O Estado de São Paulo, n. 45318, 14/11/2017. Política, p. A6.

 

PP avança sobre Ministério das Cidades

Igor Gadelha / Vera Rosa

14/11/2017

 

 

Sigla com 4ª maior bancada e integrante do Centrão reivindica pasta deixada por tucano; presidente da Caixa e líder do governo são cotados
 
 

Dono da quarta maior bancada da Câmara, com 45 deputados, o PP intensificou ontem a pressão para indicar o substituto de Bruno Araújo (PSDB-PE) no Ministério das Cidades e ampliar o espaço do partido no governo Michel Temer. Integrantes da cúpula da legenda querem emplacar o atual presidente da Caixa, Gilberto Occhi, mas interlocutores de Temer no Palácio do Planalto defendem o nome do líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

O PP não abre mão de manter o comando da Caixa e dos Ministérios da Agricultura e Saúde. Caso Occhi vá para Cidades, o partido quer indicar o substituto no banco. Se o Planalto não aceitar, outro nome técnico para a pasta é o do economista Carlos Vieira. Paraibano, ele já foi secretário executivo das Cidades e da Integração Nacional.

Occhi já foi ministro das Cidades durante o segundo mandato da presidente cassada Dilma Rousseff (PT). Ele ficou no cargo entre março de 2014 e abril de 2016, véspera da votação do impeachment da petista na Câmara. De perfil técnico, ele é homem de confiança do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que esteve ontem com Temer, e sua indicação agradaria à bancada no Congresso. Como não pretende disputar as eleições de 2018, ele não precisaria deixar o ministério no início de abril. “Estou em um projeto de fortalecer a Caixa, mas sou soldado”, afirmou Occhi.

Integrante do Centrão, grupo do qual também fazem parte PR, PTB e PSD, o PP encabeça pressão para que Temer faça o mais rápido possível uma reforma ministerial para diminuir o espaço do PSDB no governo.

 

Influência. No Planalto, auxiliares de Temer dizem que o nome mais forte para substituir Araújo seria o de Aguinaldo. O argumento é de que o deputado tem influência maior sobre a bancada, o que ajudaria na busca de votos para aprovar a reforma da Previdência. O parlamentar, que passou o dia ontem na Paraíba, já teria sido, até mesmo, sondado pelo governo.

A interlocutores, porém, Aguinaldo disse não ter interesse de ir para Cidades agora, já que teria de deixar o ministério em abril para disputar eleição.

A saída de Araújo acelerou o início da reforma ministerial em busca de apoio para a reforma da Previdência na Câmara. Além do Centrão, o próprio PMDB, partido do presidente, cobra que Temer diminua o tamanho do PSDB. Até ontem, a sigla comandava quatro ministérios – Relações Exteriores, Secretaria de Governo e Direitos Humanos, além de Cidades.

 

Articulação. A bancada do PMDB na Câmara já avisou a Temer que quer a Secretaria de Governo, pasta responsável pela articulação política com o Congresso. Peemedebistas nunca aceitaram o fato de Temer ter nomeado um tucano para o cargo, o deputado licenciado Antonio Imbassahy (BA), para substituir Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Segundo um influente parlamentar do PMDB, a bancada quer indicar alguém que não vá concorrer a eleição de 2018, para que fique no cargo até o fim do próximo ano.

 

Soldado

“Estou em um projeto de fortalecer a Caixa, mas sou soldado.”

Gilberto Occhi

PRESIDENTE DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL E COTADO PARA MINISTRO DA CIDADES

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‘Sou preta, pobre, da periferia’, diz ministra

Vinicius Neder

14/11/2017

 

 

Luislinda Valois, dos Direitos Humanos, foi alvo de críticas após pleitear R$ 61,4 mil com acúmulo de salários

 

 

A ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois (PSDB), afirmou ontem, no Rio, que é “preta, pobre, da periferia”. No início deste mês, a ministra se envolveu em uma polêmica ao apresentar um pedido ao governo para acumular seu salário com o de desembargadora aposentada, o que lhe garantiria vencimento bruto de R$ 61,4 mil.

No pedido, revelado pela Coluna do Estadão, Luislinda alegava que, por causa do teto constitucional, só ficava com R$ 33,7 mil do total das rendas. Segundo ela, sua situação, “sem sombra de dúvidas, se assemelha ao trabalho escravo”. Após a repercussão, ela desistiu do pedido.

“Estou sempre às ordens. Vamos aumentar este número (de beneficiários de programas sociais) para o Rio e para o Brasil também. Como mulher preta, pobre, da periferia, conheço o que é viver longe dos grandes centros”, afirmou Luislinda ontem, ao participar com o presidente Michel Temer do lançamento do Programa Emergencial de Ações Sociais para o Estado do Rio e Municípios, em uma unidade da Marinha, na zona norte do Rio. No evento, ela não falou sobre a polêmica.

 

Carreira. Neta de escravos e filha de uma lavadeira e de um motorneiro de bonde, Luislinda teve uma infância pobre e só se formou em Direito aos 39 anos. Em 1984, por concurso, tornou-se juíza do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Em 2011, virou desembargadora.

Luislinda chegou ao governo quando Temer assumiu ainda como interino, em junho de 2016. Seu cargo era de secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Em fevereiro, assumiu o Ministério dos Direitos Humanos.

 

Programa social. Luislinda e Marcela em evento no Rio