O Estado de São Paulo, n. 45311, 07/11/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

Tasso Jereissati amplia apoio no PSDB

Senador e Perillo se encontram hoje em busca de um acordo para presidência da sigla; grupo de economistas manifesta adesão a atual interino

Por: Sonia Racy / Pedro Venceslau

 

Sonia Racy

Pedro Venceslau

 

Faltando pouco mais de um mês para a convenção nacional do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido, recebeu ontem o apoio de economistas ligados à legenda e do líder do diretório paulista da sigla, Pedro Tobias, para disputar a presidência tucana. A convenção que definirá a nova cúpula partidária será realizada no dia 9 de dezembro.

Os anúncios fortalecem Tasso no momento em que ele e o governador de Goiás, Marconi Perillo, acirram a disputa pelo comando da legenda. Em um “manifesto público”, os economistas Luiz Roberto Cunha, Persio Arida, Edmar Bacha, Elena Landau e o cientista político Bolívar Lamounier defenderam a posição do senador cearense de entregar os cargos de tucanos no governo federal.

“Mais do que nomes ou correntes partidárias, o que está em jogo é a postura que se requer do partido diante do governo Temer. O PSDB não deve participar de um governo que não parece ter se comportado de acordo com os preceitos éticos na condução dos assuntos de interesse público. Ninguém melhor do que Tasso Jereissati para liderar esse processo de renovação das ideias de que o País tanto precisa”, diz o texto.

Tasso também tem o apoio majoritário do diretório paulista do partido, que levará para a convenção nacional o maior número de delegados. “São Paulo tem mais simpatia pela candidatura do Tasso. Nessa crise do PSDB ele é o nome certo, já que está desde o começo atuando para o partido sair do governo”, disse o deputado estadual Pedro Tobias. No próximo domingo, Tobias deve ser reeleito presidente do PSDB paulista.

 

Encontro. Tasso e Perillo devem se encontrar hoje em Brasília e dar a largada oficial na disputa pela presidência da sigla. Os dois tucanos tinham marcado uma reunirão na sede do partido com os 24 deputados da bancada que votaram pela admissibilidade da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. O encontro, porém, foi adiado e deve ocorrer na semana que vem.

A iniciativa da reunião foi de Perillo. Apesar de ter o apoio da ala “governista” do PSDB, os chamados “cabeças brancas”, ele tenta se aproximar dos “cabeças pretas” e, por isso, passou a defender a entrega pelo partido dos cargos no governo em dezembro. Essa tese ganhou força internamente após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avaliar que o PSDB se tornará “coadjuvante” se não desembarcar na convenção, conforme publicado em artigo anteontem no Estado.

Segundo aliados, Tasso deve aproveitar a conversa com Perillo para formalizar a intenção de concorrer à presidência do partido. “Pode ser que desse encontro saia um acordo entre eles. Esse é o nosso empenho”, disse o deputado Ricardo Tripoli (SP), líder do PSDB na Câmara.

Segundo a assessoria de imprensa de Perillo, ele tem, pela manhã, reunião na residência oficial do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). Depois, reservou o período da tarde para conversar com parlamentares.

Na semana passada, Perillo esteve reunido com Tasso e o senador José Serra (SP) para formalizar a sua candidatura. Na ocasião, sinalizou apoio ao movimento pró-desembarque. Como informou a Coluna do Estadão, o grupo pró-Tasso vai tentar convencer Perillo a desistir da candidatura com o argumento de que ele já tem 24 dos 46 votos da bancada do partido na Câmara.

Já o “time” de Perillo fará o mesmo movimento, mas com a justificativa de que Tasso tem de concorrer ao governo do Ceará para garantir palanque à candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao Palácio do Planalto. Se Tasso perder e Alckmin ganhar, ele viraria ministro.

 

Divisão. Já na primeira convenção para eleger as Executivas estaduais do partido, no domingo passado, em Pernambuco, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, foi reeleito presidente. Com isso, Tasso perdeu um apoio importante. As Executivas estaduais vão eleger a nova Executiva Nacional tucana.

Após a eleição de Araújo, no entanto, o líder dos “cabeças pretas” na Câmara, deputado Daniel Coelho (PE), acusou o ministro de perseguição por suas posições contra Temer. Araújo se defendeu dizendo que o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), que é do mesmo grupo de Coelho, contrário ao governo Temer, foi eleito secretário-geral do PSDB de Pernambuco./ COLABORARAM RENAN TRUFFI e JULIA LINDNER

 

Tucanos. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito João Doria participam de cerimônia no Bandeirantes

 

 

 

 

 

 

Alckmin diz não ter ‘nenhuma pretensão’ de presidir legenda

Por: Pedro Venceslau / Marcelo Osakabe

Apontado por deputados tucanos e aliados como opção para presidir o PSDB e assim evitar um racha no partido, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou ontem não ter a intenção de disputar o comando da legenda na convenção marcada para 9 de dezembro.

Alckmin sugeriu a divisão do comando da legenda entre o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Goiás, Marconi Perillo, que pleiteiam o cargo. “Não tenho nenhuma pretensão de presidir o partido. Todo o esforço é para unir o PSDB. Por que os dois não participam da direção partidária?”, questionou, após participar de cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, na qual foi assinado o compromisso da realização do Fórum Econômico Mundial para a América Latina na capital paulista, em 2018. Também presente, o prefeito João Doria (PSDB) evitou falar sobre o partido./ P.V. e MARCELO OSAKABE

 

 

 

 

 

 

 

Não tenho obsessão de ser presidente’, afirma Meirelles

Ministro diz que foco é o crescimento do País, mas que, ‘no futuro’, verá ‘a melhor forma de servir’ ao Brasil
Por: Lorenna Rodrigues / Thaís Barcellos

 

Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

Thaís Barcellos

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, voltou a afirmar ontem que tem a “total consciência” de que é presidenciável para 2018. Em entrevista à rádio Band News, ele disse, no entanto, não ter o “desejo específico” de comandar o Palácio do Planalto. “Não tenho, como alguns políticos, obsessão de ser presidente da República”, afirmou o titular da Fazenda.

Meirelles ressaltou que, por enquanto, está focado no crescimento do País e na geração de empregos no Brasil. “Não posso descartar nada, até porque preciso gastar tempo pensando nisso”, disse o ministro à rádio. “No momento, estou concentrado em colocar o País de volta ao crescimento. No futuro, vamos ver qual é a melhor maneira de servir ao País.”

Questionado sobre a declaração à revista Veja no fim de semana de que é presidenciável, Meirelles afirmou que a pergunta foi “sutil”. “Disse que sim, que tenho consciência, porque as pessoas me dizem isso todo dia, sejam políticos, sejam pessoas que encontro na rua. Tenho total consciência de que existe uma expectativa na sociedade.”

O ministro afirmou ainda que tem dedicado parte da sua vida ao serviço público e lembrou que foi convidado duas vezes a ser candidato a presidente da República e não aceitou. “Não tenho nenhum problema em relação a isso”, disse Meirelles. “Não tenho minha atenção desviada para o próximo ano. Se no ano que vem a missão já tiver sido cumprida, a etapa seguinte é pensar nessa oportunidade.”

Ainda ontem, em entrevista à TV Bandeirantes, o ministro da Fazenda manteve o discurso de que está focado em seu trabalho no ministério. “O futuro, 2018, fica para 2018. Não fico pensando em 2018”, disse. “Não posso descartar a candidatura à Presidência da República, porque teria que pensar nisso e estou totalmente focado na economia.”

 

Cavalo. Durante a entrevista à rádio, o apresentador brincou: “Se o cavalo passar encilhado, o senhor monta”. Meirelles apenas riu. O ministro também declarou que, apesar da redução da taxa de desemprego nos últimos meses, “não é possível o País viver com o número atual de desempregados” – no trimestre encerrado em setembro, havia 13 milhões de desocupados no Brasil, com taxa de desemprego de 12,4%, segundo o levantamento mais recente divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Se no próximo ano o País estiver crescendo, terei gratificação de dever cumprido”, disse.

Meirelles ainda afirmou que recebeu manifestação de apoio e engajamento de mais de 40 parlamentares.

 

Reformas. Durante a entrevista na TV, o ministro voltou a reforçar a importância da reforma da Previdência para o crescimento sustentável do Brasil. “Os gastos com a Previdência já estão em 50% do Orçamento e, em alguns anos, pode chegar a 80%.” Ele reafirmou que o processo de mudança proposto pela reforma é “bastante suave”, com transição em 20 anos.

Sobre a reforma trabalhista, Meirelles disse que é importante para aumentar a produtividade e estimular a criação de empregos. “A expectativa é de que, com a reforma trabalhista, sejam criados seis milhões de empregos no País.”

 

 

 

 

 

Para Gleisi, PT fará aliança com o ‘povo’ e a centro esquerda

Em nota, presidente do partido reage à fala do pré-candidato ao governo de SP Luiz Marinho, que defendeu rever restrição
Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), divulgou ontem um texto em suas redes sociais no qual defende a decisão da direção do partido que restringe a política de alianças petista às legendas e grupos de esquerda. O texto é uma reação à entrevista ao Estado do presidente do PT-SP e pré-candidato ao governo paulista, Luiz Marinho, para quem a proibição deve ser revista.

“O PT tem sua aliança política com o povo brasileiro, suas lutas e conquistas. A aliança eleitoral para eleger Lula em 2018 tem de ser construída com setores progressistas da sociedade e com a centro esquerda, baseada na reconstrução do Estado brasileiro e na revogação dos retrocessos implementados por esse governo golpista”, diz o texto.

Gleisi inclui no leque de alianças indesejadas as “forças” que apoiaram a reforma trabalhista, a emenda que estabeleceu um teto para os gastos públicos, a revisão do sistema de exploração do pré-sal e as privatizações do governo Michel Temer.

Na prática, a entrevista de Marinho ao Estado desencadeou o debate interno no PT sobre a política de alianças a ser adotada no ano que vem. No entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a opinião corrente é de que Marinho apenas verbalizou o que boa parte do partido já pensa, mas foi precipitado.

A corrente interna de esquerda, Democracia Socialista (DS), publicou uma nota na qual reforça a decisão tomada pelo 6.º Congresso Nacional do PT, instância máxima do partido. “A política de alianças deve aglutinar quem partilhe de uma perspectiva anti-imperialista, antimonopolista, anti-latifundiária e radicalmente democrática. Aponta para um governo encabeçado pelo PT, Lula presidente, com partidos, correntes e personalidades que estabeleçam compromisso programático dessa natureza”, afirma.

 

Estados. A corrente aborda ainda a decisão do PT de Alagoas de voltar a integrar o governo de Renan Filho (PMDB). “Em Alagoas, assim como em outros Estados, é preciso reconstruir o PT com independência de classe, ao lado dos movimentos sindicais e populares, com programa e alianças de esquerda”, diz a DS. Além de Alagoas, o PT negocia alianças com o PMDB em ao menos outros cinco Estados: Minas Gerais, Ceará, Piauí, Sergipe e Paraná (berço eleitoral de Gleisi).

Diante da forte repercussão interna da entrevista, o próprio Marinho divulgou nota no fim de semana na qual diz que a candidatura de Lula não vai precisar de alianças fora do campo da esquerda e descarta uma coligação com o PMDB em São Paulo, mas reitera que há exceções.

“Acredito que o presidente Lula é maior e não precisará de nenhuma aliança com golpistas para a defesa do seu legado e restabelecer direitos e a democracia no País. Disse também que caberá à direção nacional, no tempo adequado, tratar das diversas contradições regionais, a exemplo do senador Roberto Requião, do PMDB, do Paraná, e diversos outros exemplos no Nordeste”, afirmou.

Segundo Gleisi, o debate interno sobre política de alianças é livre no PT e o martelo será batido no “momento adequado”. Para o ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça Tarso Genro, a posição de Marinho pode levar o PT a repetir erros. “Acho que esta posição nos leva a repor as mesmas possibilidades de erro, que levaram o governo Dilma ao impasse e ao impeachment.”

 

Reação. Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT

 

Defesa

“O PT tem sua aliança política com o povo brasileiro, suas lutas e conquistas.”

Gleisi Hoffmann

SENADORA (PR) E PRESIDENTE DO PT