deixando para o Senado votar em fevereiro –, nada mais passará em 2018, ano eleitoral. Por se tratar de uma emenda constitucional, o texto terá de ser aprovado – em duas votações – por, pelo menos, 308 deputados.

Com orçamento de R$ 10,1 bilhões, o Ministério das Cidades é cobiçado não apenas pelo PP, mas também pelo PMDB, PSD e DEM, que já começaram a brigar pelo espaço. O mais cotado para comandar Cidades é o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, indicado pelo PP.

Temer, porém, avalia dividir o controle das secretarias de Saneamento e Habitação entre o PP e o PMDB. Pela negociação, não haverá “porteira fechada”, termo que, no jargão político, significa distribuir todos os cargos de um ministério a uma só sigla.

Há oito dias, o PP deu um ultimato ao Planalto e ameaçou paralisar as votações na Câmara se os tucanos não saíssem do governo e se o espaço do partido não fosse ampliado. O presidente concorda em entregar Cidades para o PP, mas quer ver se a sigla cumpre a promessa de votar a favor da reforma da Previdência.

 

Candidatos. Líderes de bancadas aliadas criticaram ontem a intenção de Temer de antecipar para dezembro a substituição dos ministros que serão candidatos. Pela lei, quem vai disputar as eleições deve se desincompatibilizar até abril de 2018.

Se levada adiante pelo presidente, a decisão prejudicará ministros que não possuem mandatos, entre eles Gilberto Kassab (Ciência e Comunicações) e Marcos Pereira (Indústria). Fora do primeiro escalão, eles também ficam sem foro privilegiado e, caso sejam denunciados, terão de ser julgados na 1.ª instância. Ambos são citados por delatores da J&F.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a intenção de Temer, dizendo que pode atrapalhar a recuperação econômica do País e até mesmo o ambiente político. “Olhando de longe, acho que vai parar o governo. Trocar todos os ministros no final do ano, momento em que as ações mais importantes estão em andamento, vai dar um freio na execução de bons projetos”, avaliou Maia, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

A opinião é compartilhada pelo líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB). “Será uma quebra de rito desnecessária e prejudicial, no momento em que estamos colhendo os frutos de uma agenda em desenvolvimento”, argumentou Efraim.

Presidente licenciado do PSD, Kassab afirmou que respeitará qualquer decisão de Temer para tirar seus ministros antes do prazo, mas acha que não deve ser atingido pela reforma ministerial. Ele ainda não assumiu ser candidato. Em conversas reservadas, porém, tem demonstrado intenção de concorrer ao Senado. “Estou aguardando definição do senador José Serra (PSDB-SP) para analisar que rumo tomarei”, disse Kassab, que conversou ontem com Temer.

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), disputará a reeleição ao Senado e deve sair da equipe em dezembro. Já o tucano Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) quer concorrer a mais um mandato de deputado federal ou ao Senado, mas, neste caso, teria de migrar para o PMDB.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o “espólio dos tucanos” será dividido. “O PMDB, como o maior partido da base, seguramente deve ter mais espaço nessa recomposição”, afirmou. O PMDB quer que Padilha acumule sua função com a Secretaria de Governo até a votação da reforma da Previdência./ COLABOROU CARLA ARAÚJO

 

ESPLANADA

PMDB

6 ministérios

 

PSDB

3 ministérios

 

PP

2 ministérios

 

PSD

2 ministérios

 

PSB, PPS, PR, PTB, DEM, PV e PRB

1 ministério cada partido

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ENTREVISTA - Fernando Segovia

 

Fabio Serapião

15/11/2017

 

 

‘Alguns delegados da PF tiveram desvios político-partidários’

Fernando Segovia, diretor-geral da Polícia Federal

 

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, negou ontem que seu nome tenha sido indicado ao cargo por políticos do PMDB, entre eles o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-senador José Sarney (AP). Em entrevista, ele disse que pretende trabalhar para unir a corporação.

 

 

O sr. é apontado como apadrinhado do ministro Eliseu Padilha, do ex-senador José Sarney e do ministro do TCU Augusto Nardes. Qual sua relação com eles?

Não tenho relação nenhuma nem com o ministro Padilha nem com o ex-presidente Sarney. O ministro Nardes conheci em missão na África do Sul. Como eu era adido policial foi pedido que eu fizesse trabalho de apoio e segurança. Quando a gente voltou ao Brasil o ministro conversou com o Leandro Daiello sobre a possibilidade de eu ajudar no TCU para que fosse feito lá um gabinete de segurança institucional. O ministro Padilha eu não conheço pessoalmente. Conheci no Palácio do Planalto quando teve a confirmação da indicação. Dizer que eu sou apadrinhado do Sarney, eu não o conheci em momento algum quando estava no Maranhão, encontrei com ele uma única vez aqui em Brasília.

 

Mas sua indicação é apontada como política.

Até eu fiquei intrigado para saber como foi essa construção toda. O doutor Daiello, que estava querendo a transição, porque estava cansado, resolveu mandar uma lista para o ministro da Justiça com os nomes dos delegados que poderiam suceder-lhe. O Daiello colocou primeiro os da sua diretoria, depois superintendentes regionais e, por fim, adidos policiais. Fui o 9.º nome da lista que foi parar no Ministério da Justiça.

 

O sr. credita a quem as afirmações sobre seu apadrinhamento?

Eu credito a pessoas que não queriam me ver sentado aqui como diretor da PF.

 

O que o ministro Torquato Jardim disse ao senhor?

Ele quer o fortalecimento da PF como um todo, interna e externamente. Principalmente uma projeção maior da PF no cenário internacional, porque o crime transacional tem de ser combatido com mais força.

 

Como foi seu encontro com o presidente Michel Temer?

O presidente queria conversar sobre alguns temas da PF. A ideia é que a PF cumpra fielmente a Constituição e as leis. A gente percebe que algumas investigações da PF tiveram alguns desvios nas linhas investigativas. Alguns delegados tiveram desvios no sentido, eu diria, até político-partidários. Então há uma necessidade muito grande que a PF tenha um trabalho muito profissional.

 

Pode haver intervenção?

Digo com toda sinceridade que hoje todas as operações são blindadas.

 

Na Lava Jato houve algum tipo de atuação político-partidária?

Existem rumores, especialmente, de um grampo na época do (Alberto) Youssef e parece que a PF tem investigações na Corregedoria. Mas todas essas suposições estão sendo averiguadas. Qualquer desvio de conduta de delegado nosso nós faremos averiguação.

 

O senhor disse que pretende dar um ‘upgrade’ nas investigações de pessoas com foro...

Como há essa demanda reprimida no STF e a necessidade de que se tragam essas investigações na mesma velocidade das outras, talvez haja necessidade de reforço nessas investigações. Vamos sentar com o doutor Eugênio Ricas (novo diretor de Combate ao Crime Organizado), e ele que vai fazer essa análise.