Correio braziliense, n. 19970, 26/01/2018. Brasil, p. 7

 

Carnaval em tempos de febre amarela

Maiza Santos

26/01/2018

 

 

SAÚDE » A grande movimentação de turistas no país durante os festejos liga o alerta para a circulação do vírus. Ministro Ricardo Barros lembra a necessidade de vacinação para quem for viajar a áreas de risco ou fazer retiro em locais de mata

Depois de um ano marcado pela crise econômica, com blocos de carnaval sem recursos para sair às ruas, a folia de 2018 promete ser a melhor das últimas temporadas, de acordo com estimativas do Ministério do Turismo. Segundo a pasta, a festa terá 10,69 milhões de viajantes brasileiros e 400 mil turistas estrangeiros, que deverão injetar R$ 11,14 bilhões na economia nacional. Essa grande movimentação turística, no entanto, preocupa por causa da circulação do vírus da febre amarela em áreas de risco.

O Brasil não exige comprovação vacinal ou profilaxia para a entrada no país, mas o Ministério da Saúde sugere que deve se imunizar contra a doença quem vive em áreas com recomendação de vacinação (ACRV), bem como quem vai viajar para esses lugares. “Isso vale também para estrangeiros que queiram visitar o país, mas é importante frisar que não se trata de obrigatoriedade, e sim recomendação”, informou a pasta em nota.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, lembrou que muitos brasileiros evitam a folia e preferem participar de retiros em regiões de mata durante o período de momo. “Essas pessoas têm de se vacinar com antecedência mínima de 10 dias”, reforçou. Já o viajante que mora em área sem recomendação e vai visitar local também sem alerta de risco não precisa se vacinar.

Os casos de febre amarela registrados no país são do ciclo silvestre, ou seja, transmitido pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes no ambiente de mata e beira de rio. A última ocorrência da doença em ciclo urbano no Brasil foi em 1942, e todos os casos confirmados desde então decorrem do tipo silvestre. Portanto, os cuidados devem ser redobrados para os viajantes que se deslocarem para zonas rurais, diferentemente dos turistas que se concentrarão nos grandes centros urbanos.

A maior festa do país começa no dia 9 e vai até 13 de fevereiro. “Estamos vivendo a expectativa de ter o melhor carnaval da história para o setor turístico, e as previsões de números de viajantes e de movimentação financeira comprovam isso”, afirmou o ministro do Turismo, Marx Beltrão. “É resultado de um trabalho que vem sendo feito para preparar cada vez mais os destinos para receberem os visitantes de todo o Brasil e do mundo, com a melhoria de infraestrutura e qualificação dos serviços.”

Responsáveis por 65% de toda a movimentação financeira do período, cerca de R$ 7,4 bilhões, os destinos preferidos são Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Olinda. A expectativa é de que as vendas de pacotes de viagens aumentem 15% em relação ao mesmo período de 2017, segundo dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). Além das cidades conhecidas pela agitação, Foz do Iguaçu (PR) e cruzeiros estão na lista dos mais buscados.

Preparação

Considerado o maior bloco carnavalesco do mundo pelo Guiness Book, o Galo da Madrugada está comemorando 40 anos de desfiles. A agremiação terá como tema o folclore e a cultura pernambucana. O bloco sairá às ruas em 10 de fevereiro, com 30 trios elétricos e seis alegorias.

“Estamos redobrando a atenção com segurança e escolhendo artistas que representem o que foram esses 40 anos, a evolução dos compositores, que contribuíram muito. A ideia é fazer um resgate da nossa história”, explica Rodrigo Menezes, vice-presidente do Galo da Madrugada. Serão 80 fantasias diferentes, e a ideia é fazer uma viagem no tempo.

No Rio de Janeiro, o mais antigo bloco de rua, o Cordão da Bola Preta, está completando 100 anos de existência. Em comemoração, foi lançada uma camisa com arte do cartunista Ziraldo: um desenho com 100 bolinhas pretas. No desfile, a história do centenário será relembrada, trazendo fantasias que marcaram época. Além disso, o ano inteiro será marcado por eventos comemorativos.

Frase

"Isso vale (vacinação) também para estrangeiros que queiram visitar o país, mas é importante frisar que não se trata de obrigatoriedade, e sim recomendação”

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Rio e São Paulo têm dia D de vacinação

Letícia Cotta

26/01/2018

 

 

Ontem foi o dia D de vacinação contra febre amarela em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em território paulista, foram imunizadas apenas as pessoas que residem nas áreas de risco e receberam em casa as senhas entregues pelos agentes de saúde. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, 200 mil senhas foram distribuídas nos 20 distritos que integram a campanha. Mesmo assim, muita gente desinformada procurou os postos de atendimento em busca da dose.

Além dos 20 distritos, serão distribuídas doses fracionadas em 53 cidades. A previsão da Secretaria de Saúde é imunizar 9 milhões de pessoas no estado, três milhões apenas na capital.

No Rio de Janeiro, houve filas em postos de atendimento. Algumas pessoas começaram a chegar às unidades por volta das 4h30. A Secretaria de Saúde do estado estima que 7,7 milhões receberão a dose fracionada, e 2,4 milhões, a integral.

O Ministério da Saúde repassará para São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia R$ 54 milhões em recursos extras para auxílio na realização das campanhas. A vacinação em território paulista ocorrerá até 17 de fevereiro; e no estado fluminense, até 7 de fevereiro. Na Bahia, a imunização ocorrerá entre 19 de fevereiro e 9 de março.

O infectologista José David Urbaez ressalta a importância de o público levar os cartões de vacinas. “Eles são necessários para evitar confusão entre quem precisa da fracionada ou da completa”, diz.

Macacos

O especialista também destaca a importância dos macacos em meio ao surto de febre amarela. Ele lembrou que os primatas não são os vilões da história, como muitos imaginam, pois não transmitem a doença. Ao contrário. A morte deles nos serve de alerta. “O macaco é uma excelente maneira de fazermos vigilância e ficarmos atentos para os locais onde o vírus anda circulando”, explica. “O problema agora é que a febre amarela está onde não havia circulação e tem ampliado seu território.”

Agredir ou matar os primatas é crime ambiental, conforme prevê a Lei nº 9.605/98, que estabelece detenção de seis meses a um ano e multa “para quem matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, em desacordo ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente”. Espécies ameaçadas de extinção, no entanto, aumentam em 50% a pena do agressor. Se a espécie for encontrada morta ou doente, é necessário ligar para o Disque Saúde (136) ou informar o serviço de saúde do município/estado. Em caso de maus-tratos, o Ibama recebe as denúncias por meio do telefone 0800-618080.